Reformulação e implementação de um instrumento de estratificação de risco em saúde bucal como política pública de saúde no Estado do Paraná
Resumo
Resumo: As doenças bucais estão entre as mais prevalentes no mundo, gerando significativos encargos econômicos e de saúde e impactando negativamente a qualidade de vida da população. Segundo a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 3,5 bilhões de pessoas foram afetadas por doenças bucais em 2019. Além disso, as doenças bucais são consideradas condições crônicas por apresentarem um curso geralmente longo ou permanente, exigindo ações contínuas e integradas do sistema de saúde, das equipes de saúde bucal e do próprio indivíduo para controle efetivo. A estratificação de risco é uma ferramenta importante no modelo de cuidado das condições crônicas, pois permite a identificação e o gerenciamento mais eficaz das necessidades de saúde, seguindo os princípios de equidade. A Linha de Cuidado em Saúde Bucal do Paraná recomenda, desde 2014, a utilização da estratificação de risco em saúde bucal. No entanto, após quase uma década de uso, identificou-se a necessidade de aprimoramento do instrumento. O objetivo deste estudo foi reformular e implementar um novo instrumento de Estratificação de Risco em Saúde Bucal (ERSB) para a população geral (acima de 7 anos) atendida pelas Equipes de Saúde Bucal do Paraná. Trata-se de um estudo metodológico estruturado nas seguintes etapas: 1) diagnóstico situacional sobre a percepção dos cirurgiões dentistas da Atenção Primária à Saúde em relação ao instrumento vigente, utilizando um questionário eletrônico com 37 perguntas aplicado aos 399 municípios do estado, no qual foram coletadas 589 respostas de cirurgiões-dentistas de 210 municípios (53% dos municípios); 2) validação de conteúdo com um painel de 28 especialistas, dos quais 20 participaram de rodas de validação por meio da técnica do Grupo Nominal para consenso sobre a pertinência, reformulação ou inclusão de indicadores; 3) pré-teste com 34 equipes da 2ª Regional de Saúde (Metropolitana) que aplicaram o instrumento reformulado e avaliaram sua usabilidade, resultando em um escore de 79,3, considerado excelente; 4) avaliação das propriedades métricas em uma amostra estratificada de 132 municípios, em que cada cirurgião- dentista aplicou o instrumento em três usuários (preferencialmente adultos), classificados de acordo com a percepção clínica como de baixo, médio ou alto risco. A confiabilidade apresentou um Alpha de Cronbach de 0,844, indicando alta consistência interna. O ERSB reformulado conta com 21 indicadores organizados em quatro categorias: Socioeconômicos (4), Biológicos (3), Hábitos e Autocuidado (6) e Odontológicos (8), com pontuações de 0 a 2 pontos para cada indicador, com exceção de dois indicadores que terão pontuação de 0 a 3 pontos. Para a definição de escala, pontuações de 0 a 5 indicam baixo risco, 6 a 14 indicam médio risco, e acima de 15 indicam alto risco; 5) implementação do instrumento, iniciada em junho de 2024, com o desenvolvimento de uma ferramenta digital pelo Núcleo de Informática da Secretaria de Estado da Saúde com a finalidade de facilitar o uso diário das equipes de saúde bucal, permitindo uma aplicação mais ágil e prática, além de otimizar o tempo de atendimento. A implementação foi acompanhada de capacitações presenciais para as equipes de saúde bucal. Até o momento foram capacitados presencialmente 1.148 profissionais de saúde, 228 (57,14%) municípios iniciaram o processo de estratificação, foram estratificadas 81.360 pessoas. Com esse montante, estima-se que 5,85% da população que utiliza os serviços odontológicos do SUS foram estratificados. A reformulação e implementação do ERSB permite uma oferta de atenção que não seja única para todos os usuários do sistema, mas individualizada e equitativa. Dessa forma, é possível oferecer uma atenção à saúde mais efetiva no que diz respeito à pessoa e sua necessidade, considerando os princípios do cuidado centrado no usuário Abstract: Oral diseases are among the most prevalent in the world, generating significant health and economic burdens and negatively impacting the population's quality of life. According to the World Health Organization, approximately 3.5 billion people were affected by oral diseases in 2019. In addition, oral diseases are considered chronic conditions because they usually have a long or permanent course, requiring continuous and integrated actions by the health system, oral health teams and the individual themselves for effective control. Risk stratification is an important tool in the care model for chronic conditions, as it allows health needs to be identified and managed more effectively, following the principles of equity. Since 2014, Paraná's Oral Health Care Line has recommended the use of risk stratification in oral health. However, after almost a decade of use, the need to improve the instrument was identified. The aim of this study was to reformulate and implement a new Oral Health Risk Stratification (ERSB) instrument for the general population (over 7 years old) served by the Oral Health Teams in Paraná. This is a methodological study structured in the following stages: 1) situational diagnosis on the perception of primary care dentists in relation to the current instrument, using an electronic questionnaire with 37 questions applied to the state's 399 municipalities, in which 589 responses were collected from dentists in 210 municipalities (53% of the municipalities); 2) content validation with a panel of 28 specialists, 20 of whom took part in validation rounds using the Nominal Group technique to reach a consensus on the pertinence, reformulation or inclusion of indicators; 3) pre-testing with 34 teams from the 2nd Metropolitan Health Region, who applied the reformulated instrument and evaluated its usability, resulting in a score of 79.3, considered excellent; 4) evaluation of the metric properties in a stratified sample of 132 municipalities, in which each dentist applied the instrument to three users (preferably adults), classified according to clinical perception as low, medium or high risk. Reliability showed a Cronbach's alpha of 0.844, indicating high internal consistency. The reformulated ERSB has 21 indicators organized into four categories: Socioeconomic (4), Biological (3), Habits and Self-Care (6) and Dental (8), with scores of 0 to 2 points for each indicator, with the exception of two indicators which will have a score of 0 to 3 points.For the scale definition, scores of 0 to 5 indicate low risk, 6 to 14 indicate medium risk, and above 15 indicate high risk; 5) implementation of the instrument, which began in June 2024, with the development of a digital tool by the IT Center of the State Health Department with the aim of facilitating the daily use of oral health teams, allowing for a more agile and practical application, as well as optimizing service time. The implementation was accompanied by face-to-face training for the oral health teams. So far, 1,148 healthcare professionals have been trained in person, 228 municipalities (57.14%) have initiated the risk stratification process, and 81,360 individuals have been stratified. Based on this number, it is estimated that 5.85% of the population using public dental services (SUS) have undergone risk stratification. The reformulation and implementation of the ERSB makes it possible to offer care that is not the same for all users of the system, but is individualized and equitable. In this way, it is possible to offer more effective health care in terms of the person and their needs, taking into account the principles of user-centered care
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