Estudo sobre a ecologia dos flebotomineos da Serra do Mar, municipio de Itaguai, estado do Rio de Janeiro, Brasil, area de transmissão de Leishmaniose tegumentar (diptera, psychodidae, phlebotominae)
Abstract
Resumo: De março de 1984 a fevereiro de 1986 foi feito um estudo sobre a ecologia dos flebotomíneos, em Itaguaí, município do Estado do Rio de Janeiro, área de transmissão de leishmaniose tegumentar, visando conhecer os hábitos desses insetos e o seu papel na veiculação. As capturas foram feitas com vários tipos de iscas e armadilhas, mensalmente, por dois dias consecutivos, em três sítios de coleta: domicílio, peridomicílio e floresta. No primeiro ano as capturas foram feitas a 100 m e no segundo a 300 m do nível do mar. Foram capturados 13.546 flebotomíneos pertencentes a 17 espécies, entre as quais um a nova: Lutzomyia(Pintomyia)sp. A espécie mais freqüente da fauna flebotomínica, a 100 m do nível do mar, foi L.intermedia com amplo predomínio sobre L.migonel e L.fischeri. A 300 m a espécie mais freqüente foi L.migonei, seguida por L.longipalpis e L.fischeri. Em ambos os níveis o número de fêmeas superou o de machos. Enquanto L.longipalpis demonstrou maior equilíbrio entre os sexos, L.fischeri foi a de maior desproporção. L.interm edia e L.fischeri demonstraram alta antropofilia e, mesmo na presença de outras iscas, o homem foi o preferido. L.longipalpis mostrou pouco interesse pelo sangue humano, picando mais a galinha. L.migonei sugou o homem em proporção razoável, porém, em capturas comparativas com outras iscas, preferiu o burro, picando o homem como última opção. Quanto ao horário de hematofagia, L.intermedia teve atividade mais acentuada após as 18 h. Até as 21 h é maior o número de exemplares sugando no peridomicílio; entre 0 e 2 h a situação é inversa em relação ao domicílio. L.fischeri, numericamente inferior, demonstrou maior ecletismo quanto ao local de hematofagia, picando o homem nos três sítios de coleta e mantendo uma população considerável na floresta. L.intermedia foi amplamente predominante nos ambientes domiciliar e peridomiciliar, não sendo encontrada na floresta e comprovando, mais um a vez, sua adaptação ao ambiente alterado pelo homem. L.migonei mostrou a mesma tendência, persistindo uma pequena população desse flebotomíneo na floresta. L.longipalpis teve a maioria dos seus exemplares capturados no peridomicílio e não foi encontrada na floresta. As espécies mais importantes ocorreram mensalmente, sendo mais freqüentes no período quente e úmido - dezembro, janeiro e fevereiro - e com densidade mais baixa no trimestre mais frio e seco - julho, agosto e setembro. A avaliação da freqüência intra e extradomiciliar, mostra que a transmissão é feita a nível do domicílio e peridomicílio, principalmente porque estes locais representam 94% do total das espécies capturadas. L.intermedia pela sua prevalência e antropofilia é o principal suspeito de transmitir a Leishmania (Viannia) braziliensis na área de estudo, no entanto, não se pode desprezar a alta antropofilia e ecletismo de L. fischeri, quanto à hematofagia, que além de poder ser um vetor secundário a nível domiciliar, pode transmitir o parasita na floresta em seu ciclo enzoótico natural. Acredita-se que a presença de L. longipalpis, mesmo sem evidência de casos de calazar durante o período de trabalho, pode trazer risco à população local, especialmente pela proximidade da região estudada com outras onde ocorrem casos da parasitose. Summary: A study on sandflies ecology was performed in an area of cutaneous leishmaniasis transmission in Itaguai, Rio de Janeiro State, from March 1984 to February 1986. The research was performed to study the sandflies habits and their role in the disease transmission. The captures were made with different types of baits and traps, monthly, during two consecutive days, and in three collecting areas: domestic, peridomestic and forest. In the first year the captures were performed about 100 m above the sea-level, and in the second year about 300 m. There were captured 13,546 sandflies of 17 species; among them there was a new one: Lutzomyia(Pintomyia)sp. The most frequent species found at 100 m above the sea-level was L.intermedia, with a large prevalence over L.migonei and L.fischeri. At 300 m, the most frequent was L.migonei followed by L.longipalpis and L.fischeri. In both levels the number of females was higher than the males. L.longipalpis showed equilibrium between sex, in opposition to L.fischeri. L.intermedia and L.fischeri showed high anthropophilia and, despite other baits, the man was chosen as the best. L.longipalpis showed little interest for human blood, preferring to bite hens. L.migonei sucked man, but in comparison to other baits it preferred donkey, leaving man for final option. On hematophagy time, L.intermedia showed significant activity from 6:00 to 9:00 pm in the peridomestic site; from 12:00 am to 2:00 am the situation was inverted, in relation to domestic site. L.fischeri, although in smaller quantity, sucked man in the three collecting sites, keeping a considerable population in the forest. L.intermedia was highly predominant in the domestic and peridomestic areas and was not found in the forest. Once more it shows its easy adaptation to the environment changed by man. L.migonei also showed this tendency, but there is still a small population of this species in the forest. L.longipalpis was predominantly found in the peridomestic site and was not found in the forest. The most important species occurred monthly, but were more frequent in the hot and humid period – December, January and February – showing less density in the colder and dryer period - July, August and September. Analyzing the intra and extradomiciliar frequency, the transmission occurs in domestic and peridomestic sites, representing 94% of the total of species caught. L .intermedia, by its antropophily and prevalence, is the main suspect of transmitting Leishmania (Viannia) braziliensis in the studied area. However, concerning hematophagy, the high anthropophily and ecletism of L.fischeri must be considered, as it can be a secondary vector in the domiciliar level and can transmit the disease in its natural enzootic cicle in the forest. The presence of L.longipalpis, even showing no evidence of kalazar cases, may bring risks to the local population, specially due to the proximity of the researched area to others where cases of the reported parasitose happen.
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- Teses [186]