Violência fetal por uso de substâncias psicoativas em um município da região sul do país

Abstract

Resumo: A violência fetal refere-se aos hábitos nocivos da gestante que podem afetar o feto. Trata-se de notificação obrigatória na Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba desde 2012. O objetivo deste estudo foi quantificar e caracterizar as ocorrências de violência fetal por uso de substâncias psicoativas em Curitiba/PR e relacioná-las com a saúde do recém-nascido. É um coorte histórico de fetos notificados entre janeiro de 2013 a dezembro de 2018 e avaliados posteriormente utilizando os dados do Sistema de Informação de Nascidos Vivos e Sistema de Informação de Mortalidade. Inicialmente, a variável de interesse foi apresentar ou não notificação por Violência Fetal por uso de substâncias psicoativas durante a gestação e utilizou-se como grupo de comparação a população de recém-nascidos sem notificação de violência. Também foi realizada a avaliação específica do grupo que sofreu violência fetal, utilizando como variáveis de desfecho o baixo peso ao nascer e o óbito fetal. As variáveis independentes foram divididas em blocos hierárquicos: características maternas relativas à gravidez e parto e do recém-nascido. Foram tabulados em planilhas do Microsoft Excel e analisados no Programa Epi-Info versão 7.2.4.0. Análises descritivas e bivariada foram realizadas para as distintas situações e valores de p< 0,20 nos testes bivariados foram utilizados como critério para a composição do modelo de regressão logística de cada bloco. Os valores de OR com respectivos intervalos de confiança e valor de p<0,05 foram os parâmetros adotados para avaliação da significância estatística no modelo final. Identificou-se 1.142 notificações de violência fetal e destas, 500 pelo uso de substâncias psicoativas, das quais identificou-se 409 nascidos-vivos e 10 óbitos fetais. A taxa de ocorrência de violência fetal foi de 7,95/1.000 nascidos-vivos e a taxa de violência fetal por uso de substâncias psicoativas 2,83/1000. Escolaridade materna entre 4 a 7 anos (OR 3,11 IC95% 2,45- 3,96), não ter companheiro (OR 7,95 IC95% 4,95-12,78), histórico de filhos mortos (OR 1,57 IC95%1,22-2,01 ), não ser primigesta (OR 2,06 IC95%1,49-2,86), ser dona de casa (OR 1,97 IC95% 1,54-2,54) ou não ter ocupação (OR 5,70 IC95%2,18-15,02), início tardio do pré-natal (OR 1,75 IC95% 1,34-2,90), 1 a 3 consultas no pré-natal (OR 2,70 IC95% 1,83-3,98), parto vaginal (OR 1,54 IC95% 1,20-1,98), baixo peso ao nascer (OR 3,14 IC95% 2,28-4,32) e Apgar<7 no 5º. minuto (OR 2,30IC95% 1,21- 4,72) apresentaram associação estatisticamente significativa com a violência fetal por uso de substâncias psicoativas. Entre as vítimas de violência fetal, excetuando-se os prematuros, como análise de sensibilidade, a ocorrência de baixo peso ao nascer apresentou associação estatisticamente significativa com a escolaridade materna entre 4 a 7 anos de estudo (OR 2,38 IC95% 1,27-4,47), registro da notificação no 2º trimestre (OR 9,55 IC95% 1,22-75,01) e 3 consultas ou menos no pré-natal (OR 3,03 IC95% 1,46-6,31). Quanto ao óbito perinatal, ter filhos mortos (OR 9,60 IC95% 2,03- 45,47) e prematuridade (OR 19,52 IC95%4,15-91,75) se destacaram no modelo final. Os resultados apontam características sociodemográficas de vulnerabilidade para o consumo de substâncias psicoativas na gestação e sugerem impactos na saúde do recém-nascido, evidenciando a necessidade de investimentos em estratégias de prevenção e intervenção.

Abstract: Fetal violence occurs when the woman has harmful habits during pregnancy. It is used by the Municipal Health Department of Curitiba in the Notification Form of Interpersonal/Self-inflicted Violence. The objective of this study was to quantify and characterize the occurrences of fetal violence by use of psychoactive substances in Curitiba/PR and relate them to the health of the newborn. This is a historical cohort of fetuses notified in the period from January 2013 to December 2018 and further evaluated using data from the Live Births Information System and Mortality Information System. Initially, the variable of interest was whether or not to present notification for Fetal Violence due to the use of psychoactive substances during pregnancy and the population of newborns without notification of violence was used as the comparison group. A specific evaluation of the group that suffered fetal violence was also carried out, using low birth weight and fetal death as outcome variables. The independent variables were divided into hierarchical blocks: maternal characteristics related to pregnancy and delivery and of the newborn. They were tabulated in Microsoft Excel and analyzed in the Epi-Info Program version 7.2.4.0. Descriptive and multiple analyses were performed for the different situations and p values < 0.20 in the bivariate tests were used as criteria for the composition of the logistic regression model of each block. The OR values with respective confidence intervals and p-value < 0.05 were the parameters used to evaluate the statistical significance in the final model. We identified 1,142 notifications of fetal violence and of these, 500 due to the use of psychoactive substances, of which 409 live births and 10 fetal deaths were identified. The fetal violence rate was 7.95/1,000 live births and the fetal violence rate due to the use of psychoactive substances was 2.83/1,000. Maternal education between 4 and 7 years (OR 3.11 95%CI 2.45-3.96), not having a partner (OR 7.95 95%CI 4.95-12.78), history of dead children (OR 1.57 95%CI1.22-2.01 ), not be the first pregnancy (OR 2.06 95%CI1.49-2.86), being a housewife (OR 1.97 95%CI 1.54-2, 54) or having no occupation (OR 5.70 95%CI2.18-15.02), late initiation of prenatal care (OR 1.75 95%CI 1.34-2.90), 1 to 3 prenatal visits (OR 2.70 95%CI 1.83-3.98), vaginal delivery (OR 1.54 95%CI 1.20-1.98), low birth weight (OR 3.14 95%CI 2.28-4.32), and Apgar<7 at the 5th. minute (OR 2.30CI95% 1.21-4.72) showed statistically significant association with fetal violence by psychoactive substance use. Among victims of fetal violence, except premature infants, the occurrence of low birth weight was statistically significantly associated with maternal education between 4 and 7 years of school (OR 2.38 95%CI 1.27-4.47), notification in the 2nd trimester (OR 9.55 95%CI 1.22-75.01) and 3 or fewer prenatal visits (OR 3.03 95%CI 1.46-6.31). As for perinatal death, having dead children (OR 9.60 95%CI 2.03-45.47) and prematurity (OR 19.52 95%CI4.15-91.75) stood out in the final model. The results point to sociodemographic characteristics of vulnerability for the consumption of psychoactive substances in pregnancy and suggest impacts on the health of the newborn, highlighting the need for investment in prevention and intervention strategies.