Estudo da atividade hemolítica do veneno de Loxosceles intermedia (Aranha Marrom) e seus mecanismos moleculares
Resumo
As aranhas marrons estão distribuídas mundialmente e os acidentes relacionados são
considerados um problema de saúde pública, especialmente na América do Sul, os quais são
denominados como Loxoscelismo. Após os acidentes, as vítimas apresentam lesões cutâneas
necróticas ao redor da picada e, em menor freqüência, sinais sistêmicos tais como
insuficiência renal, coagulação intravascular disseminada e hemólise. Neste presente trabalho,
nós estudamos o mecanismo molecular pelo qual uma toxina recombinante purificada e obtida
da glândula do veneno, a qual é caracterizada bioquimicamente como uma fosfolipase-D,
induz hemólise. O tratamento de eritrócitos provenientes de sangue humano com a toxina
induziu experimentalmente hemólise direta de modo concentração- e tempo-dependentes. Os
eritrócitos expostos à toxina fosfolipase-D recombinante apresentaram alterações
morfológicas no tamanho e na forma das células de modo tempo-dependente. Além disso, a
hemólise não foi dependente do grupo ABO e sistema Rh, uma vez que os eritrócitos
humanos de diferentes grupos sanguíneos tratados com a toxina recombinante sofreram
hemólise de uma maneira semelhante. A lise direta dos eritrócitos induzida pela fosfolipase-D
recombinante depende da espécie do animal testado, já que eritrócitos obtidos a partir de
humanos, de coelhos e de carneiros sofreram hemólise em uma porcentagem muito superior
do que a observada com eritrócitos de cavalo. Em ensaios de microscopia confocal e
imunofluorescência indireta, bem como na citometria de fluxo, seja utilizando anticorpos
contra a fosfolipase-D, ou uma proteína fusão recombinante GFP-fosfolipase-D mostraram a
ligação direta da toxina à membrana dos eritrócitos humanos. Além disso, eritrócitos
incubados com a toxina recombinante reagiram com anexina-V e tiveram alteração do seu
perfil de distribuição dos microdomínios lipídicos, corroborando com uma mudança no
conteúdo de fosfolipídios da membrana tratada, que passou a expor na superfície celular um
fosfolipídio carregado negativamente, a fosfatidilserina, mostrando também uma
reorganização dos componentes da membrana lipídica. Adicionalmente, três quelantes de íons
divalentes (EGTA, EDTA e 1,10-fenantrolina) inibiram significativamente a hemólise
induzida pela fosfolipase-D (a qual contém magnésio, no domínio catalítico), em comparação
ao PMSF, um inibidor de serino-protease, que não teve efeito sobre hemólise, sugerindo que a
catálise está envolvida na hemólise. Finalmente, usando uma fosfolipase-D recombinante com
mutação sítio-dirigida no domínio catalítico, na qual foi substituída a histidina da posição 12
por uma alanina, a hemólise e as alterações morfológicas dos eritrócitos foram completamente
inibidas. No entanto, a toxina mutada não perdeu a capacidade de ligar-se à superfície dos
eritrócitos, o que reforça a idéia do envolvimento da atividade catalítica da enzima no efeito
hemolítico e nas alterações celulares, mas não apenas vinculada à ligação da toxina na
superfície celular. Desse modo, os resultados aqui descritos fornecem evidências de que a
fosfolipase-D do veneno de L. intermedia desencadeia a hemólise direta sobre de eritrócitos
humanos de maneira dependente da atividade catalítica. Brown spiders have world-wide distribution and accidents that are considered health
problem especially in South America are named loxoscelism. Victims followed accidents
present necrotic cutaneous lesions surrounding the bites and in a less intensity systemic signs
such as renal failure, disseminated intravascular coagulation, and hemolysis. Here, we studied
the molecular way by which a purified recombinant toxin from the venom gland,
biochemically characterized as phospholipase-D, causes hemolysis. Toxin treatment of human
blood erythrocytes experimentally induced direct hemolysis in a dose-dependent
concentration manner and in a time-dependent way. Erythrocytes exposed to the recombinant
phospholipase-D toxin showed morphological changes in size and shape of cells in a timedependent
manner. Also, hemolysis was not dependent of ABO group and Rhesus systems,
since human erythrocytes from all blood group treated by recombinant toxin suffered
hemolysis in a similar manner. The direct lysis of erythrocytes evoked by recombinant
phospholipase-D depends on animal species tested, since erythrocytes from human, rabbit and
sheep suffered hemolysis in higher percentage than horse erythrocytes. Confocal microscopy
and immunofluorescence assay using antibodies against phospholipase-D, as well as cell
cytometry and confocal microscopy using a recombinant fusion GFP-phospholipase-D protein
supported the direct binding of toxin to membrane of human erythrocytes. Moreover,
erythrocytes treated by recombinant toxin reacted with annexin-V and had their lipid rafts
profile altered, supporting for a changing in the phospholipid membrane contend of treated
cells exposing negatively charged phosphatidylserine at the cell surface, and for a
reorganization of membrane lipid components. Additionally, three divalent ion chelators
(EGTA, EDTA and 1,10-phenanthroline), significantly inhibited hemolysis evoked by
phospholipase-D (that has magnesium at the catalytic domain), as compared to PMSF a
serine-protease inhibitor that had no effect upon hemolysis, suggesting catalysis as involved
upon hemolysis. Finally, by using a site directed mutated recombinant phospholipase-D at the
catalytic domain, substituting histidine at position 12 by alanine, the hemolysis and
morphologic changes of erythrocytes were completely inhibited, but not the toxin binding on
the erythrocytes surface, supporting that the catalytic activity of enzyme is involved on
hemolysis and cellular alterations but not on the toxin cell binding. Thus, results described
herein provide evidence that phospholipase-D from L. intermedia venom stimulates direct
hemolysis upon human blood cells in a catalytic-dependent way.
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