Projeto de vida e gravidez em adolescentes : analisando sua ocorrência no contexto das relações

Abstract

Resumo: A presente pesquisa teve por objetivo a análise dos sentidos apresentados por adolescentes gestantes e seus parceiros referentes à ocorrência da gravidez, a partir de uma reflexão sobre o contexto e o momento que a precedeu, incluindo seu projeto de vida, o relacionamento com o (a) parceiro (a) e com sua família. A teoria sócio-histórica e as perspectivas de gênero e de hierarquia por idade foram adotadas como referencial teórico. Foram realizadas entrevistas clínicas semi-estruturadas com 12 adolescentes gestantes e 3 parceiros. A idade das adolescentes variou entre 12 e 19 anos, e dos parceiros entre 19 e 21 anos. A análise dos dados teve como referencial a análise de conteúdo conforme proposto por BARDIN (1977) e MYNAIO (1996). As falas dos participantes foram categorizadas tendo por base os sentidos por estas (es) apresentados quanto ao que as levou a engravidar ou a sua parceira engravidar, no caso dos rapazes. Esta forma de apresentação permitiu que os sujeitos pudessem ser comparados e analisados em relação aos demais participantes do grupo sem fragmentar suas falas, o que possibilitou também uma análise contextuai de cada sujeito em separado. As falas foram agrupadas conforme os participantes tenham relatado se queriam ou não ter um filho naquele momento. Os últimos abrangeram 5 grupos distintos englobando os seguintes motivos atribuídos a gravidez: o namorado queria que a adolescente engravidasse; a adolescente teve a relação sexual sem se prevenir e sem pensar nas conseqüências; a adolescente esqueceu de tomar a pílula; o casal confiou na tabelinha, houve uma falha no uso da camisinha. Os resultados apontaram uma grande diversidade de sentidos, os quais não implicaram em um padrão homogêneo quanto à ocorrência da gravidez, que possa ser aplicado de maneira universal a todos os adolescentes. Entre os participantes da pesquisa, um terço avaliou que a gravidez ocorreu por ter desejado ter um filho. Entretanto, foi levantada a possibilidade da presença de um desejo não consciente de que a gravidez ocorresse entre a maior parte dos participantes que haviam relatado que não queriam ter um filho naquele momento. A ocorrência da gravidez entre os participantes foi contextualizada pelo relacionamento cotidiano destes com suas famílias e com o parceiro, sendo que o último foi referido freqüentemente como tendo influenciado a gravidez. De maneira geral, a maternidade/paternidade estiveram relacionadas, mesmo que de maneira não consciente, com a perspectiva de modificar uma situação de vida pessoal ou familiar. Pode se perceber também que as ações desenvolvidas pelos participantes no cotidiano, quanto à escolaridade, ao relacionamento com o parceiro e à prevenção da gravidez, algumas vezes foram contrárias aos planos que estes tinham em relação a seu futuro. Verificou-se geralmente a ausência de oportunidades anteriores à gestação, nas quais os adolescentes pudessem refletir de maneira mais aprofundada sobre seus projetos de vida e o desejo de engravidar ou não. Os resultados apontaram para a importância do desenvolvimento de oportunidades no cotidiano, nas quais estes possam pensar, planejar e avaliar suas ações como destacado por VYGOTSKY (2000), exercendo efetivamente seus direitos reprodutivos.