Perfil sensorial no transtorno do espectro autista : comorbidades psiquiátricas e quociente de inteligência
Resumo
Resumo: INTRODUÇÃO: As alterações sensoriais no Transtorno do Espectro Autista (TEA) são notáveis desde as primeiras descrições realizadas por Kanner em 1943 e estão entre os marcadores mais precoces de crianças mais tarde diagnosticadas com TEA. Apesar do impacto das alterações sensoriais relatado por pacientes autistas em sua vida diária, poucos estudos descrevem estas características em pacientes com nível leve de TEA. OBJETIVOS: Descrever as alterações sensoriais no TEA e correlacioná-las com comportamento, comorbidades psiquiátricas e Quociente de Inteligência (QI). MÉTODOS: Estudo transversal cuja amostra foi composta por 85 pacientes de 6 a 15 anos, com diagnóstico prévio de TEA, verbais e alfabetizados. O diagnóstico de TEA foi confirmado por avaliação psiquiátrica e psicológica utilizando os instrumentos K-SADS-PL-DSM-5, ADI-R e ADOS-2. O QI Total foi obtido pela aplicação do WISC-IV e o processamento sensorial foi descrito baseado no instrumento Perfil Sensorial 2 (Criança – Questionário do Cuidador). RESULTADOS: 85,9% (n=73) eram meninos; a média de idade foi de 9,94 anos (DP± 2,12 anos). Um total de 81,17% (n=69) apresentou alteração sensorial em pelo menos um quadrante ou uma seção sensorial ou comportamental. O maior número de seções sensoriais afetadas esteve relacionado à maior frequência de alterações nas seções comportamentais Conduta (p<0,01) e Atenção (p=0,02). Quanto às comorbidades psiquiátricas, estiveram presentes em 80% (n=68) dos pacientes e a mais prevalente foi o TDAH, com 57,6% (n=49). Um maior número de comorbidades esteve associada a maiores alterações nos quadrantes Exploração (p=0,02), Esquiva (p=0,03), Observação (p<0,01), na seção sensorial Posição do Corpo (p=0,04), e nas seções comportamentais Socioemocional (p<0,01) e Atenção (p=0,04). Individualmente, o perfil de alterações sensoriais foi distinto para cada uma das comorbidades, sendo que maiores alterações foram encontradas para os Transtornos ansiosos. Um QIT<70, foi encontrado em 16,5% (n=14) dos pacientes, enquanto 83,5% (n=71) apresentaram QIT=70 e não houve correlação do QIT com alterações sensoriais ou comportamentais. A hipersensibilidade para estímulos sensoriais foi apontada por 63,5% (n=54) dos pais como uma das causas que levaram à investigação diagnóstica, mas não esteve relacionada à maior precocidade no diagnóstico (p=0,90). CONCLUSÕES: Este estudo confirma a alta prevalência das alterações sensoriais em pacientes com TEA e relaciona a presença de comorbidades psiquiátricas a maiores alterações sensoriais. Os achados reafirmam a importância de que os profissionais que trabalham com esta população estejam atentos a estes sintomas, não apenas como critério diagnóstico, mas também como causadores de sofrimento e de impactos no comportamento, que podem ser amenizados com tratamento específico e adequações nos espaços frequentados pelos pacientes. Abstract: INTRODUCTION: The sensory abnormalities in Autism Spectrum Disorder (ASD) can be noted since Kanner’s early descriptions in 1943 and are among the earliest markers of infants later diagnosed with ASD. Despite the sensory abnormalities’ impact in daily life described by autistic patients, few studies described these features in patients with mild ASD. OBJECTIVES: To describe the sensory abnormalities in patients with ASD and to correlate them with behavior, psychiatric comorbidities and Intelligence Quotient (IQ). METHODS: This is a cross-sectional study which sample was composed by 85 patients aged 6 to 15, with previous ASD diagnosis, verbal and literate. The ASD diagnosis was confirmed by psychiatric and psychological assessment using the instruments K-SADS-PL-DSM-5, ADI-R and ADOS-2. Total IQ was obtained through the WISC-IV and the sensory processing was described based on the Sensory Profile 2 (Child – Caregiver Questionnaire). RESULTS: 85,9% (n=73) were boys; the average age was 9,94 y.-o. (SD± 2,12 years). 81,17% (n=69) presented sensory abnormalities in at least one quadrant or sensory or behavioral section. The higher number of affected was related to the higher frequency of abnormalities in the Conduct (p<0,01) and Attention (p=0,02) behavioral sections. 80% (n=68) presented psychiatric comorbidities and the most prevalent was ADHD, with 57,6% (n=49). A greater number of comorbidities was associated with greater abnormalities in Seeking (p=0,02), Avoiding (p=0,03), Low Registration (p<0,01) quadrants, in Body Position (p=0,04) sensory section and in Socioemotional (p<0,01) and Attention (p=0,04) behavioral sections. Individually, the sensory profile abnormalities were different for each comorbidity, and the worst profile was manifested in Anxiety disorders. 16,5% (n=14) presented Total IQ<70, 83,5% (n=71) =70 and the Total IQ was not correlated with the sensory and behavioral abnormalities. The Overreactivity to sensory stimuli was pointed out by 63,5% (n=54) parents as one of the reasons that lead to a diagnostic investigation, but it was not related to an earlier diagnosis (p=0,90). CONCLUSIONS: This study confirms the high prevalence of sensory abnormalities in patients with ASD and relates the presence of psychiatric comorbidities to greater sensory abnormalities. The findings restate the importance of the professional’s attention to these symptoms, not only as a diagnostic criterion, but also as cause of psychological distress and behavioral impacts that can be improved with specific treatment and adjustments in places attended by patients.
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