Caracterização elementar e isotópica da matéria orgânica sedimentar do Rio Oiapoque (Fronteira Brasil - Guiana Francesa)

Abstract

Resumo : O estuário do Rio Oiapoque se localiza na fronteira Brasil – Guiana Francesa, e é caracterizado como um ambiente pristino com uma intensa descarga fluvial, de sedimentos e de matéria orgânica (MO). A MO sedimentar corresponde à biomassa presente e que alcança os ambientes marinhos, onde condições ambientais e dinâmicas das zonas costeiras influenciam estas fontes de MO. Desta forma, buscase compreender e distinguir as principais fontes de MO para os estuários, utilizando de ferramentas geoquímicas, como os indicadores da composição elementar e isotópica da MO. Neste trabalho utilizaram-se as razões elementares de COT, NT e C/N e as razões isotópicas de d 13C e d15N para determinar a composição da MO em amostras de sedimentos superficiais do estuário do Rio Oiapoque. Cerca de 8-10 mg de sedimento amostrado foram pesados e analisados, juntamente com os padrões de calibração, através de um analisador elementar Carlo Elba Flash 2000 acoplado à interface Conflo IV com um detector de espectrometria de massa de razão isotópica (Thermo Scientific Delta V Advantage Isotope ratio MS). Análises estatísticas foram realizadas (correlação de Pearson e Spearman, ACP, entre outras) onde se obtiveram os teores e devidas correlações para as razões estudadas. Em primeiro lugar observou-se a natureza orgânica da MO sedimentar coletada, as análises de COT, CIT e NT (onde NT foi correspondente a fração orgânica) apresentaram uma distribuição similar. A razão C/N apresentou, a montante do estuário, teores correspondentes ao aporte terrígeno (~ 24); a jusante, os teores estavam relacionados ao aporte marinho (~5 e 9). Os resultados foram marcados pela alta presença de mistura, predominante no centro do estuário. Para as razões isotópicas do d13C (‰) os teores apresentados foram pouco variáveis ao longo do estuário, com baixos teores de d13C (‰) (~ -27 (‰)) a montante e próximos ao deságue de rios (aporte terrestre e/ou por plantas do tipo C3). Os valores intermediários (~ -24 (‰)) (mistura) foram presentes em todo o estuário, principalmente ao centro. Quanto mais próximos à desembocadura mais altos os teores encontrados (~ -22 (‰)) (aporte marinho). A razão isotópica d15N (‰) apresentou uma variação de valores em torno de ~ 3 (‰) (provenientes de vegetais terrestres), sendo encontrados principalmente na região interna, ao centro do estuário, e em sua desembocadura onde há o deságue de rios. Assim, as características elementares e isotópicas presentes na MO sedimentar mostraram-se ferramentas fundamentais ao trabalho e permitiram a identificação e a caracterização das fontes de MO sedimentar para o estuário do Rio Oiapoque. Podendo caracterizá-lo como um estuário com influências de mistura de MO sedimentar, com a predominância de MO terrígena (maior aporte terrígeno próximo à boca do estuário e na região de deságue dos rios Uáça e Ouanary), sendo que a dinâmica estuarina (principalmente regime de chuvas e correntes de maré) influência na distribuição do aporte marinho e na mistura, que se mantém presente em todo o estuário e flui da desembocadura em direção à montante do estuário.