Entre o câncer e a covid-19 : experiências e vozes de filhas e filhos que cuidaram de mães ou de pais
Resumo
Resumo: Como as filhas e os filhos perceberam as suas experiências, e como organizaram os cuidados às mães e aos pais doentes com câncer e de si próprios em um momento pandêmico? Como esse contexto desafiou as relações de cuidado? Ele ofereceu dimensões para se pensar o cuidado? Foram essas as perguntas que nortearam o presente trabalho de tese. A fim de persegui-las, procurei pessoas que pudessem colaborar comigo em grupos do Facebook que tinham o câncer como tema, em minha rede de relações e, em menor medida, nas redes sociais Black and Black e Instagram. De maio a dezembro de 2020, foram entrevistadas treze pessoas, onze mulheres e dois homens. No entanto, nesta tese, coloco o foco em dez narrativas, narrativas de pessoas colaboradoras que atendiam aos seguintes critérios: eram filhas e filhos que estavam cuidando de mães ou de pais doentes com câncer, no contexto da pandemia de COVID-19. Com a permissão das pessoas colaboradoras, as entrevistas foram gravadas na forma de áudios, sendo posteriormente transcritas e tendo seus principais temas organizados em uma tabela para análise de conteúdo. A pandemia foi percebida por pessoas filhas que cuidaram como uma configuradora de limitações, de medos e de riscos para que cuidados adequados a pessoas que experimentavam algum tipo de câncer acontecessem: ora confinando-as ao espaço da casa, garantindo-lhes um rol restrito de atividades em termos de lazeres e distrações, ora expondo-as à rua quando visitas às instituições médicas se faziam necessárias. Outro aspecto concerne a um atraso de diagnósticos de cânceres na relação com o Sistema Único de Saúde (SUS), evocando em pessoas filhas frustrações por uma falta de sorte e pelo tempo perdido. Além disso, foi percebido que a pandemia de COVID-19 não desestabilizou de forma significativa, no âmbito das relações estudadas nesta pesquisa, a percepção de que a provisão de cuidados é um dever das famílias, ou ainda, um dever de pessoas filhas para com mães e/ou pais. E a ideia de dever filial reproduz uma configuração na qual as mulheres são as principais responsabilizadas pela oferta de cuidados. Por fim, nota-se que a autonomia das pessoas cuidadas e a oferta de cuidados por parte de quem cuida constituem zonas de constante negociação. Abstract: How did daughters and sons perceive their experiences, and how did they organize the care of their mothers and fathers who were ill with cancer and of themselves during a pandemic? How did this context challenge care relationships? Did it offer dimensions for thinking about caregiving? These were the questions that guided this thesis. To address them, people who could collaborate were searched in Facebook groups that had cancer as a subject, in my network of relations, and, to a lesser extent, on the social networks Black and Black and Instagram. From May to December 2020, thirteen people were interviewed: eleven women and two men. However, in this thesis, the focus is on ten narratives and narratives of collaborators who met the following criteria: they were daughters and sons who were caring for mothers or fathers who were ill with cancer in the context of the COVID-19 pandemic. With the collaborators' permission, the interviews were recorded in audio format and later transcribed, with their main topics arranged in a table for content analysis. Caregivers perceived the pandemic as a factor that caused limitations, fears, and risks for the proper care of people suffering from some form of cancer: at times confining them to the home, guaranteeing them a restricted list of activities in terms of leisure and distractions, and at other times exposing them to the streets when doctor visits were necessary. Another aspect concerns a delay in cancer diagnoses concerning Brazil's Unified Public Health System (SUS), evoking in daughters and sons frustrations due to a lack of luck and lost time. In addition, it was noted that the COVID-19 pandemic has not significantly destabilized, within the scope of the relationships studied in this research, the perception that the provision of care is a duty of families or even a duty of daughters and sons towards mothers and/or fathers. Moreover, the idea of filial duty reproduces a configuration in which women are primarily responsible for providing care. Finally, it should be noted that the autonomy of the people being cared for and the provision of care by the caregiver are areas of constant negotiation.
Collections
- Teses [112]