Conflito político e democracia : uma análise das manifestações estratégicas de antagonismo dos parlamentares brasileiros no Twitter
Resumo
Resumo: Esta pesquisa investiga as expressões de antagonismo estratégico – definido como um processo de construção de inimigos como tática política – no cenário brasileiro atual, considerando o contexto mal-estar que tem abatido o regime democrático do país nos últimos anos. A pergunta que move o estudo é a seguinte: como se constrói e a quem se direciona o antagonismo estratégico nos tweets dos membros do Congresso Nacional e como essas manifestações antagônicas se relacionam com a conjuntura de mal-estar democrático? Para respondê-la, o trabalho segue duas etapas de análise; ambas envolvem a investigação das manifestações de parlamentares no Twitter. A primeira consiste em uma análise de conteúdo automatizada com auxílio do Iramuteq, que ajudou a selecionar o material a ser estudado em uma segunda fase empírica: a de análise de conteúdo categorial. O recorte temporal do estudo compreende o período entre 2019, primeiro ano do mandato de Jair Bolsonaro, até 2022, ano de nova eleição presidencial. Foram coletados 726.533 tweets de 527 deputados(as) federais e senadores(as) que cumpriam mandatos na época. Então, foram analisadas 1.843 publicações, integrantes de uma amostra estratificada representativa do corpus de pesquisa, considerando sete estratégias de antagonismo formadas a partir da literatura: "construção de alteridade", "conspiração", "estigmatização", "ofuscamento", "isca", "reclamação" e "beligerância". Como hipóteses, o estudo sustenta que (1) "petistas" e "esquerdistas" serão frequentemente nomeados como inimigos nos tweets dos parlamentares, principalmente daqueles que se posicionam à direita do espectro político-ideológico; que (2) os tweets antagônicos vão, frequentemente, apresentar posturas anti-instituições, definindo elementos do próprio sistema democrático como inimigos a serem erradicados; que (3) políticos de direita e esquerda se aproximam uns dos outros quando se trata da presença de antagonismo no Twitter, ainda que os alvos definidos como "o inimigo" sejam diferentes; e (4) que, em ano eleitoral (2022), os discursos antagônicos aparecem de maneira mais intensa. Os resultados mostram que "conspiração" e "estigmatização" foram as estratégias mais utilizadas pelos parlamentares, que os atores políticos de partidos de extrema-direita se destacaram como mais antagônicos e que, apesar de evidências contrárias, o ano eleitoral não se mostrou estatisticamente relevante para presença de táticas antagônicas nos tweets analisados Abstract: This research investigates expressions of strategic antagonism—defined as the process of constructing enemies as a political tactic—in the current Brazilian context, taking into account the sense of unease that has afflicted the country’s democratic regime in recent years. The central research question is as follows: How is strategic antagonism constructed, and to whom is it directed in the tweets of National Congress members, and how do these antagonistic expressions relate to the context of democratic malaise? To answer this, the study follows a two-step analysis, both involving the investigation of parliamentary expressions on Twitter. The first step involves an automated content analysis using Iramuteq, which helped in selecting the material for further study in a second empirical phase: categorical content analysis. The study’s time frame covers the period from 2019, Jair Bolsonaro’s first year in office, through 2022, the year of the subsequent presidential election. A total of 726,533 tweets from 527 federal deputies and senators who held office at the time were collected. From this corpus, a stratified representative sample of 1,843 posts was analyzed, examining seven antagonism strategies identified from the literature: "othering," "conspiracy," "stigmatization," "obfuscation," "baiting," "complaint," and "belligerence." The study hypothesizes that (1) "Petistas" (Workers’ Party members) and "leftists" will frequently be labeled as enemies in parliamentarians’ tweets, especially among those on the right of the political-ideological spectrum; (2) antagonistic tweets will often adopt anti-institutional stances, defining elements of the democratic system itself as enemies to be eradicated; (3) both right-wing and left-wing politicians show similar levels of antagonism on Twitter, although their identified "enemies" differ; and (4) in an election year (2022), antagonistic discourse will appear more intensely. Results indicate that "conspiracy" and "stigmatization" were the most used strategies by parliamentarians, with political actors affiliated with far-right parties being the most antagonistic. Although, contrary to expectations, the election year did not statistically affect the presence of antagonistic tactics in the analyzed tweets
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