Duelo na fronteira
Abstract
Resumo:Este trabalho analisa um festejo de boi que se desenrola em Guajará-Mirim, situada na porção norte-ocidental do estado de Rondônia, onde estabelece fronteira com a cidade boliviana de Guayaramerin. No mês de agosto, a cidade brasileira abriga o Festival Folclórico Duelo na Fronteira, verdadeira disputa entre o Boi Flor do Campo e o Boi Malhadinho, à semelhança do Festival Folclórico de Parintins (AM). Nascida no interior de uma escola pública pelas mãos de Dona Georgina, a brincadeira ganhou as ruas enquanto festa popular, e há pouco mais de quatro anos passou a acontecer na arena de um bumbódromo, revestindo-se das características de espetáculo. Usou-se de procedimento de etnografia e do trabalho de campo para o levantamento de dados, assim como da revisão de literatura, na busca por trabalhos relacionados ao festejo de boi. A enunciação e o performativo estão se prestando para uma leitura interpretativa dos sujeitos da pesquisa e de seus espaços emocionalizados pela festa e pela fronteira. O aporte teórico construído propõe um entrelaçamento entre a Geografia Cultural (com sua abordagem sobre território e fronteira, bem como de emocionalização do espaço), a Linguística (dialogando com estudos que atribuem à Linguagem um caráter constitutivo), a Educação (tendo em vista articular o conceito de cultura escolar com a festa que se inscreve no interior de uma escola pública estadual) e os Estudos Culturais (determinantes para uma ressignificação da fronteira em tempos de globalização). A festa em uma perspectiva geográfica é concebida enquanto código sociocultural impresso no espaço geográfico, segundo o entendimento de Di Méo. Inscrita no espaço escolar, a festa é analisada para identificar o processo de emocionalização de seu território, a conformação de territorialidades e a repercussão na mudança de suas características mais populares. Por sua vez, a fronteira é concebida como passagem, encontro de culturas. O hibridismo é considerado como abertura para o novo, em uma alusão direta ao pensamento de Hall e Bhabha, possibilitando reconhecer aspectos que fazem de Guajará-Mirim uma região marcada pela interculturalidade. Além disso, reitera-se que a festa de boi na cidade passou por importantes mudanças, mas ainda assim preserva certa autenticidade, sem com isso querer firmar uma visão romântica de tradição. A fronteira da festa se insere no contexto das fronteiras culturais, mais flexíveis, móveis, permeáveis e sazonais, em oposição às fronteiras da pós-modernidade, que se mostram a um só tempo duras e permeáveis, separadoras e integradoras. Palavras-chave: Festejo de boi bumbá. Guajará-Mirim. Geografias emocionais. Geografia Cultural. Território e fronteira.
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- Teses [187]