Morfoanatomia comparada do complexo Butia archeri (Glassman) Glassman (Arecaceae)

Abstract

Resumo: Devido a morfologia extremamente variável, o gênero Butia é caracterizado pela presença de espécies desconhecidas ainda não descritas e os polêmicos complexos de espécies. No Planalto Central Brasileiro, Butia archeri (Glassman) Glassman é um taxon que atualmente compreende duas variedades: Butia archeri (Glassman) Glassman var. archeri, ocorrente dos estados de Minas Gerais, Distrito Federal e Goiás, e Butia archeri var. diamantinensis K. Soares, de ocorrência restrita ao município de Diamantina, no estado de Minas Gerais. O município de Diamantina está localizado no Planalto Diamantina, na porção sul da Cadeia do Espinhaço, uma das áreas de maior endemismo para a família Arecaceae. Além disso, por não apresentar ocorrência simpátrica com Butia archeri var. archeri, objetivou-se, no presente estudo, avaliar se existem diferenças morfológicas e anatômicas que associadas ao isolamento geográfico, forneça subsídios para elevar a variedade de Diamantina ao nível de espécie. Além dos caracteres já utilizados para distinguir as duas variedades como o formato da copa, a cor e da distância das pinas na raque foliar, verificamos que B. archeri var. diamantinensis também pode ser diferenciada da variedade típica por caracteres como maior tamanho no pedúnculo da inflorescência, maior número de ráquilas, ráquilas laxas, variação na cor das flores de avermelhado até roxo além da bráctea peduncular, que frequentemente inverte durante a antese. Anatomicamente, a presença de fibras imersas no tecido de expansão só é observada em B. archeri var. diamantinensis: um caractere exclusivo para o gênero. Além disso, em B. archeri var. diamantinensis, o número de feixes acessórios é menor e não há contato do anel fibroso com a hipoderme como observado na variedade típica. O habitat também difere, em Diamantina, as subpopulações da espécie ocorrem em áreas de campo rupestre e cerrado rupestre. Já em Brasília, as subpopulações ocorrem em áreas de Cerrado sensu stricto. Quando comparadas com as demais espécies de Butia, a análise de similaridade com base em caracteres morfológicos e anatômicos demonstrou que as duas variedades aparecem em subgrupos diferentes do dendrograma. Apesar de apresentarem semelhanças morfológicas e anatômicas, B. archeri var. diamantinensis apresenta diferenças significativas tanto na morfologia quanto na anatomia, o que aliado ao seu isolamento geográfico, sugere que o taxon seja tratado como uma entidade taxonômica distinta de B. archeri. Estudos futuros, que incluam o tratamento taxonômico da população de Diamantina, será essencial para formalizar a alteração do status e da combinação do taxon

Abstract: Due to its hypervariable morphology, the genus Butia is characterized by unknown species and controversial species complexes. In the Brazilian central highlands, Butia archeri (Glassman) Glassman is a taxon that currently comprises two varieties: Butia archeri (Glassman) Glassman var. archeri, which occurs in the states of Minas Gerais, Distrito Federal and Goiás, and Butia archeri var. diamantinensis K. Soares, which is restricted to the municipality of Diamantina, Minas Gerais State. This municipality is located on the Diamantina Plateau, in the southern portion of the Espinhaço Range, one of the areas with the highest endemism levels for Arecaceae. Since B. archeri var. diamantinensis does not occur sympatrically with the typical variety, this study aimed to assess whether there are morphological and anatomical differences that, associated with geographical isolation, warrant the raising of the Diamantina variety to species rank. In addition to the characters already used to distinguish the two varieties, such as the shape of the crown, the colour and the distance of the pinnae in the leaf rachis, we found that B. archeri var. diamantinensis can also be distinguished from the typical variety by the longer inflorescence peduncle, larger number of rachillae, lax rachillae, flowers ranging from reddish to purple, and the peduncular bract often inverted during anthesis. Anatomically, fibres immersed in the expansion tissue were only observed in B. archeri var. diamantinensis, an exclusive character for the genus. Furthermore, in B. archeri var. diamantinensis, the number of accessory bundles is lower, and there is no contact between the fibrous ring and the hypodermis, as observed in the typical variety. The habitat also differs: the Diamantina subpopulations occur in areas of campo rupestre and cerrado rupestre, while the Brasília subpopulations occur in areas of cerrado sensu stricto. The similarity analysis based on morphological and anatomical characters, including other Butia species, showed that the two varieties appear in different groups in the dendrogram. Despite their morphological and anatomical similarities, B. archeri var. diamantinensis shows significant differences in both morphology and anatomy, which, together with its geographical isolation, suggests that the taxon should be treated as a taxonomic entity distinct from B. archeri. Future studies, including a taxonomic treatment of the Diamantina population, will be essential to formalize the change in status and combination of the taxon.