Análise multidimensional do desempenho de jovens triatletas

Abstract

Resumo: O triatlo é um esporte que combina natação, ciclismo e corrida nessa ordem e em uma única competição, com diferentes distâncias regulamentadas pela World Triathlon (WT). No Brasil, a Confederação Brasileira de Triathlon (CBTri) segue tais regulamentações, porém, permitindo que atletas ingressem no alto rendimento a partir dos 14 anos em competições na distância sprint (750 m natação, 20 Km de ciclismo e 5 Km de corrida). A relação entre desempenho e cada modalidade no triatlo varia entre os eventos e as distâncias da competição. Na sprint, a natação tem menor associação com o resultado final, mas influencia o posicionamento para o ciclismo, que se destaca como a modalidade mais relevante para o desempenho final. A corrida, embora essencial, apresenta achados conflitantes sobre sua influência no resultado final. Além disso, as transições, que são os momentos de trocas de modalidade ( T1 - natação para ciclismo e T2 - ciclismo para a corrida), apesar de curtas, têm impacto significativo na classificação. Sob esse contexto, esse estudo buscou investigar os principais preditores de desempenho competitivo em triatletas adolescentes (categoria youth), analisando variáveis antropométricas, fisiológicas e de desempenho em uma prova simulada de triatlo sprint. Foram aplicadas análises estatísticas como correlação de Pearson e modelos de regressão linear simples e múltipla. Embora características como baixo percentual de gordura e segmentos corporais longos sejam tradicionalmente associados ao bom desempenho, a homogeneidade dos participantes reduziu a força dessas variáveis. Ainda assim, detalhes da composição corporal, como somatório de dobras cutâneas nos membros inferiores e medidas de panturrilha e coxa, apresentaram associação com a performance, especialmente na corrida. Isso sugere que, mesmo em grupos homogêneos, pequenas variações na distribuição de gordura corporal podem impactar significativamente o resultado. Do ponto de vista fisiológico, o triatlo sprint exige esforços próximos ao limiar anaeróbio (LT2), com elevações nos níveis de lactato principalmente na natação inicial e ao longo do ciclismo e corrida. Dentre os marcadores analisados, o VO?máx apresentou correlação positiva com o desempenho, mas foi a velocidade crítica (VCr) na corrida que mais se destacou como preditor do tempo total (r = -0,854), com impacto também sobre o tempo de corrida e outros indicadores. Outro fator relevante foi a percepção subjetiva de esforço (PSE) em testes longos (como corrida de 10 minutos e o próprio simulado), que mostrou associação direta com o tempo final, evidenciando a importância da tolerância ao esforço e da capacidade volitiva. A análise por modalidade revelou que o ciclismo teve o maior impacto estatístico no tempo total (ß = 0,644), seguido pela corrida (ß = 0,195) e pela natação (ß = 0,154). A transição T1 também demonstrou influência no desempenho geral (ß = 0,116), enquanto a T2 não apresentou relevância estatística. Modelos de regressão múltipla reforçaram a centralidade das variáveis técnicas e de resistência específica. A combinação entre VC corrida e o índice técnico da natação explicou mais de 80% da variância do tempo total da prova (R² = 0,827), indicando a relevância da eficiência técnica aliada à capacidade fisiológica. Modelos mais complexos, com múltiplas variáveis, foram descartados por apresentarem colinearidade, apesar dos altos R² (>0,95). Esses achados sugerem que intervenções específicas voltadas para a técnica de nado, o desenvolvimento da velocidade crítica de corrida e o controle da composição corporal (membros inferiores) podem ser estratégias eficientes de melhoria do desempenho. Testes simples de campo, como a corrida de 2 km e avaliações técnicas da natação, mostraram-se úteis para monitorar jovens triatletas

Abstract: Triathlon is a sport that combines swimming, cycling, and running in that order within a single competition, with various race distances regulated by World Triathlon (WT). In Brazil, the Brazilian Triathlon Confederation (CBTri) adheres to these regulations but allows athletes to enter high-performance categories from the age of 14 in sprint distance events (750 m swim, 20 km cycle, and 5 km run).The relationship between performance and each discipline in triathlon, varies depending on the event and the competition distance. In sprint races, swimming shows the weakest correlation with the overall result but plays a key role in determining position for the cycling leg, which typically emerges as the most decisive discipline for final performance. Running, although essential, presents conflicting findings regarding its influence on the final result. Moreover, transitions, the moments of shifting from one discipline to another (T1: swim to bike, and T2: bike to run), despite their short duration, have a significant impact on race rankings. Given the scenario, the present study aimed to investigate the main predictors of competitive performance in adolescent triathletes (youth category), analyzing anthropometric, physiological, and performance variables collected during a simulated sprint triathlon. Statistical analyses included Pearson correlations and simple and multiple linear regression models. Although characteristics such as low body fat percentage and longer limb segments are traditionally associated with better performance, the homogeneity of the participants in this sample reduced the predictive power of these variables. Nonetheless, specific aspects of body composition, such as the sum of skinfold thicknesses in the lower limbs and calf and thigh measurements, showed associations with performance, particularly in the running segment. This suggests that even within homogeneous groups, small variations in body fat distribution may significantly influence outcomes. From a physiological perspective, sprint triathlon demands efforts close to the anaerobic threshold (AT), with elevated lactate levels especially during the initial swim and throughout the cycling and running segments. Among the markers analyzed, maximal oxygen uptake (VO?máx) showed a positive correlation with performance. However, critical velocity (CV) in running stood out as the most robust predictor of overall race time (r = -0.854), also impacting running split time and other indicators. Another relevant factor was the rating of perceived exertion (RPE) during long tests (e.g., 10- minute run and the simulated race), which was directly associated with final race time, highlighting the importance of effort tolerance and volitional capacity. Disciplinespecific analysis revealed that cycling had the greatest statistical impact on total race time (ß = 0.644), followed by running (ß = 0.195) and swimming (ß = 0.154). The T1 transition also influenced overall performance (ß = 0.116), while T2 showed no statistically significant effect. Multiple regression models reinforced the centrality of technical and sport-specific endurance variables. The combination of running CV and a swimming technical index explained over 80% of the variance in total race time (R² = 0.827), underscoring the relevance of technical efficiency coupled with physiological capacity. More complex models including multiple variables were excluded due to collinearity, despite high R² values (>0.95). These findings suggest that targeted interventions focusing on swimming technique, development of running critical velocity, and management of body composition (particularly in the lower limbs) may be effective strategies for performance enhancement. Simple field tests, such as the 2 km run and technical swimming evaluations, proved useful for monitoring young triathletes