Desempenho organizacional em organizações policiais como fenômeno social resultante de processos de criação e compartilhamento de conhecimento
Visualizar/ Abrir
Data
2024Autor
Santos, Felipe Haleyson Ribeiro dos
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Resumo: A presente pesquisa tem como objetivo analisar a relação entre o desempenho organizacional e os processos de criação e compartilhamento de conhecimento na Polícia Militar do Paraná (PMPR), considerando o desempenho como um padrão de referência para a execução da atividade policial. O estudo parte da compreensão de que o desempenho em organizações policiais não pode ser reduzido a métricas tradicionais, como indicadores criminais, mas deve ser visto como um fenômeno social complexo e multifacetado, que evolui em resposta às expectativas e mudanças da sociedade. Na revisão da literatura, identificou-se que o desempenho organizacional pode ser abordado em três níveis: individual, organizacional e institucional. No nível individual, o foco está na execução de tarefas pelos policiais e na avaliação de suas atividades rotineiras. No nível organizacional, a análise se concentra em metas e indicadores que refletem o esforço da instituição como um todo. No nível institucional, a ênfase é na legitimidade das ações da corporação, sendo a avaliação pautada na aceitação social da atuação policial. No entanto, este estudo avança ao propor que o desempenho deve ser entendido como um processo dinâmico, influenciado por discursos sociais, legislações e mudanças no contexto político e cultural. Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, foram adotados métodos como entrevistas semiestruturadas com oficiais da PMPR, análise de narrativas de policiais em campo e análise de discurso, especialmente em eventos de grande repercussão, como a operação ocorrida em 29 de abril de 2015 em Curitiba, e a implementação da Lei Seca no Brasil. A análise da evolução da Lei Seca permitiu compreender como as mudanças legislativas moldam a atuação policial, exigindo adaptações na forma de fiscalizar e penalizar infrações de trânsito relacionadas ao consumo de álcool. Ao longo dos anos, a Lei Seca passou por ajustes que refletiram o contexto social e as pressões políticas, demandando da PMPR uma constante atualização dos procedimentos operacionais para atender às novas exigências legais e expectativas sociais. A tese inova ao demonstrar que os processos de criação e compartilhamento de conhecimento, descritos pelo modelo SECI (socialização, externalização, combinação e internalização) de Nonaka e Takeuchi (1995), não apenas impactam o desempenho, mas são também impulsionados pelos padrões de referência de desempenho. Identificou-se que os padrões de referência de desempenho da PMPR não são estáticos; eles evoluem à medida que a sociedade redefine suas expectativas em relação à segurança pública e ao papel da polícia. Esse processo é influenciado por discursos sociais, por meio dos quais diferentes grupos avaliam a legitimidade das ações policiais. A pesquisa revelou que a PMPR possui estruturas formais para disseminar conhecimento, como diretrizes normativas e treinamentos, mas que os policiais também constroem conhecimentos de maneira informal, através de interações cotidianas e compartilhamento de experiências em campo. A análise do evento de 29 de abril de 2015, por exemplo, demonstrou que a ação policial, ainda que tecnicamente correta, foi questionada por parte da sociedade, revelando o descompasso entre a prática policial e as expectativas sociais. De forma semelhante, a aplicação da Lei Seca ilustrou como a legislação pode ser interpretada de forma diversa por diferentes atores sociais, influenciando a maneira como a PMPR lida com a fiscalização de trânsito e a penalização de infratores. Essa tensão entre a prática institucional e as demandas sociais levou a ajustes na forma de atuação da PMPR, evidenciando a importância da legitimidade como um fator que molda o desempenho. Do ponto de vista prático, os achados desta pesquisa são relevantes para repensar a forma como as organizações policiais avaliam seu desempenho, promovem a criação de conhecimento e se adaptam às demandas sociais. O estudo sugere que indicadores tradicionais, como taxas de criminalidade, devem ser complementados por métricas que considerem a preparação dos policiais, a adequação dos recursos disponíveis e a capacidade de adaptação às mudanças legais e sociais. Além disso, aponta para a importância de um diálogo contínuo entre a polícia e a sociedade, visando construir uma percepção mútua de legitimidade que oriente a ação policial. Por fim, a pesquisa contribui para o campo da gestão do conhecimento em organizações públicas, destacando a necessidade de aprofundar o estudo sobre os processos de criação e compartilhamento de conhecimento em contextos específicos, como as forças de segurança. A compreensão de que o conhecimento organizacional influencia, mas