Percepções sobre a aplicação do modelo de atenção às condições crônicas na atenção primária à saúde e atenção ambulatorial especializada no Paraná

Abstract

Resumo: A população mundial experimenta importantes mudanças nos padrões de adoecimento e mortalidade nas últimas décadas. No Brasil, a transição epidemiológica e demográfica impacta nas condições de saúde da população, resultando no predomínio da morbimortalidade por condições crônicas. O modelo de atenção à saúde vigente para usuários no Sistema Único de Saúde precisa ser transformado, com menor enfoque nas condições agudas e às agudizações de condições crônicas mal manejadas, e predomínio de ações que promovam o cuidado das pessoas acometidas por condições crônicas. O sanitarista mineiro Eugênio Vilaça Mendes propôs um modelo de atenção para acompanhar o avanço dessas condições, denominado Modelo de Atenção às Condições Crônicas. No Paraná, existem estratégias de educação permanente e cofinanciamento de serviços com foco no modelo de atenção proposto por Mendes. Trata-se de estudo descritivo e exploratório, de abordagem qualitativa, que analisou as percepções dos profissionais da Atenção Primária à Saúde e Atenção Ambulatorial Especializada sobre a implementação do Modelo de Atenção às Condições Crônicas. Foram realizados 4 grupos focais em duas unidades de saúde e dois ambulatórios especializados, entre os meses de abril e julho de 2023, com a participação de 37 profissionais de saúde. Os grupos resultaram na gravação de um total de 3 horas e 37 minutos de discussão sobre a temática. Ainda, foram coletados dados por meio de questionário eletrônico, para traçar o perfil dos participantes do estudo. A transcrição e a leitura flutuante do material transcrito ocorreram a partir do referencial de Gomes (2020), à luz da análise de conteúdo temática. Ocorreu a análise horizontal do material, por meio da identificação de elementos comuns em falas de diferentes participantes, que resultou em três temáticas e nove núcleos de sentido. As discussões permearam os processos de trabalho nas unidades de saúde e ambulatórios, o cuidado compartilhado de usuários com Hipertensão Arterial Sistêmica e Diabetes Mellitus, e as percepções dos profissionais de saúde sobre o autocuidado dos usuários. Nas falas identificou-se que a elaboração do plano de cuidados é incipiente devido à incompreensão de profissionais e usuários sobre a ferramenta. Nas unidades de saúde o acesso ocorre na lógica do atendimento agudo, e o compartilhamento do cuidado por intermédio de centrais de regulação. A prática colaborativa entre profissionais do mesmo serviço ou entre diferentes níveis de atenção foi observada nas falas. Para a transição do cuidado entre ambulatório especializado e unidades de saúde observou-se ainda a lógica da contrarreferência nos relatos dos profissionais. As equipes de saúde citaram os desafios da corresponsabilização do usuário pelo seu próprio cuidado, assim como as dificuldades com o letramento em saúde e a fragilidade nas redes de apoio social formal e informal. Estratégias de educação permanente, políticas públicas estruturadas e financiamento específico são propulsores para a consolidação do Modelo.

Abstract: The world population has experienced important changes in the patterns of illness and mortality in recent decades. In Brazil, the epidemiological and demographic transition has had an impact on the population's health conditions, resulting in a predominance of morbidity and mortality due to chronic conditions. The current health care model for users of the Unified Health System needs to be transformed, with less focus on acute conditions and the exacerbations of poorly managed chronic conditions, and a predominance of actions that promote the care of people affected by chronic conditions. Eugênio Vilaça Mendes, a health worker from Minas Gerais, proposed a model of care to accompany the advance of these conditions, called the Chronic Conditions Care Model. In Paraná, there are strategies for continuing education and co-financing of services focused on the model of care proposed by Mendes. This is a descriptive and exploratory study with a qualitative approach, which analyzed the perceptions of Primary Health Care and Specialized Outpatient Care professionals about the implementation of the Chronic Conditions Care Model. Four focus groups were held in two health units and two specialized outpatient clinics between April and July 2023, with the participation of 37 health professionals. The groups resulted in the recording of a total of 3 hours and 37 minutes of discussion on the subject. In addition, data was collected using an electronic questionnaire to establish the profile of the study participants. The transcription and floating reading of the transcribed material was based on Minayo, Deslandes and Gomes (2020). The material was analyzed horizontally by identifying common elements in the speeches of different participants, which resulted in three themes and nine nuclei of meaning. The discussions permeated the work processes in health units and outpatient clinics, the shared care of users with Systemic Arterial Hypertension and Diabetes Mellitus, and the perceptions of health professionals about users' self-care. It was found that the development of the care plan is incipient due to the lack of understanding of the tool among professionals and users. In the health units, access is based on the logic of acute care, and care is shared through regulation centers. Collaborative practice between professionals in the same service or between different levels of care was observed in the speeches. For the transition of care between specialized outpatient clinics and health units, the logic of counter-referral was also observed in the professionals' reports. The health teams mentioned the challenges of the user's co-responsibility for their own care, as well as difficulties with health literacy and weaknesses in formal and informal social support networks. Permanent education strategies, structured public policies and specific funding are key to consolidating the model.