Percepções sobre o cuidado em saúde mental por profissionais da atenção primária em saúde de Curitiba

Abstract

Resumo: A Reforma Psiquiátrica Brasileira gerou importantes transformações na assistência em saúde mental e deu origem ao modelo chamado de Atenção Psicossocial. A Rede de Atenção Psicossocial é composta por serviços e pontos de atenção, dentre eles, a Atenção Primária em saúde com as equipes de profissionais que atuam nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). Sendo um campo complexo e potente para o cuidado, esta pesquisa pretende compreender como tem acontecido o cuidado em saúde mental explorando a percepção de profissionais nas UBS de Curitiba. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho exploratório em que foram entrevistadas 15 profissionais de 9 UBS de Curitiba, sendo as participantes selecionadas por terem práticas presumidamente alinhadas com a atenção psicossocial pela equipe de pesquisa. As entrevistas foram transcritas e analisadas pela hermenêutica de Ricoeur e posteriormente discutidas com o referencial teórico da atenção psicossocial. Os resultados apontam para as diferentes compreensões clínicas sobre as queixas em saúde mental que chegam até os profissionais, variando entre a identificação de categorias diagnósticas e a compreensão do adoecimento produzido pelo meio social relacionado ao contexto de vida, moradia, trabalho, pobreza, violências e violação de direitos. Ainda, a pesquisa discute as percepções das profissionais sobre as relações que estabelecem com outros serviços e atores da rede para compor o cuidado em saúde mental. As percepções das participantes remetem a possibilidades de como construir uma atenção psicossocial na atenção primária com princípios de uma clínica ampliada em um contexto de avanços e retrocessos na política de saúde mental brasileira e curitibana. Alguns dos aspectos citados remetem a práticas de cuidado que respeitam a autonomia e subjetividade, escuta do sofrimento psíquico e leitura dos determinantes sociais de cada território. Remetem também aos desafios da disputa sobre os modos de compreender os fenômenos de saúde mental e o trabalho intersetorial em rede

Abstract: The Brazilian Psychiatric Reform brought significant transformations to mental health care and gave rise to a model known as Psychosocial Care. The Psychosocial Care Network consists of services and points of care, including Primary Health Care, in which professional’s teams work in Basic Health Units (BHU). As a complex and pow erful field for care, this study aims to understand how mental health care is being de livered by exploring the perceptions of professionals working in BHUs in Curitiba. This was a qualitative, exploratory study in which 15 professionals from 9 BHUs in Curitiba were interviewed. The participants were selected based on the research team's iden tification of practices presumably aligned with the principles of psychosocial care. The interviews were transcribed and analyzed using Ricoeur’s hermeneutics and later dis cussed through the theoretical framework of psychosocial care. The findings reveal different clinical understandings of mental health complaints encountered by profes sionals, ranging from diagnostic categorization to the interpretation of suffering as so cially produced, associated with living conditions, housing, work, poverty, violence, and violations of rights. The study also discusses the professionals' perceptions of the re lationships they establish with other services and network actors to provide mental health care. Participants’ perspectives point to possibilities for building psychosocial care within Primary Health Care, based on the principles of an expanded clinical ap proach, in a context of progress and setbacks in Brazilian and local mental health pol icy. Some aspects mentioned reflect care practices that respect autonomy and subjec tivity, active listening to psychological suffering, and an understanding of the social determinants in each territory. They also highlight challenges in the ongoing debate about how to comprehend mental health phenomena and engage in intersectoral col laborative work