Ajuste pessoa-ambiente, identificação organizacional e desempenho : evidências com profissionais contábeis em diferentes modalidades de trabalho

Abstract

Resumo: As alterações nas maneiras de se exercer o trabalho, impulsionadas especialmente pela pandemia de Covid-19, demandam dos trabalhadores e das organizações diversas adaptações. Diante desse cenário, emerge a necessidade de investigar os impactos dessas transformações no contexto das relações de trabalho, bem como os ajustes demandados dos trabalhadores. Para tanto, a Teoria do Ajuste Pessoa-Ambiente se apresenta como uma abordagem pertinente para compreender essa relação entre indivíduo e ambiente de trabalho, analisando como essa compatibilidade pode afetar resultados individuais e organizacionais. Assim, o presente estudo teve como objetivo investigar como os ajustes do indivíduo com o ambiente (Ajuste Pessoa-Organização (APO), Ajuste Pessoa-Trabalho (APT) e Ajuste Pessoa-Grupo (APG)) influenciam a identificação organizacional e o desempenho de tarefas com profissionais contábeis em diferentes modalidades de trabalho. Para a operacionalização deste estudo, foram coletados dados por meio de um questionário on-line aplicado a profissionais – graduados e técnicos - da área de contabilidade no contexto brasileiro. A amostra foi composta por 429 indivíduos, as quais foram analisadas inicialmente por meio de estatística descritiva e, em seguida, submetidas à técnica de Modelagem de Equações Estruturais por Mínimos Quadrados Parciais. Posteriormente, os dados foram submetidos a uma análise de Multigrupo para identificar as diferenças entre as três modalidades de trabalho. A partir dos resultados, constatou-se que o APG teve impacto positivo no desempenho de tarefas em todas as modalidades de trabalho, indicando a importância da interação com o grupo para o desempenho das tarefas. Da mesma forma, o APG influenciou positivamente a identificação organizacional, entretanto, somente nas modalidades presencial e híbrida. Neste caso, observa-se que o distanciamento físico imposto pela modalidade remota enfraquece os laços entre as equipes, o que, por sua vez, pode impactar negativamente a identificação organizacional. O APO apresentou uma relação positiva somente para a identificação organizacional, enfatizando a importância do alinhamento de valores e objetivos para a identificação organizacional. O APT não apresentou resultados significativos, tanto em relação ao desempenho de tarefas quanto em relação à identificação organizacional. A relação entre identificação organizacional e desempenho de tarefas mostrou influência positiva apenas na modalidade híbrida. O papel de mediação da identificação organizacional foi significativo no APO e no APG apenas na modalidade híbrida, destacando a relevância dessa modalidade nas organizações. Como contribuições teóricas, o estudo apresenta evidências que contribuem com o entendimento de como os componentes da Teoria do Ajuste Pessoa-Ambiente influenciam a identificação organizacional e o desempenho de tarefas, além de ampliar a compreensão sobre como as diferentes modalidades de trabalho (presencial, híbrida e remota) impactam nessas relações. Do ponto de vista prático, o estudo oferece orientações a gestores, e profissionais de recursos humanos, destacando a relevância do APG para o desempenho de tarefas e para a identificação organizacional. Isso ressalta a importância da interação entre os membros da equipe, sugerindo a necessidade de políticas organizacionais que incentivem a colaboração, a comunicação eficaz e o fortalecimento dos laços interpessoais. Também sublinha a importância do alinhamento de valores e objetivos promovido pelo APO. Por fim, a modalidade híbrida se destacou como a mais eficaz para promover a identificação organizacional e melhorar o desempenho de tarefas. O que sugere que políticas mais flexíveis, que equilibram as demandas pessoais e profissionais, contribuem para o bem-estar, fortalecem a identificação organizacional e aumentam a produtividade dos trabalhadores

Abstract: The changes in the way work is carried out, driven in particular by the Covid-19 pandemic, require workers and organizations to make various adaptations. Given this scenario, there is a need to investigate the impacts of these transformations in the context of labor relations, as well as the adjustments required of workers. To this end, the Person Environment Fit Theory presents itself as a pertinent approach to understanding this relationship between the individual and the work environment, analyzing how this compatibility can affect individual and organizational results. Thus, the aim of this study was to investigate how the individual's adjustment to the environment (Person-Organization Fit, Person-Job Fit and Person-Group Fit) influences organizational identification and task performance among accounting professionals in different working arrangements. For the operationalization of this study, data was collected through an online questionnaire applied to accounting professionals - graduates and technicians - in the Brazilian context. The sample consisted of 429 individuals, who were initially analyzed using descriptive statistics and then submitted to the Structural Equation Modeling technique using Partial Least Squares. The data was then subjected to a multi-group analysis (PLS-MGA) to identify the differences between the three work modalities. The results showed that APG had a positive impact on task performance in all work modalities, indicating the importance of interaction with the group for task performance. Similarly, APG positively influenced organizational identification, but only in the face-to-face and hybrid modalities. In this case, it can be seen that the physical distance imposed by the remote modality weakens the bonds between teams, which in turn can have a negative impact on organizational identification. APO was only positively related to organizational identification, emphasizing the importance of aligning values and objectives for organizational identification. APT did not show significant results, either in relation to task performance or organizational identification. The relationship between organizational identification and task performance showed a positive influence only in the hybrid modality. The mediating role of organizational identification was significant in APO and APG only in the hybrid modality, highlighting the relevance of this modality in organizations. As theoretical contributions, the study presents evidence that contributes to the understanding of how the components of the Person–Environment Fit Theory influence organizational identification and task performance, as well as broadening the understanding of how the different work modalities (face-to-face, hybrid and remote) impact on these relationships. From a practical point of view, the study offers guidance to managers, organizations and human resources professionals, highlighting the relevance of APG for task performance and organizational identification. It highlights the importance of interaction between team members, suggesting the need for organizational policies that encourage collaboration, effective communication and the strengthening of interpersonal bonds. It also underlines the importance of the alignment of values and objectives promoted by the APO. Finally, the hybrid modality stood out as the most effective for promoting organizational identification and improving task performance. This suggests that more flexible policies, which balance personal and professional demands, contribute to well-being, strengthen organizational identification and increase worker productivity