O que os estudantes nos contam sobre as entrevistas narrativas
Abstract
Resumo: O modelo biomédico tem imperado na medicina ao longo das décadas e uma crescente demanda por romper com este paradigma tem tomado força. O primeiro contato que se faz entre médicos e pacientes normalmente acontece por meio da entrevista médica. Nesse momento, percebe-se que a escuta e o entendimento da narrativa do paciente são primordiais para um cuidado personalizado. Em consonância com essa demanda por uma mudança de modelo de cuidado, o ensino médico deve proporcionar, aos estudantes, oportunidades para tal aprendizado, e, algumas estratégias já bem fundamentadas, como as da Medicina Narrativa, podem contribuir para isso. Algumas formas de entrevista baseadas na tomada da narrativa de adoecimento podem fornecer o substrato inicial para a preparação de médicos e estudantes. Considerando que entender a história do paciente seja uma habilidade que pode ser desenvolvida durante a formação acadêmica, buscou-se neste estudo avaliar a compreensão pelo aluno de medicina sobre a narrativa do paciente, utilizando a entrevista McGill Illness Narrative Interview (MINI) durante a anamnese, em atividades do Internato de Medicina da Família. Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e qualitativo, realizado com 11 alunos do quinto ano, de uma universidade privada, no internato de Medicina de Família e Comunidade, durante o atendimento a pacientes em unidades de saúde. Foram entrevistados 29 pacientes por um período de 5 semanas, utilizando o MINI. Em seguida, foram realizados encontros individuais on-line com os acadêmicos participantes, onde questões sobre a aplicação da ferramenta foram levantadas. As falas dos alunos foram transformadas em narrativas, a partir das quais foram criados os núcleos argumentais, e foi montada uma matriz de análise com as categorias obtidas. O agrupamento dos discursos em núcleos argumentais possibilitou a correlação com o referencial teórico da Medicina Narrativa, da Antropologia Médica e da Clínica Ampliada. O estudo proporcionou uma nova experiência de entrevista clínica aos alunos e possibilitou perceber neles uma valorização da narrativa do paciente e da consequente reflexão a que chegaram sobre a importância de vários aspectos descobertos por meio do MINI. O reconhecimento da importância do cuidado individualizado esteve presente no relato dos alunos e o desejo de incorporar uma abordagem mais ampliada na sua rotina surgiu em todos os discursos, embora não contemplem incorporar o MINI na sua forma integral à prática, atribuindo a isso dificuldades na rotina produtivista do trabalho médico. Notou-se que o ensino está ainda vinculado em alguns momentos ao modelo biomédico e constatouse que o processo de ensino-aprendizagem está ancorado na vida real, fato que os alunos testemunham nos campos de estágio. Embora os dados se refiram à realidade de um único curso de medicina, observou-se uma distância entre o que se espera do ensino médico alcance e o que se observa na prática. Acreditamos que o MINI pode colaborar para a aquisição de competência interpretativa e narrativa nos alunos, colaborando com uma abordagem e uma construção de plano terapêutico personalizados. Abstract: The biomedical model has reigned in medicine over the decades and a growing demand to break with this paradigm has taken hold. The first contact that is made between doctors and patients usually happens through the medical interview. At this moment, listening and understanding the patient's narrative is primordial for personalized care. In line with this demand for a change in the care model, medical teaching should provide students with opportunities for such learning, and some wellfounded strategies, such as those of Narrative Medicine, can contribute to this. Some forms of interviewing based on taking the narrative of illness can provide the initial substrate for the preparation of physicians and students. Considering that understanding the patient's story is a skill that can be developed during academic training, this study sought to evaluate the medical student's understanding of the patient's narrative, using the McGill Illness Narrative Interview (MINI) during anamnesis, in Family Medicine Internship activities. This is an exploratory, descriptive and qualitative study, carried out with 11 fifth-year students, from a private university, in the Family and Community Medicine Internship, during patient care in health care units. Twenty-nine patients were interviewed over a period of 5 weeks, using the MINI. Afterward, individual online meetings were held with the participating students, where questions about the application of the tool were raised. The students' speeches were transformed into narratives, from which the argumentative nuclei were created, and an analysis matrix was assembled with the categories obtained. The grouping of the speeches into argument cores allowed the correlation with the theoretical framework of Narrative Medicine, Medical Anthropology, and the Expanded Clinic. The study provided a new experience of the clinical interview to the students and made it possible to perceive in them an appreciation of the patient's narrative and the consequent reflection they arrived at about the importance of several aspects discovered through the MINI. The recognition of the importance of individualized care was present in the students' reports and the desire to incorporate a more extended approach in their routine emerged in all the speeches, although they do not contemplate incorporating the MINI in its integral form into practice, attributing to these difficulties the productivist routine of medical work. It was noted that teaching is still linked in some moments to the biomedical model and it was found that the teaching-learning process is anchored in real life, a fact that students witness in the internship fields. Although the data refers to the reality of a single medical course, a gap was observed between what is expected from medical education and what is observed in practice. We believe that MINI can collaborate to the acquisition of interpretive and narrative competence in students, collaborating with a personalized approach and therapeutic plan construction.
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