Sentidos sobre a formação profissional de estudantes de programas de inserção em educação superior da rede privada de ensino

Abstract

Resumo: Nas últimas décadas, no Brasil, houve ampliação de políticas afirmativas de acesso à educação superior, por meio de programas como Prouni e Fies, pelos quais estudantes de baixa renda ingressam na rede privada de ensino. A situação social de desenvolvimento desses jovens incide sobre suas trajetórias universitárias, que podem exprimir diversidade de sentidos em suas histórias de vida, tornando-se obstáculo ou potencializando sua entrada e permanência na educação superior. Mediante a abordagem histórico-cultural, como objetivo, o estudo analisou os sentidos pessoais sobre a formação universitária produzidos por estudantes de instituições de ensino superior privadas inclusos por programas estatais de acesso. Ao partir da perspectiva do desenvolvimento do psiquismo como processo histórico e cultural, compreende-se a construção de atividades dominantes que o orientam, de acordo com o contexto e as relações sociais disponibilizadas. A juventude situa-se em meio à valorização do trabalho como atividade organizadora de sua personalidade, estando presente a contradição entre a manutenção da subsistência (trabalho alienado) e a realização de produção coletiva (com vistas à autonomia da vida adulta). O adulto jovem estaria em possibilidade, cognitiva, afetiva e social de exercício da atividade humanizadora, isto é, do trabalho; conhecer as particularidades das condições de vida da juventude, suas motivações à formação profissional, as influências familiares sobre sua trajetória, os aspectos afetivos e a qualidade de suas interações no ambiente universitário, suas expectativas sobre o mundo do trabalho foram objetivadas na pesquisa. Essa, de cunho qualitativo, de campo, aplicando o método histórico-dialético, buscou, com estudantes bolsistas (Prouni e Fies) de instituições de ensino privado de Curitiba, por meio de entrevistas individuais (18) e grupo de discussão (7 participantes), analisar os sentidos pessoais gerados na relação com a formação profissional. Seis zonas de sentidos foram sintetizadas: situação social de desenvolvimento (núcleo familiar, condições de sustento financeiro e relação com trabalho); a escolaridade na família e o incentivo à educação superior; as escolhas profissionais e a função do financiamento ou bolsa; dificuldades enfrentadas na relação com a educação superior; facilitadores à permanência no curso; e o futuro profissional. Evidenciou-se a relação do suporte familiar e do trabalho como subsistência para manutenção no ensino superior, assim como a função determinante do usufruto da bolsa como acesso à educação superior. Esta é sentida como via de mudanças de sociais nas trajetórias individuais juvenis. Dentre o que dificulta a permanência destacaram-se as questões econômicas e a sobrecarga da conciliação trabalho e estudo; enquanto facilitadores, além do apoio familiar, as relações interpares e com professores foram valorizadas. Embora a bolsa cumpra seu papel propiciando acesso à educação superior à camada popular, apresentou-se insuficiente à permanência discente. Foram sugeridas ações de incremento à permanência, como auxílio econômico e assistência estudantil. A pesquisa demonstrou-se espaço profícuo à geração de identificação interpares sobre as dificuldades comuns entre bolsistas e promoveu espaço de reflexão sobre as contradições da proposição de uma política pública voltada à rede privada em detrimento da ampliação de vagas na educação pública

Abstract: In recent decades, in Brazil, there has been an expansion of affirmative action policies for access to higher education, through programs such as Prouni and Fies, through which low-income students enter the private education system. The social development situation of these young people affects their university trajectories, which can express a diversity of senses in their life stories, becoming an obstacle or enhancing their entry and permanence in higher education. Using a historical-cultural approach, the study aimed to analyze the personal senses about university education produced by students from private higher education institutions included in state access programs. From the perspective of the development of the psyche as a historical and cultural process, the construction of dominant activities that guide it is understood, according to the context and the social relations available. Young people are situated in the midst of the valorization of work as an activity that organizes their personality, and there is a contradiction between maintaining subsistence (alienated labor) and carrying out collective production (with a view to autonomy in adult life). The young adult would be in a cognitive, affective and social position to exercise humanizing activity, that is, work; knowing the particularities of the living conditions of the youth, their motivations for professional training, family influences on their trajectory, the affective aspects and quality of their interactions in the university environment, their expectations about the world of work were objectively studied in the research. This, of a qualitative, field nature, applying the historical-dialectical method, sought, with scholarship students (Prouni and Fies) from private educational institutions in Curitiba, through individual interviews (18) and discussion group (7 participants), to analyze the personal senses generated in the relationship with professional training. Six areas of senses were synthesized: social development situation (family nucleus, financial support conditions and relationship with work); family education and incentives for higher education; professional choices and the role of financing or scholarships; difficulties faced in the relationship with higher education; facilitators for remaining in the course; and professional future. The relationship between family support and work as a means of subsistence for maintaining higher education was highlighted, as well as the determining role of the use of scholarships as access to higher education. This is felt as a path to social changes in the individual trajectories of young people. Among the factors that hinder students' permanence, economic issues and the burden of balancing work and study stood out; as facilitators, in addition to family support, peer and teacher relationships were valued. Although the scholarship fulfills its role of providing access to higher education for the lower classes, it was insufficient for students to remain in school. Actions to increase student permanence were suggested, such as financial aid and student assistance. The research proved to be a useful space for generating peer identification about the common difficulties among scholarship holders and promoted a space for reflection on the contradictions of proposing a public policy focused on the private sector to the detriment of expanding places in public education