A ditadura no divã : memórias de psicanalistas brasileiros e argentinos sobre o regime militar nos anos 1970

Abstract

Resumo: As relações entre psicanálise e ditadura militar têm sido tema de muitos estudos. Ocupam um lugar de grande relevância na historiografia da história da psicanálise no Brasil, principalmente pelas controvérsias dessa relação, marcada por um posicionamento predominante de neutralidade política das sociedades psicanalíticas ligadas à IPA frente às atrocidades e ao cerceamento da liberdade praticados pelo regime vigente. Considerando essa mesma relação, a Argentina, de forte tradição psicanalítica, passou por um contexto muito semelhante na década de 1970, porém com uma marca própria que não pode ser ignorada enquanto diferença entre os dois países nesse capítulo da história: a saída de muitos de seus psicanalistas, que migraram para o Brasil. Quais são as memórias individuais e coletivas dos "velhos psicanalistas", brasileiros e argentinos, que viveram essa época, contraditoriamente marcada tanto pelas perseguições políticas quanto pelo estabelecimento, difusão e consolidação da psicanálise em seus territórios? Valendo-se de toda potência da história oral, esta dissertação tem como objetivo pesquisar o tema psicanálise e ditadura militar a partir de memórias de psicanalistas que testemunharam aquele tempo. A pergunta sugerida por Verena Alberti – "como os entrevistados viam ou veem o tema em questão"- foi a linha condutora dos depoimentos obtidos, cujas respostas foram alicerçadas em suas próprias vivências e sentimentos, conferindo pessoalidade a respeito do que já se sabe sobre esse tempo da história da psicanálise no Brasil e na Argentina.

Abstract: The relations between psychoanalysis and military dictatorial period have been the subject of many studies. They occupy a place of great relevance in the historiography of the history of psychoanalysis in Brazil, mainly due to the controversies of this relationship, marked by a predominant stance of political neutrality of psychoanalytic societies affiliated with the IPA in the face of the atrocities and the curtailment of freedom practiced by the current regime. Considering this same relationship, Argentina, with a strong psychoanalytic tradition, went through a very similar context in the 1970s, but with its own mark that cannot be ignored as a difference between the two countries in this chapter of history: the departure of many from its psychoanalysts, who migrated to Brazil. What are the individual and collective memories of the "old psychoanalysts", Brazilians and Argentines, who lived through this era, paradoxically marked both by political persecution and by the establishment, diffusion and consolidation of psychoanalysis in their territories? Utilizing the full potential of oral history, this dissertation aims to research the theme of psychoanalysis and military dictatorship based on the memories of psychoanalysts who witnessed that time. The question suggested by Verena Alberti – "how the interviewees saw or see the subject in question" – was the guiding line of the obtained testimonies, whose answers were grounded in their own experiences and feelings, conferring a personal perspective on what is already known about this period in the history of psychoanalysis in Brazil and Argentina.