Medo do parto e desfecho perinatal em gestantes atendidas na maternidade do Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná
Resumo
Resumo: O Medo do Parto pode ser definido como um pensamento persistente de medo sobre o parto que limita atividades diárias e sociais, podendo atingir entre 3,7% e 43% da população feminina e seus principais fatores de risco são depressão, ansiedade, baixo suporte social e experiência negativa em parto anterior. Este estudo analisou a prevalência e o desfecho perinatal de gestantes com medo do parto atendidas em uma maternidade do Sul do Brasil. Os pesquisadores entrevistaram 363 gestantes brasileiras, acima de 18 anos, entre 28 e 37 semanas de gestação, atendidas no período de julho de 2021 a novembro de 2023 na Maternidade do Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Foram aplicados os questionários: Wijma Delivery Expectancy Questionnaire Version A (W-DEQ A), Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo, Inventário de Ansiedade de Beck e questionário sociodemográfico e obstétrico formulado pelos autores. Foram excluídas 29 participantes por não preencherem o W-DEQ(A) integralmente. Das 334 participantes incluídas no estudo, 314 tiveram seus partos na referida maternidade, das quais foi possível analisar o desfecho do parto e do recém-nascido em análise de prontuários, e 20 tiveram seus partos em outras maternidades, impossibilitando essa análise. Em relação ao desfecho do parto foram pesquisadas via de parto, duração do trabalho de parto, ocorrência de distocias, medicalização ou instrumentalização do parto; e dados relacionados ao recém-nascido como escala de Apgar, peso ao nascimento, percentil do peso ao nascimento, internamento em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, ocorrência de natimorto ou óbito neonatal. As participantes eram, em sua maioria, brancas (72,5%), casadas/união consensual (71,9%), multíparas (65,6%), evangélicas (41,9%), trabalhadoras com carteira assinada (45,9%) e gestantes de alto risco (78,4%). A mediana de idade foi 29 anos, a mediana da idade gestacional no momento da entrevista foi 34 semanas e a mediana da idade gestacional no momento do parto foi 38,4 semanas. Em relação à amostra, 13,2% pontuaram = 85 no W DEQ(A), indicando medo do parto muito elevado e 4,8% pontuaram = 100, indicando tocofobia. Houve associação entre medo do parto muito elevado e sintomas ansiosos (p<0,001), experiências negativas em partos anteriores (p<0,001), gravidez não planejada (p=0,031) e histórico de violência sexual e/ou física (p=0,005), porém não houve influência do medo do parto no desfecho do parto e no desfecho do recém-nascido. Os itens mais significantes em relação ao conteúdo do medo foram medo de entrar em pânico (p<0,001), medo de não saber quanto tempo vai durar o trabalho de parto (p<0,001), medo de ter um trabalho de parto muito longo (p<0,001), medo de não ter controle da situação (p<0,001) e medo de sentir dor no parto (p<0,001). Conclui-se que apesar da alta prevalência do medo do parto muito elevado em 13,2% das participantes, não houve influência no desfecho perinatal. Esse e os demais resultados ressaltam a necessidade de triagem sistemática, intervenções direcionadas e individualizadas e treinamento da equipe multidisciplinar para apoiar a saúde mental das gestantes e promover o bem-estar do binômio materno-fetal Abstract: Fear of childbirth can be defined as a persistent thought of fear about childbirth that limits daily and social activities, and can affect between 3,7% and 43% of the female population. Its main risk factors are depression, anxiety, low social support, and negative previous childbirth experience. This study analyzed the prevalence and perinatal outcome of pregnant women with fear of childbirth treated at a maternity hospital in southern Brazil. The researchers interviewed 363 Brazilian pregnant women, over 18 years old, between 28 and 37 weeks of gestation, treated from July 2021 to November 2023 at the Maternity Hospital of the Hospital de Clínicas Complex of the Federal University of Paraná. The following questionnaires were applied: Wijma Delivery Expectancy Questionnaire Version A (W-DEQ A), Edinburgh Postpartum Depression Scale, Beck Anxiety Inventory, and a sociodemographic and obstetric questionnaire formulated by the authors. Twenty-nine participants were excluded for not completing the W-DEQ(A) in full. Of the 334 participants included in the study, 314 gave birth in the aforementioned maternity hospital, for whom it was possible to analyze the outcome of the birth and the newborn by analyzing the medical records, and 20 gave birth in other maternity hospitals, making this analysis impossible. Regarding the outcome of the birth, the following were investigated: route of delivery, duration of labor, occurrence of dystocia, medicalization or instrumentalization of the birth; and data related to the newborn, such as Apgar score, birth weight, birth weight percentile, admission to the Neonatal Intensive Care Unit, occurrence of stillbirth or neonatal death. The participants were mostly white (72,5%), married/consensual union (71,9%), multiparous (65,6%), evangelical (41,9%), workers with a formal employment contract (45,9%) and high-risk pregnant women (78,4%). The median age was 29 years, the median gestational age at the time of the interview was 34 weeks, and the median gestational age at delivery was 38,4 weeks. Regarding the sample, 13,2% scored = 85 on the W-DEQ(A), indicating a very high fear of childbirth, and 4,8% scored = 100, indicating tokophobia. There was an association between very high fear of childbirth and anxiety symptoms (p<0.001), negative experiences in previous births (p<0.001), unplanned pregnancy (p=0,031), and history of sexual and/or physical violence (p=0,005), but there was no influence of fear of childbirth on the outcome of childbirth and the outcome of the newborn. The most significant items regarding the content of fear were fear of panicking (p<0,001), fear of not knowing how long labor will last (p<0,001), fear of having a very long labor (p<0,001), fear of not having control of the situation (p<0,001) and fear of feeling pain during labor (p<0,001). It was concluded that despite the high prevalence of fear of labor (13,2% of participants), it had no influence on the perinatal outcome. This and other results highlight the need for systematic screening, targeted and individualized interventions and training of the multidisciplinary team to support the mental health of pregnant women and promote the well-being of the maternal fetal binomial
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