Milícias negras nas Minas setecentistas : gênese e institucionalização (1695-1802)

Abstract

Resumo: O presente trabalho versa sobre as milícias negras mineiras nas Minas Setecentistas, mais especificamente sobre o processo de sociogênese e de institucionalização desses corpos militares ao longo do século XVIII. O século em questão foi marcado não só pela exploração do ouro e dos diamantes, como também pelo forte desenvolvimento agropecuário da capitania junto com um elevado aumento populacional da região. Esses motivos, somados ao também aumento da população africana e afrodescendente – devido à demanda do sistema escravista – teve uma conexão com mudanças que ocorreram no Mundo Atlântico a partir da sua segunda metade, com as Guerras Atlânticas, acelerando processos de institucionalização das milícias negras em Minas Gerais. O caso mineiro demonstra como a sociogênese e a institucionalização das milícias negras são elementos que estão conectados com várias tendências que ocorreram no Mundo Atlântico no decorrer desse período, como a mudança de status dos africanos e afrodescendentes ao longo do tempo e que teve uma aceleração à medida que esse século passou a contar com grupos de pressão que reivindicavam direitos para esses indivíduos. Minas Gerais, portanto, pertencia a mais um dos espaços, ou figurações sociais em que essas lutas eram travadas em conexão com várias outras partes do Atlântico. A sociogênese dessas milícias negras, dessa maneira, ocorreu ao longo do século XVIII, ao mesmo tempo em que houve também a mudança de status dos africanos e afrodescendentes na capitania; ou seja, se iniciou com tropas dispersas e até mesmo formadas por indivíduos escravizados, passando por Capitães do Mato, responsáveis pelo controle dos inimigos internos, chegando, ao final do século, em tropas estruturadas e até mesmo equiparadas a algumas regulares e com oficialato de prestígio e com Mestres de Campo com grande status social.

Abstract: This work is about the black militias from Minas Gerais in 18th century, more specifically about the process of sociogenesis and institutionalization of these military bodies throughout the 18th century. This century was marked not only by the exploitation of gold and diamonds, but also by the strong agricultural development of the captaincy together with a high population increase in the region. These reasons, added to the increase in the African and Afrodescendant population - due to the demand of the slave system - had a connection with changes that occurred in the Atlantic World from its second half, with the Atlantic Wars, accelerating processes of institutionalization of black militias in Minas Gerais. The case of Minas Gerais demonstrates how the sociogenesis and institutionalization of black militias are elements that are connected with various trends that occurred in the Atlantic World during this period, such as the change in the status of Africans and Afro-descendants over time, which accelerated as this century came to rely on pressure groups that claimed rights for these individuals. Minas Gerais, therefore, belonged to yet another of the spaces, or social figurations, in which these struggles were waged in connection with various other parts of the Atlantic. The sociogenesis of these black militias, in this way, took place throughout the 18th century, at the same time that there was also a change in the status of Africans and Afro-descendants in the captaincy in question; that is, it started with dispersed troops and even formed by enslaved individuals, passing through Bush Hunters, responsible for the control of internal enemies, arriving, at the end of the century, in structured troops and even equivalent to some regular ones and with officialdom of prestige and with Mestres de Campo with great social status.