Indígenas e não indígenas na administração pública : uma etnografia da Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (SEIND) do Amazonas
Resumo
Resumo: O presente trabalho consiste em uma etnografia do processo de estar e fazer uma administração pública tanto por servidores indígenas quanto não indígenas. Tomo como ponto de reflexão uma instituição brasileira: a Secretaria de Estado para os Povos Indígenas (SEIND), órgão vinculado ao poder executivo do estado do Amazonas, Brasil, criado a partir da Lei 3.403 de 2009. Busca-se refletir sobre o recente protagonismo de agentes estatais indígenas na administração pública e, assim, voltar o olhar para a uma forma estatal que emerge a partir do reconhecimento da diferença. Através da etnografia foi possível notar que a forma com que os servidores indígenas se percebem em tal processo implica na continuidade de um projeto político que, até então, havia tido seus principais desdobramentos através de organizações e associações vinculadas ao "movimento indígena". Ao mesmo tempo em que o surgimento da SEIND possibilita a ocupação de um lugar de poder inédito na estrutura estatal, estar em tal posição também significa entrar em consonância com um novo universo político e certa ordem e forma da organização estatal brasileira. O acompanhamento das atividades cotidianas na SEIND demonstrou que o imbricamento entre diferentes formas de estar na administração pública imprimem grande fluidez às concepções de "Estado? e de "indianidade?. Assim, as rotinas administrativas, a percepção dos servidores a respeito de seus trabalhos, e as interações interinstitucionais, recriam e atualizam tal dualidade de diferentes formas: "Estado" e "índios", "governo" e "movimento indígena", "técnica" e "política", "indígenas" e "não indígenas". A articulação de ambos universos políticos demonstrou grande criatividade por parte dos servidores que, frente ao baixo orçamento da instituição, utilizam a experiência adquirida nas associações e organizações indígenas para fundamentar diferentes estratégias de gestão. Argumento que esse espaço de negociação entre um pólo supostamente "indígena" e outro "Estatal", ou seja, esta permanente confluência, acabaria por produzir a SEIND em sua especificidade enquanto forma de administração pública e enquanto projeto político indígena. Palavras chave: Administração pública; Indígenas; Estado.
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