Percepções de crianças em idade escolar em relação às pessoas com deficiência : um estudo sobre a influência do contato com materiais relacionados aos jogos paralímpicos
Resumo
Resumo: A deficiência é considerada um atributo negativo incompatível com os padrões de corpo e capacidades socialmente valorizados. As pessoas com deficiência (PCDs) costumam ser percebidas com base em estigmas relacionados à deficiência e estereotipadas como incapazes, dependentes e vulneráveis. Elas enfrentam uma série de barreiras ambientais, sociais e atitudinais. As barreiras atitudinais geram preconceito e discriminação. O preconceito sofrido por PCDs, denominado capacitismo, decorre da crença de que existe um padrão de corpo, habilidades e capacidades que devem ser mais valorizados que outros. Aqueles que não os têm, são desvalorizados. O contato com PCDs influencia na forma como as pessoas entendem e se relacionam com este grupo. Quando positivo, ele pode auxiliar na redução do preconceito e a melhorar percepções e interações sociais. O contato feito através da mídia é chamado de parassocial. O objetivo deste trabalho foi o de explorar as percepções de crianças com idade entre sete e 11 anos, estudantes de uma escola municipal de Campina Grande do Sul - PR a respeito das PCDs e averiguar se o contato parassocial com materiais midiáticos relacionados aos Jogos Paralímpicos pode modificar a percepção delas em relação às PCDs. Participaram da pesquisa 137 crianças entre sete e 11 anos. Realizamos sete grupos focais com turmas do 3° ao 5° ano, seguindo duas dinâmicas: na primeira, solicitamos que as crianças escrevessem até cinco palavras-chave sobre o que pensam quando ouvem a expressão "pessoa com deficiência". Na segunda, realizamos uma entrevista semiestruturada para melhor entendermos como elas percebiam as PCDs. Em seguida, promovemos o contato parassocial e repetimos as mesmas dinâmicas para compararmos os dados obtidos antes e depois do contato. Antes do contato, 34 crianças não sabiam o significado do termo "PCD" e 65 não conheciam nenhuma PCD. As crianças que se manifestaram expressaram sentimentos negativos e demonstraram focar no comprometimento das PCDs. Elas revelaram percepções capacitistas ao estigmatizar as PCDs como incapazes, doentes e com traços de personalidade/comportamentos negativos. Após o contato parassocial elas expressaram sentimentos positivos e passaram a reconhecer as capacidades esportivas, artísticas e rotineiras das PCDs. No entanto, o vídeo causou um efeito negativo: 15 crianças passaram a apresentar expectativas irrealistas em relação às capacidades das PCDs em geral, afirmando que todas as PCDs podem fazer tudo o que quiserem. Esse efeito destaca a importância de uma mediação pedagógica que faça com que as crianças reconheçam que as habilidades variam entre as pessoas e que várias barreiras podem prejudicar o desenvolvimento completo de todas as pessoas, com ou sem deficiência. A metodologia que desenvolvemos pode ser utilizada por professores como uma ferramenta educacional para melhorar percepções de crianças em relação às PCDs e desenvolver uma perspectiva mais realista acerca da realidade delas. Abstract: Disability is considered a negative attribute incompatible with socially valued body standards and abilities. People with disabilities (PWDs) are often perceived through the lens of disabilityrelated stigmas and stereotyped as incapable, dependent, and vulnerable. They encounter various environmental, social, and attitudinal barriers. Attitudinal barriers give rise to prejudice and discrimination. The prejudice experienced by PWDs, known as ableism, stems from the belief that there is a standard body type, abilities, and capacities that should be more highly regarded than others. Those who do not possess them are devalued. Interaction with PWDs influences how people understand and relate to this group. When positive, it can help reduce prejudice and improve social perceptions and interactions. Media-mediated contact is referred to as parasocial. The aim of this study was to explore the perceptions of children aged seven to 11, students at a municipal school in Campina Grande do Sul, Brazil, regarding PWDs and to ascertain whether parasocial contact with media materials related to the Paralympic Games could alter their perceptions of PWDs. A total of 137 children aged seven to 11 participated in the study. We conducted seven focus groups with classes from the 3rd to the 5th grade, employing two dynamics. In the first, we asked children to write up to five keywords about what comes to mind when they hear the term "person with a disability." In the second, we conducted a semi-structured interview to gain a better understanding of how they perceived PWDs. Subsequently, we facilitated parasocial contact and repeated the same dynamics to compare the data obtained before and after the contact. Prior to contact, 34 children did not know the meaning of the term "PWD," and 65 were unfamiliar with any PWDs. The children who did express themselves conveyed negative feelings and seemed to focus on the limitations of PWDs. They revealed ableist perceptions by stigmatizing PWDs as incapable, ill, and possessing negative personality/behavior traits. After parasocial contact, they expressed positive feelings and began to recognize the sporting, artistic, and everyday capabilities of PWDs. However, the video had a negative effect: 15 children developed unrealistic expectations about the abilities of PWDs in general, asserting that all PWDs can do whatever they want. This effect underscores the importance of pedagogical mediation to help children understand that abilities vary among individuals and that various barriers can hinder the full development of all people, with or without disabilities. The methodology we have developed can be used by teachers as an educational tool to improve children's perceptions of PWDs and develop a more realistic perspective of their reality.
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