Estudo do componente sensorial e emocional da dor orofacial em ratos jovens machos e fêmeas
Resumo
Resumo: As crianças são frequentemente afetadas por condições de dor orofacial aguda, mas poucas opções terapêuticas eficazes e seguras estão disponíveis. O medicamento mais utilizado para controle da dor em crianças é o paracetamol, um analgésico não opioide historicamente considerado seguro para a população pediátrica. No entanto, nos últimos anos o seu perfil de segurança e eficácia têm sido questionados. É importante ressaltar que a maioria dos estudos pré-clínicos que avaliam a ação do paracetamol são realizados em ratos machos adultos. O presente estudo teve como objetivo caracterizar as respostas sensoriais e emocionais de ratos jovens machos e fêmeas no teste de formalina orofacial, bem como investigar o efeito do paracetamol. Ratos Wistar machos e fêmeas (21 a 35 dias) foram tratados com paracetamol (100 mg/kg ou 300 mg/kg) ou veículo sistemicamente seguido da injeção de formalina a 2,5% ou solução salina estéril, ambos no volume de 50 µL, no lábio superior direito. O comportamento de grooming facial induzido pela formalina foi registrado por 30 minutos, concomitantemente à captação da emissão de vocalizações ultrassônicas (USV). Sequencialmente, os animais foram avaliados no teste do campo aberto por 5 minutos. O teste de formalina orofacial foi utilizado para avaliar o componente sensorial da dor e nossos resultados demonstram que a formalina induziu uma resposta nociceptiva bifásica em ratos jovens machos e fêmeas. A formalina induziu um aumento significativo do tempo de grooming facial nos períodos entre 0-3 min e entre 12-30 min, que correspondem às fases I e II do teste, respectivamente. Entretanto, o tratamento com paracetamol não modificou a resposta nociceptiva induzida pela formalina em machos, e apenas na maior dose causou redução significativa da fase II da resposta em fêmeas. A análise das USVs foi utilizada para avaliar o componente emocional da dor, porém não mostrou relação com o comportamento nociceptivo induzido pela formalina. Não houve diferença significativa na análise de USV do tipo aversiva ou apetitiva, bem como não houve diferença entre os subtipos das USV porém, vale destacar que a análise apresentou grande variabilidade entre os grupos, o que exigiu a transformação matemática dos dados para que atendesse ao critério de homogeneidade e normalidade da amostra. Cabe mencionar que o paracetamol na sua maior dose tendeu a diminuir parâmetros das USV, principalmente em ratos machos jovens, como o número de vocalizações e a duração da vocalização. No teste em campo aberto a formalina causou redução na velocidade e distância percorrida apenas em ratos machos, assim como o paracetamol per se em sua maior dose, sugerindo um efeito sedativo, que pode estar relacionado com a tendência observada na análise de USV. O número de cruzamentos pelo centro do teste em campo aberto não sofreu alteração em nenhum dos grupos de ambos os sexos, o que indica que o paracetamol ou a formalina não causaram comportamento do tipo ansioso no animal. Concluindo, indivíduos jovens do sexo masculino podem não se beneficiar do efeito analgésico do paracetamol em algumas condições dolorosas, mas podem ser mais susceptíveis aos seus efeitos adversos. Portanto, estudos pré-clínicos e clínicos que incluam o sexo como variável são claramente justificados para determinar a segurança e eficácia do paracetamol na população pediátrica Abstract: Children are frequently affected by acute orofacial pain conditions, but few effective and safe therapeutic options are available. The most used medication for pain control in children is paracetamol, a non-opioid analgesic historically considered safe for the pediatric population. However, in recent years its safety profile and efficacy has been questioned. It is important to highlight that most preclinical studies that evaluate the effect of paracetamol are carried out in adult male rats. The present study aimed to characterize the sensory and emotional responses of male and female juvenile rats in the orofacial formalin test, as well as to investigate the effect of paracetamol. Male and female Wistar rats (21 to 35 days) were treated with either paracetamol (100 mg/kg or 300 mg/kg) or vehicle systemically followed by injection of 2.5% formalin or sterile saline, both in a volume of 50 µL, into the upper right lip. Formalin-induced facial grooming behavior was recorded for 30 minutes, concomitantly with the capture of ultrasonic vocalizations (USV). Sequentially, the animals were evaluated in the open field test for 5 minutes. The orofacial formalin test was used to evaluate the sensory component of pain, and our results demonstrate that formalin induced a biphasic nociceptive response in male and female juvenile rats. Formalin induced a significant increase in facial grooming time in periods between 0-3 min and between 12-30 min, which correspond to phases I and II of the test, respectively. However, treatment with paracetamol did not modify the nociceptive response induced by formalin in males, and only at the highest dose caused a significant reduction in the phase II response in females. The analysis of USVs was used to evaluate the emotional component of pain but did not show a relationship with the nociceptive behavior induced by formalin. There was no significant difference in the analysis of USV of the aversive or appetitive type, as well as no difference between the USV subtypes, however, it is worth highlighting that the analysis showed great variability between the groups, which required mathematical transformation of the data to comply with the sample homogeneity and normality criterion. It is worth noting that paracetamol at its highest dose tended to reduce USV parameters, especially in young male rats, such as the call numbers and call lengths. In the open field test, formalin caused a reduction in speed and distance covered only in male rats, as did paracetamol per se in its highest dose, suggesting a sedative effect, which may be related to the trend observed in the USV analysis. The number of crossings through the center of the open field test did not change in any of the groups of both sexes, which indicates that paracetamol or formalin did not cause anxiety-like behavior in the animals. In conclusion, young males may not benefit from the analgesic effect of paracetamol in some painful conditions but may be more susceptible to its adverse effects. Therefore, preclinical and clinical studies that include sex as a variable are clearly warranted to determine the safety and efficacy of paracetamol in the pediatric population
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