Comparação da frequência de consumo regular de alimentos em estudantes universitários em 2020 e 2023

Abstract

Resumo: A alimentação é reconhecida como um direito social humano básico e um fator crucial de promoção da saúde. A rotina acadêmica associada ao cenário pandêmico pode ter produzido mudanças na alimentação de estudantes universitários. Objetivou-se comparar frequência de consumo regular de alimentos por estudantes universitários, e estabelecer associações com características demográficas e socioeconômicas em 2020 e 2023. Estudos transversais foram realizados com graduandos de universidades públicas localizadas nas regiões norte, nordeste, sudeste e sul do país entre agosto de 2020 a fevereiro de 2021, e entre julho e dezembro de 2023. Encaminhado aos alunos um questionário online com variáveis demográficas, socioeconômicas e marcadores de consumo alimentar do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). A distribuição das variáveis e prevalência de consumo entre os dois períodos do estudo foi comparada por meio da estimativa de prevalências e intervalos de confiança (IC) de 95%. Associações entre a frequência regular de consumo dos marcadores alimentares e variáveis de exposição foram investigadas por meio dos testes do qui-quadrado de Pearson e tendência linear, bem como da razão de prevalência. Participaram do estudo 4.571 universitários em 2020 e 2.841 em 2023. Comparando os dados de 2020 e 2023 houve variação consistente no consumo regular de todos os alimentos. Houve aumento do consumo regular de feijão de 41,9% (IC95% 40,5-43,3) para 48,8% (47,0-50,7), frango de 17,7% (16,7 18,9) para 22,5% (21,0-24,1) e ovos de 21,4% (20,2-22,6) para 28,7% (27,0-30,4) e redução do consumo de verduras e legumes de 55,4% (53,9-56,8) para 49,7% (47,8 51,5), frutas de 38,7% (37,3-40,2) para 34,1% (32,4-35,9), lácteos de 48,8% (47,3 50,2) para 43,1% (41,2-44,9) e carnes de 17,4% (16,3-18,5) para 14,8% (13,5-16,1) em 2023. Observou-se maior redução de frutas e hortaliças entre mulheres; de lácteos e carnes em alunos da USP; maiores aumentos no consumo de feijão na UFPR e de frango e ovos em graduandos de 20 a 29 anos. Nos dois períodos, o maior consumo de hortaliças, frutas, lácteos e carnes foi associado à renda mais elevada, enquanto frango esteve associado a rendas mais baixas. O consumo de feijão e carne foi mais frequente no sexo masculino, enquanto hortaliças e frutas no sexo feminino em 2020. Entre os centros, houve maior similaridade de consumo regular dos marcadores alimentares entre participantes da USP e da UFPR, e entre UFAC e UFRN, exceto quanto ao consumo regular de carne, que foi consideravelmente maior entre alunos da UFAC. Desta forma, os resultados apontam mudanças na frequência de consumo regular dos alimentos em estudantes da graduação entre o período da pandemia e posterior, e diferenças de acordo com determinantes sociodemográficos. Essas mudanças podem refletir uma combinação tanto dos efeitos relacionados à pandemia de COVID-19, quanto da variação de outros fatores que interferem nas tendências de consumo alimentar populacionais

Abstract: Food is recognized as a basic human social right and a crucial factor in health promotion. The academic routine associated with the pandemic scenario may produce changes in the feeding of university students. Objective: to compare the frequency of regular food consumption by university students, and to establish associations with demographic and socioeconomic characteristics in 2020 and 2023. Cross-sectional studies carried out with graduates from public universities located in the northern, northeastern, southeastern and southern regions of the country between August 2020 and February 2020. 2021, and between July and December 2023. Directed to students with an online questionnaire with demographic, socioeconomic, and food consumption markers of the Risk and Protection Factor Surveillance System for Doenças Crônicas by Inquérito Telefônico (Vigitel). The distribution of the varying prevalence of consumption between the two study periods was compared by means of prevalence estimates and 95% confidence intervals (CI). Associations between regular frequency of consumption two dietary markers and exposure variables investigated by means of two Pearson's qui-square tests and linear tendency, as well as the reason for prevalence. Participating in the study were 4,571 university students in 2020 and 2,841 in 2023. Comparing the data from 2020 to 2023, there was consistent variation in the regular consumption of all foods. There was an increase in regular consumption of beans from 41.9% (95%CI 40.5-43.3) for 48.8% (47.0-50.7), from 17.7% (16.7-18.9) for 22.5% (21.0-24.1) and eggs from 21.4% (20.2-22.6) for 28.7% (27.0-30.4) and reduced consumption of vegetables and legumes from 55.4% (53.9-56.8) to 49.7% (47.8-51.5), fruits from 38.7% (37.3-40.2) to 34.1% (32.4-35.9), dairy products from 48.8% (47.3-50.2) for 43.1% (41.2-44.9) and meat from 17.4% (16.3-18.5) to 14.8% (13.5-16.1) in 2023. Observed greater reduction in fruits and vegetables among women; dairy and meat products in USP; Greater increases in the consumption of beans at UFPR and of frango and eggs in graduates from 20 to 29 years old. In some periods, the greater consumption of vegetables, fruits, dairy products and meats was associated with higher incomes, while more often this was associated with lower incomes. The consumption of beans and meat was more frequent among men, while vegetables and fruits were not among women in 2020. Between the centers, there was greater similarity in regular consumption of two dietary markers between participants of USP and UFPR, and between UFAC and UFRN, except for regular consumption of meat, which was considerably higher among UFAC students. In this way, the results indicate changes in the frequency of regular consumption of foods by graduating students between the pandemic period and later, and differ according to sociodemographic determinants. These changes can reflect a combination of both two effects related to the COVID-19 pandemic, as well as the variation of other factors that interfere with population food consumption trends