Potencial tóxico entre diferentes cepas do dinoflagelado Ostreopsis cf. ovata
Resumo
Resumo : Floracoes nocivas de dinoflagelados sao eventos recorrentes no ambiente marinho. Sao caracterizadas pela proliferacao rapida destas microalgas, associadas a efeitos prejudiciais ao ambiente e aos organismos que nele vivem. Dentre os dinoflagelados benticos que produzem compostos neurotoxicos, destacam-se os pertencentes ao genero Ostreopsis, capazes de produzir a palitoxina isobarica (p-PLTX) e substancias analogas, ovatoxinas (OvTX). Quando presentes em grandes quantidades durante floracoes, essas toxinas podem ser assimiladas na cadeia trofica, representando riscos para a intoxicacao de organismos marinhos, como ouricos-do-mar, e de seres humanos por via respiratoria ou alimentar. Os sintomas causados em humanos podem incluir febre, dificuldade respiratoria e conjuntivite, no caso de exposicao aerea, ate disturbios neurologicos. A especie O. cf. ovata esta presente em regioes tropicais e subtropicais do globo, incluindo a costa brasileira. Entretanto, o potencial toxico da especie pode variar com a dominancia local de subclados geneticos com maior ou menor capacidade de produzir toxinas. Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o potencial toxico de cepas (i.e. cultivos monoclonais) isoladas de diferentes pontos da costa brasileira e representativas de distintos subclados geneticos do dinoflagelado Ostreopsis cf. ovata, conforme determinado em estudo anterior, por meio da exposicao de curto prazo ao microcrustaceo Artemia sp. em bioensaios controlados em laboratorio. O protocolo de exposicao foi otimizado seguindo uma serie de testes-piloto. A toxicidade de cinco cepas foi avaliada por meio do monitoramento da mortalidade e sobrevivencia das artemias apos 1, 3, 6 e 12 horas de exposicao a 8 densidades celulares crescentes de cada cepa, comparada a um controle com microalgas nao-toxicas. A cada intervalo de tempo, os valores da concentracao de efeito nao observado (CENO), concentracao de efeito observado (CEO) e concentracao letal a 50% da populacao (CL50) foram calculados e comparados. A forma e as dimensoes celulares nao variaram significativamente entre as cepas, cujas celulas mediram, em media, 36,5-46,9 ƒÊm de comprimento por 26,6-36,4 ƒÊm de largura (n . 20 celulas por cepa). As cepas LM-129 (isolada do Parana) e LM-65 (Rio de Janeiro) foram as mais toxicas dentre as cinco comparadas, com valores de CENO e CEO identicos: 28,1 e 56,2 celulas mL-1 apos 6 h, e CEO de 7,0 celulas mL-1 apos 12 h de exposicao. Para a cepa LM-129, uma CL50 de 230 celulas mL-1 foi determinada apos 6 h e de 3,3 celulas mL-1 apos 12 h. Para LM-65, os valores estimados de CL50 foram de 215 celulas mL-1 (6 h) e 4,7 celulas mL-1 (12 h). A cepa LM-110 (Alagoas) demonstrou baixa toxicidade, causando a mortalidade de um unico individuo na maior densidade celular testada apos 12 horas, enquanto que as cepas LM-106 (Alagoas) e LM-111 (Pernambuco) nao provocaram letalidade durante o periodo de exposicao avaliado. O presente estudo demonstra a existencia de populacoes de celulas morfologicamente similares, mas com potencial toxico altamente contrastante no litoral brasileiro. Alem disso, contribui com a descricao de um protocolo simples e barato para avaliar o risco associado a toxicidade de populacoes deste dinoflagelado em locais onde ferramentas analiticas mais sofisticadas nao estao disponiveis.
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- Oceanografia [357]