A receita de um filme inexistente : Lima Barreto e os debates sobre a produção cinematográfica no Brasil dos anos 1950

Abstract

Resumo: A década de 1950 é marcada por extremos no cinema brasileiro. Da euforia que caracterizou a criação de companhias com ambições industriais de produção cinematográfica no início da década, para a derrocada desse modelo já em seus meados. Partindo desse tema, a presente pesquisa discute a produção cinematográfica do período através da trajetória do cineasta Victor Lima Barreto. O cineasta ficou conhecido após o lançamento do filme "O Cangaceiro" (1953, Lima Barreto) pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Após o lançamento do filme, teve início a tentativa do cineasta de produzir o filme "O Sertanejo". Nossa problemática procura analisar como o cineasta esteve inserido na produção cinematográfica do período, em especial nas discussões em torno do que seria um "filme brasileiro". Para tal, apresentamos os principais debates ocorridos nos primeiros congressos nacionais de cinema. Investigamos o lançamento de "O Cangaceiro" e como o cineasta alcançou crescente sucesso e espaço na imprensa. Contrastamos os diálogos estabelecidos por Lima Barreto com a crítica através de seus textos na coluna "Lima Barreto em Foco", assim como em entrevistas. Avaliamos a posição do cineasta no momento que foi deflagrada a crise do cinema industrial. Por fim, examinamos as tentativas feitas pelo diretor de arrecadar fundos para financiar "O Sertanejo", filme que não chegou a existir, mas que legou um conjunto oportuno de fontes para analisarmos os debates sobre a produção cinematográfica no Brasil dos anos 1950 e a trajetória do cineasta. A pesquisa aponta as mudanças ocorridas no sistema de produção cinematográfica no período e as problematiza tomando como objeto central o caso de Lima Barreto, visto que, mesmo depois de deflagrada a crise do sistema industrial de produção que necessitava de alto investimento, o cineasta insistiu nesse modelo e nas suas convicções acerca do filme brasileiro para o projeto de "O Sertanejo" que, emblematicamente, acabou não sendo realizado.

Abstract: The 1950s were marked by extremes in Brazilian cinema. From the euphoria that characterized the creation of companies with industrial film production ambitions at the beginning of the decade, to the downfall of this model in the middle of it. Based on this theme, this research discusses the cinematographic production of this period through the trajectory of filmmaker Victor Lima Barreto. The filmmaker became known after the release of the film "O Cangaceiro" (1953, Lima Barreto) by Companhia Cinematográfica Vera Cruz. After the film's release, the filmmaker started his attempt to produce the film "O Sertanejo" began. Our problematic seeks to analyze how the filmmaker was placed in the cinematographic production of the period, especially in the discussions around what would be a "Brazilian film". For this purpose, we present the main debates that took place in the first national cinema congresses. We investigated the release of "O Cangaceiro" and how the filmmaker achieved increasing success and press space. We contrast the dialogues established by Lima Barreto with critics through his texts in the column "Lima Barreto em Foco", as well as in interviews. We assess the filmmaker's position at the time the industrial cinema crisis broke out. Finally, we examine the director's attempts to raise funds to finance "O Sertanejo", a film that was never made, but which bequeathed a timely set of sources to analyze the debates on film production in Brazil in the 1950s and the trajectory of the filmmaker. The research points out the changes that occurred in the cinematographic production system in the period and problematizes them, taking as its central object the case of Lima Barreto, since, even after the crisis in the industrial production system that required high investment, the filmmaker insisted on this model and his beliefs about the Brazilian film for the project "O Sertanejo" which, emblematically, ended up not being made.