Páscoa e calendário : identidades fluidas e a definição de um Computus Paschalis no Sínodo de Whitby na Britannia do século VII

Abstract

Resumo: No capítulo XXV do livro III da Historia Ecclesiastica Gentis Anglorum, Beda registrou o Sínodo de Whitby, um debate sobre a definição de uma data para a Páscoa na Britannia, ocorrido no ano de 664. Nessa ocasião, os clérigos representantes do cristianismo de Columba, de Iona, defenderam o seu computus paschalis, contra os eclesiásticos que representavam a igreja romana, que saiu vitoriosa na ocasião. Para compreender a importância desse Sínodo, o presente trabalho aborda desde os primórdios do cristianismo, a relação com o judaísmo, a querela entre quartodecimanos e dominguistas, no século II, as controvérsias nas discussões conciliares, do século IV, e uma introdução aos primeiros computus paschalis (os cálculos, as relações com o calendário e a astronomia, até a datação proposta por Dionísio, o Exíguo, no século VI). Também discute-se diversos aspectos relacionados aos grupos confrontantes em Whitby, os monasticismos da Britannia e o Irlandês, e algumas especificidades sócio-culturais. Por fim, o relato de Beda sobre o Sínodo de Whitby é analisado, destacando os principais envolvidos, o arbítrio régio e o cenário político e religioso da Britannia do século VII. Partindo das concepções de identidade e identidades fluidas, lançamos a hipótese de que o Sínodo de Whitby foi o confronto de duas identidades religiosas, que partilhavam identificações, em um ambiente de fluidez, no qual prevaleceu apenas um aspecto identitário em relação ao computus paschalis.

Abstract: In chapter XXV of book III of the Historia Ecclesiastica Gentis Anglorum, Bede recorded the Synod of Whitby, a debate over the setting of a date for Easter in Britannia, which took place in the year 664. On this occasion, the clergy representing Christianity from Columba, of Iona, defended their computus paschalis, against the ecclesiastics representing the Roman church, which was victorious at the time. In order to understand the importance of this Synod, the present work discusses from the beginnings of Christianity, the relationship with Judaism, the quarrel between Quartodecimans and Sundayists, in the 2nd century, the controversies in the conciliar discussions, of the 4th century, and an introduction to the first computus paschalis (calculations, relations with the calendar and astronomy, up until the dating proposed by Dionysius the Exiguus, in the 6th century). It also discusses several aspects related to the confrontational groups in Whitby, the Irish and Britannia monasticisms, and some socio-cultural specificities. Finally, Bede's account of the Synod of Whitby is analyzed, highlighting the main actors involved, the royal will and the political and religious scenario of Britannia inthe 7th century. Starting from the conceptions of identity and fluid identities, we hypothesized that the Synod of Whitby was the confrontation of two religious identities, which shared identifications, in an environment of fluidity, in which only one identity aspect prevailed in relation to the computus paschalis.