Herbicidas pré-emergentes aplicados na palha verde ou seca : interceptação da calda, concentração no solo e controle de plantas daninhas em plantio direto

Abstract

Resumo: A semeadura de cultivos no verde realizada com a cobertura vegetal ainda viva, tem sido adotada em sistemas de plantio direto como estratégia para prolongar o ciclo da cultura de cobertura, aumentar a produção de biomassa e potencializar o controle de plantas daninhas. No entanto, essa prática modifica significativamente o ambiente de aplicação de herbicidas em relação ao manejo tradicional com palha seca, podendo interferir na interceptação da pulverização, na deposição das gotas no solo e na disponibilidade do ingrediente ativo, especialmente no caso de herbicidas pré-emergentes que atuam sobre o banco de sementes. Este estudo teve como objetivo avaliar a eficácia agronômica de herbicidas pré-emergentes aplicados em dois manejos contrastantes de cobertura vegetal no sistema de plantio direto: a palha seca, proveniente da dessecação realizada 14 dias antes da semeadura (manejo convencional), e a palha verde, dessecada no mesmo dia da semeadura (semeadura no verde). O experimento foi conduzido por dois anos consecutivos (safras 2023/24 e 2024/25) na Fazenda Experimental Canguiri da Universidade Federal do Paraná, utilizando aveia (Avena spp.) como cultura de cobertura. Os tratamentos consistiram na aplicação, em sistema "plante-aplique", de três herbicidas: S-metolachlor (1.920 g ia ha?¹), clomazone microencapsulado (720 g ia ha?¹) e diclosulam (35 g ia ha?¹), além de uma testemunha sem aplicação. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com quatro repetições. As variáveis avaliadas incluíram a interceptação da calda pela palha (densidade de gotas e porcentagem de cobertura no momento da aplicação), concentração dos herbicidas no solo aos 14 e 28 dias após a aplicação, quantidade de palha remanescente, e a densidade e massa seca das plantas daninhas até 56 dias após a semeadura. A palha verde apresentou maior acúmulo de biomassa no momento da aplicação, o que aumentou a interceptação da calda e reduziu a concentração dos herbicidas no solo, especialmente nos primeiros 14 dias. Apesar disso, o controle de plantas daninhas não foi prejudicado nos tratamentos com diclosulam e clomazone, com indícios de efeito aditivo entre os herbicidas e a cobertura viva. Em contraste, o S-metolachlor teve sua eficácia significativamente reduzida sob palha verde, prejudicando o controle das espécies. Essa resposta diferencial está relacionada às propriedades físico-químicas dos produtos: compostos mais hidrofílicos e com menor afinidade por matéria orgânica, como o diclosulam, apresentaram maior transposição da cobertura para o solo, enquanto herbicidas mais lipofílicos, como o S-metolachlor, foram mais retidos na palha, principalmente a verde. Os resultados indicam que o uso de herbicidas pré-emergentes é uma alternativa viável na semeadura no verde, desde que sejam selecionados produtos com características favoráveis à transposição da palha

Abstract: Planting green, carried out with the cover crop still alive at the time of sowing, has been adopted in no-till systems as a strategy to extend the cover crop cycle, increase biomass production, and enhance weed control. However, this practice significantly modifies the herbicide application environment compared with the traditional management with dead mulch, potentially affecting spray interception, droplet deposition on the soil, and the availability of the active ingredient, especially in the case of pre-emergence herbicides that act on the weed seedbank. This study aimed to evaluate the agronomic efficacy of pre-emergence herbicides applied under two contrasting cover crop managements in a no-till system: dead mulch, obtained by desiccation 14 days before sowing (conventional management), and green mulch, desiccated on the same day as sowing (planting green). The experiment was carried out over two consecutive growing seasons (2023/24 and 2024/25) at the Canguiri Experimental Farm of the Federal University of Paraná, using oat (Avena spp.) as the cover crop. Treatments consisted of the "plant-then-spray" system with three herbicides: S-metolachlor (1,920 g a.i. ha?¹), microencapsulated clomazone (720 g a.i. ha?¹), and diclosulam (35 g a.i. ha?¹), plus an untreated control. The experimental design was a randomized complete block with four replications. Evaluated variables included spray interception by mulch (droplet density and percentage of coverage at application), herbicide concentration in the soil at 14 and 28 days after application, remaining mulch biomass, and weed density and dry mass up to 56 days after sowing. Planting green resulted in greater biomass accumulation at the time of application, which increased spray interception and reduced soil herbicide concentration, especially within the first 14 days. Despite this, weed control was not compromised in treatments with diclosulam and clomazone, with evidence of an additive effect between the herbicides and the living cover. In contrast, S-metolachlor efficacy was significantly reduced under planting green, impairing species control. This differential response was related to the physicochemical properties of the products: more hydrophilic compounds with lower affinity for organic matter, such as diclosulam, exhibited greater translocation from mulch to soil, whereas more lipophilic herbicides, such as S metolachlor, were more retained in the mulch, particularly when green. The results indicate that the use of pre-emergence herbicides is a feasible alternative in planting green systems, provided that products with favorable characteristics for translocation through mulch are selected