também é influenciado pelo desempenho, abre caminho para novas investigações sobre como aprimorar a atuação policial e promover uma sensação de segurança mais alinhada com as expectativas da sociedade Abstract: This research aims to analyze the relationship between organizational performance and the processes of knowledge creation and sharing within the Paraná State Military Police (PMPR), considering performance as a reference standard for conducting police activities. The study is based on the understanding that performance in police organizations cannot be reduced to traditional metrics, such as crime indicators, but should be viewed as a complex and multifaceted social phenomenon that evolves in response to societal expectations and changes. In the literature review, it was identified that organizational performance can be approached at three levels: individual, organizational, and institutional. At the individual level, the focus is on the execution of tasks by police officers and the assessment of their routine activities. At the organizational level, the analysis centers on goals and indicators that reflect the institution's overall efforts. At the institutional level, the emphasis is on the legitimacy of the organization's actions, with evaluation based on social acceptance of police actions. However, this study advances by proposing that performance should be understood as a dynamic process, influenced by social discourses, legislation, and changes in the political and cultural context. Given its qualitative nature, the research employed methods such as semi-structured interviews with PMPR officers, narrative analysis of police officers' field experiences, and discourse analysis, particularly focusing on events of significant public impact, such as the operation that occurred on April 29, 2015, in Curitiba, and the implementation of the "Lei Seca" (Zero Tolerance Law) in Brazil. The analysis of the evolution of the "Lei Seca" helped to understand how legislative changes shape police actions, requiring adaptations in how infractions related to alcohol consumption are monitored and penalized. Over the years, the "Lei Seca" underwent adjustments that reflected the social context and political pressures, demanding continuous updates in PMPR's operational procedures to meet new legal requirements and societal expectations. The thesis innovatively demonstrates that the processes of knowledge creation and sharing, as described by the SECI model (socialization, externalization, combination, and internalization) of Nonaka and Takeuchi (1995), not only impact performance but are also driven by reference standards of performance. It was identified that PMPR's reference standards of performance are not static; they evolve as society redefines its expectations regarding public safety and the role of the police. This process is influenced by social discourses, through which different groups assess the legitimacy of police actions. The research revealed that PMPR has formal structures for disseminating knowledge, such as normative guidelines and training, but officers also build knowledge informally through daily interactions and shared experiences in the field. The analysis of the April 29, 2015, event, for instance, demonstrated that police action, though technically correct, was questioned by parts of society, highlighting the gap between police practice and societal expectations. Similarly, the enforcement of the "Lei Seca" illustrated how legislation can be interpreted differently by various social actors, influencing how PMPR deals with traffic enforcement and the penalization of offenders. This tension between institutional practice and social demands led to adjustments in PMPR's actions, highlighting the importance of legitimacy as a factor that shapes performance. From a practical perspective, the findings of this research are significant for rethinking how police organizations evaluate their performance, promote knowledge creation, and adapt to social demands. The study suggests that traditional indicators, such as crime rates, should be complemented by metrics that consider the preparedness of officers, the adequacy of available resources, and the ability to adapt to legal and social changes. Additionally, it emphasizes the importance of continuous dialogue between the police and society, aiming to build a mutual perception of legitimacy that guides police actions. Finally, the research contributes to the field of knowledge management in public organizations, emphasizing the need for further study of the processes of knowledge creation and sharing in specific contexts, such as law enforcement. Understanding that organizational knowledge influences, but is also influenced by performance, opens the way for new investigations into how to improve police work and promote a sense of security that aligns more closely with societal expectations
Collections
- Teses [29]