dc.description.abstract | Microalgas tóxicas podem afetar negativamente o ambiente marinho e os
consumidores de pescados contaminados. Assim, o entendimento da fisiologia e dos
processos relacionados à produção de toxinas em determinadas espécies de microalgas
é de fundamental importância para se prever ou até evitar futuros incidentes. A
intoxicação diarreica por consumo de mariscos (DSP) é uma das contaminações mais
comuns geradas por toxinas de microalgas, ocorrendo em todas as partes do mundo
inclusive no Brasil. Em seres humanos, é causada pelo consumo de mariscos
contaminados pelo ácido ocadaico (AO) e seus derivados, as dinofisistoxinas (DTX),
toxinas lipossolúveis produzidas por microalgas do gênero Dinophysis e Prorocentrum.
Considerando que, sob situações de estresse, algumas algas mudam seu metabolismo,
podendo favorecer a produção de lipídeos e outros metabólitos em detrimento à divisão
celular, o objetivo deste trabalho é avaliar os efeitos da limitação por nitrogênio (N) sobre
a produção de lipídeos e sua relação com a produção de toxinas na alga Prorocentrum cf.
lima. Para tanto, cultivos da microalga tóxica e de uma espécie congênere não-tóxica,
Prorocentrum mexicanum, foram estabelecidos em laboratório e amostras foram retiradas
após cerca de 34 dias em cultivo semi-estático (adição de nutrientes no início e reforço
após 16 dias) para a análise da densidade celular e do perfil e abundância de lipídeos e
toxinas lipofílicas, em situação de suficiência (controle) ou deficiência de N (sem adição
ou com adição de 1/10 da concentração controle de N). Ao longo do tempo em cultivo, foi
possível notar as influências do estresse nutricional sobre as curvas de crescimento, a
biomassa final obtida, o teor lipídico e a produção de toxinas entre os diferentes
tratamentos e espécies. A deficiência de N reduziu o crescimento das algas P. cf. lima e
P. mexicanum, que atingiram abundancias máximas de 35 e 17 ×106 células.L-1
,
respectivamente, para os cultivos controles, mas somente 19 e 15 ×106 células.L-1 nos
cultivos com 1/10 de N. Para a espécie não tóxica, a redução de nitrogênio reduziu drasticamente o peso seco médio das células de 29 para 8 ng.célula-1
, assim como o
peso de lipídeos (1,1 para 0,4 ng.célula-1
) ao final do experimento. Por outro lado, para P.
cf. lima, o peso celular teve um aumento (12,7 para 20 ng.célula-1
) enquanto o peso de
lipídeos diminuiu (2 para 1,1 ng.célula-1
) mediante redução na oferta de N. Para esta
última espécie, o conteúdo celular de toxinas variou bastante ao longo do tempo em
cultivo, aparentemente numa relação inversa à taxa de divisão celular. No início da fase
exponencial, a quota celular média de AO foi maior nos cultivos limitados em nitrogênio,
mas os valores foram aumentando à medida que as taxas de divisão celular diminuíram
(máximo de 13,5 pg.célula-1 na fase estacionária do cultivo controle), provavelmente em
resposta a uma menor disponibilidade de nutrientes no meio de cultivo ao longo do tempo.
Assim como a concentração de AO, o peso celular foi maior para os cultivos sob estresse,
sugerindo a possibilidade de haver uma correlação entre produção de AO e de
precursores lipídicos. Contudo, quando o estresse se torna muito intenso, como durante
a fase estacionária do cultivo sem adição de N, tanto a abundância quanto a
concentração de AO diminuem. | pt_BR |