Resumo: Esta tese investiga as longas estadias, internações com mais de trinta anos de duração, ocorridas no Hospital Psiquiátrico Nossa Senhora da Luz, em Curitiba, Paraná. O recorte temporal compreende o intervalo de tempo entre os anos de 1927 e 1998 porque entre tais anos ocorreu a internação mais duradoura na instituição. O dado das longas estadias trata da história do abandono institucional das pessoas comuns, sendo um elemento singular, cultural, imerso e constituído por relações de gênero, classe, raça, etnia e geração. As fontes selecionadas são variadas: dossiês clínicos, Livros de Registros de Doentes, periódicos leigos e legislação atinente ao problema da pesquisa. Por meio do estudo prosopográfico desenvolvido junto a análise de casos singulares, busquei em tais documentações compreender como as longas estadias foram possíveis, problematizando-as como uma forma para avaliar as delimitações dos papeis socialmente idealizados para homens e para mulheres nesta conjuntura. As fontes consultadas permitem compreender traços de uma lógica de enquadramento orientado pela performance "adequada" do gênero e de inteligibilidade que culturalmente (re)produziram e distribuíram de forma desigual condições de abjeção, precariedade e do que aqui foi nomeado como experiências históricas de exílios do mundo, de solidão e abandono de corpos. Concomitante, explicitam as diferentes e conflitantes versões sobre a loucura e o adoecimento mental que determinaram o destino asilar dos pacientes desta instituição, resultado da perspectiva sociocultural, médica e jurídica predominante no século XX sobre o destino dos homens e mulheres com "corpos estranhos".Abstract: This thesis investigates the long stayings, hospitalizations lasting more than thirty years, at the Nossa Senhora da Luz Psychiatric Hospital, in Curitiba, Paraná. The time frame comprises the interval between 1927 and 1998 because the longest hospitalization in the institution happened between those years. The data of long stayings deals with the history of institutional abandonment of common people, being a singular, cultural, immersed element constituted by gender, class, race, ethnicity and generation relations. The selected sources are varied: clinical dossiers, Patient Records Books, periodical journals and legislation related to the research problem. Through the prosopographic study developed alongside the analysis of singular cases, I sought in such documents to understand how long stays were possible, problematizing them as a way to evaluate the delimitations of the socially idealized roles for men and women at this context. The sources consulted allow us to understand traces of a framing logic guided by the "adequate" performance of the gender and of intelligibility that culturally (re)produced and unequally distributed conditions of abjection, precariousness and of what has been named here as historical experiences of exiles from the world, of loneliness and abandonment of bodies. Concomitantly, they explain the different and conflicting versions about madness and mental illness that determined the asylum fate of the patients of this institution, a result of the sociocultural, medical and legal perspective prevailing in the 20th century on the fate of men and women with "strange bodies".