O trabalho no laço : plataformas de microtrabalho e a emergência de solidariedades restritas
Resumo
Resumo: O trabalho em dados se configura como uma atividade central para o funcionamento da economia contemporânea e está na base das mais avançadas tecnologias, como as "inteligências artificiais". No controle e execução desse trabalho predominam, no Brasil, plataformas de microtrabalho, empresas transnacionais que servem a uma rede de clientes globais. Esta pesquisa, com foco etnográfico sociológico, tem como objetivo compreender como uma configuração de trabalho instável e desprotegido, controlado por empresas-plataformas, impacta a formação de redes de solidariedade e perspectivas em relação ao trabalho. O estudo utilizou uma metodologia de pesquisa mista, por meio da combinação de três abordagens: i) análise quantitativa comparada de questionário aplicado a 207 trabalhadores, com foco em seus perfis, experiências e percepções sobre o trabalho controlado por plataformas de microtrabalho e de entregas; ii) observação participante, com inserção em plataformas de microtrabalho durante 6 meses, para compreender práticas de trabalho e suas estruturações; e, iii) entrevistas em profundidade com base no método dos relatos de vida e na análise temática focada em eixos e dimensões que costuram um mosaico de perfis heterogêneos. A análise e integração dos dados coletados permitiu a construção da noção de solidariedades restritas para descrever e explicar as consequências pessoais e sociais da configuração do trabalho controlado por plataformas de microtrabalho. Essa forma de socialidade se configura no contexto de uma cultura do trabalho da sobrevivência e se caracteriza pelo curto alcance dos laços e vínculos sociais formados pelos trabalhadores, com tendência a se limitarem ao núcleo familiar mais próximo, o que se deve principalmente à desestruturação dos espaços e dos tempos de trabalho, à assimetria de poder entre trabalhadores e plataformas e à organização fragmentada e incerta do trabalho por projetos e tarefas sob demanda Abstract: Data work is a central activity for the functioning of the contemporary economy and underlies the most advanced technologies, such as "artificial intelligences". In Brazil, microwork platforms, transnational companies serving a network of global clients, predominate in the control and execution of this work. This research, with a sociological ethnographic focus, aims to understand how an unstable and unprotected work configuration, controlled by platform companies, impacts the formation of solidarity networks and perspectives on work. The study employed a mixed research methodology, combining three approaches: i) comparative quantitative analysis of a questionnaire applied to 207 workers, focusing on their profiles, experiences, and perceptions of work controlled by microwork and delivery platforms; ii) participant observation, with insertion in microwork platforms for six months, to understand work practices and their structurations; and, iii) in-depth interviews based on the life history method and thematic analysis focused on axes and dimensions that weave together a mosaic of heterogeneous profiles. The analysis and integration of the collected data allowed for the construction of the notion of restricted solidarities to describe and explain the personal and social consequences of the configuration of work controlled by microwork platforms. This form of sociality is configured in the context of a work culture of survival and is characterized by the short reach of social ties and bonds formed by workers, tending to be limited to the closest family nucleus, which is mainly due to the disruption of work spaces and times, the power asymmetry between workers and platforms, and the fragmented and uncertain organization of work by projects and on-demand tasks
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- Teses [123]