Prevalência de dificuldades alimentares em crianças nascidas prematuras e fatores perinataias e neonatais associados

Abstract

Resumo: : Alimentação é o processo complexo de ingestão de nutrientes para a manutenção da vida. Envolve além do aspecto nutricional propriamente dito, as dimensões médicas, relacionais ou sociais e a das habilidades neuromotoras do indivíduo que se alimenta. Depende de aprendizado e desenvolvimento. Devido à complexidade do processo de alimentação, é frequente nos consultórios pediátricos a queixa de problemas com a alimentação. Dificuldade Alimentar é um termo amplo que envolve todos os problemas relacionados a alimentação, abrange desde problemas leves como erros de interpretação dos pais, situações transitórias como neofobia alimentar ou baixo apetite em decorrência de doenças agudas até transtornos mais graves como a seletividade alimentar grave que ocorre no Transtorno Alimentar Restritivo/Evitativo. Crianças prematuras apresentam características singulares, que as tornam mais suscetíveis às dificuldades alimentares. Objetivos: Descrever a prevalência de DA em crianças com idade entre seis meses de idade corrigida e seis anos e onze de idade, que nasceram prematuras, utilizando o questionário EBAI e analisar e identificar as possíveis relações entre a prevalência das dificuldades alimentares com as condições perinatais e neonatais. Métodos: Estudo ambispectivo transversal, no qual o questionário Escala Brasileira de Alimentação Infantil foi aplicado aos pais de 129 crianças acompanhadas em ambulatório de prematuro em um hospital terciário, com objetivo de avaliar a prevalência de dificuldade alimentar nesta população. As variáveis estudadas foram coletadas retrospectivamente nos prontuários. Resultados: Quinze crianças (11,62%) apresentaram dificuldade alimentar que variou de leve a grave. Algumas variáveis mostraram influência significativa no aparecimento de dificuldades alimentares. As crianças que nasceram pequenas para a idade gestacional apresentaram maior prevalência (p=0,027), ao passo que, crianças que fizeram fototerapia (p=0,005) ou cujas mães tiveram diabetes gestacional (p=0,04) apresentaram menor prevalência. O tempo de fototerapia mostrou relação inversa, porém fraca com comprometimento do domínio sensório-oral, já o tempo de algum suporte ventilatório mostrou relação direta, e também fraca com comprometimento do domínio Motor-Oral, mas não afetaram a prevalência de Dificuldades Alimentares. Conclusão: A prevalência de dificuldades alimentares na população estudada foi de 11,62%. Dentre as variáveis estudadas, apenas nascer pequeno para idade gestacional, ser submetido à fototerapia e ter mãe com Diabetes Mellitus Gestacional influenciaram significativamente a prevalência. Este é um estudo pioneiro, pois é a primeira aplicação da Escala Brasileira de Alimentação Infantil em prematuros brasileiros e mostrou resultado coerente com o encontrado na aplicação de escala semelhante em outros países.

Abstract: Feeding is the intricate process of nutrient intake for life maintenance, encompassing not only the nutritional aspect but also medical, relational, social dimensions, and the neuro-motor skills of the individual involved. It relies on learning and development. Due to the complexity of the feeding process, Pediatric clinics often encounter complaints of feeding difficulties. Feeding difficulty is a broad term encompassing all issues related to feeding, ranging from mild problems such as parental misinterpretations, transient situations like food neophobia or reduced appetite due to acute illnesses, to more severe disorders such as severe food selectivity, like Avoidant/Restrictive Food Intake Disorder. Premature infants exhibit unique characteristics that make them more susceptible to feeding difficulties. Objectives: To describe the prevalence of long-term feeding difficulties in children aged between six months and six years and eleven months who were born prematurely, through the application of the Brazilian Scale of Infant Feeding, and to analyze and identify possible relationships between the prevalence of feeding difficulties and perinatal and neonatal conditions. Methods: A cross-sectional ambispective study in which the Brazilian Infant Feeding Scale (EBAI) questionnaire was administered to parents of 129 children attending a premature outpatient clinic in a tertiary hospital to assess the prevalence of FD in this population. The studied variables were retrospectively collected from medical records. Results: Fifteen children (11.62%) presented feeding difficulties ranging from mild to severe. Some variables showed a significant influence on the onset of feeding difficulties: Children born small for gestational age had a higher prevalence (p=0.027), whereas children who underwent phototherapy (p=0.005) or whose mothers had gestational diabetes (p=0.04) had a lower prevalence. Conclusion: The prevalence of feeding difficulties in the studied population was 11.62%. Among the studied variables, only being born small for gestational age, undergoing phototherapy, and having a mother with Gestational Diabetes Mellitus significantly influenced the prevalence. The first application of the Escala Brasileira de Alimentação Infantil in Brazilian preterm infants showed results consistent with those found in the application of a similar scale in other countries.