(In)consciência vegetariana : uma visão sociológica da formação das práticas do comer vegetariano na contemporaneidade
Resumo
Resumo: O entendimento do vegetarianismo, frequentemente, parte das motivações para aderir a essa prática dietética. Com base nisso, atualmente, é dado como aceito que as principais motivações para deixar ou reduzir o consumo de carne são: a posição ética em relação aos animais; o cuidado com a própria saúde; e a preocupação com o meio ambiente. Essas motivações são, muitas vezes, utilizadas como categoria de segregação das praticantes do vegetarianismo, conferindo-lhes determinadas atitudes e/ou valores de acordo com a razão apresentada. Esse tipo de abordagem, contudo, pode levar a uma certa essencialização das praticantes do vegetarianismo, sugerindo que disposições individuais não apenas orientam a escolha dessa dieta, mas também influenciam o nível de restrição de produtos de origem animal. Esta tese se distancia dessa perspectiva redutiva ao concentrar-se na compreensão do processo de adoção do vegetarianismo, considerando não apenas as motivações, mas, principalmente, as interações que possibilitam a formação da disposição vegetariana. Essa mudança de enfoque implica uma alteração epistemológica da pergunta "Por que você é vegetariano/a?" para "Como você se tornou vegetariano/a?". A resposta a essa indagação é derivada de dados obtidos por meio de 60 respostas a um questionário distribuído em 8 restaurantes vegetarianos em Curitiba, além de 16 entrevistas com 17 participantes. A amostra abrangeu não apenas aqueles que se identificam como vegetarianos, mas também indivíduos com diversas formas de interação com o vegetarianismo, proporcionando uma análise abrangente das experiências variadas com essa prática dietética. A compreensão do desenvolvimento das disposições vegetarianas foi fundamentada na Teoria das Práticas e na Sociologia das Emoções. Por meio dessas abordagens teóricas, observou-se que o desenvolvimento das práticas vegetarianas é mediado por quatro meios principais: Religião, Ciência, Mídia e Relacionamentos Interpessoais. Contudo, ela não é resultado apenas de um processo cognitivo de apreensão de saberes intermediado por esses meios, mas está intimamente relacionada à experiência emocional das participantes. A análise revelou que esses meios não apenas desencadeiam, mas também alimentam emoções específicas que fundamentam as razões para a adesão ou não ao vegetarianismo, assim como a maneira como o "Outro" e o próprio indivíduo são avaliados. Embora diversas experiências emocionais possam ser identificadas nesse processo, destacam-se quatro: culpa, vergonha, orgulho e confiança. A mediação desses meios, juntamente com a experiência emocional, interage com as trajetórias individuais, contribuindo para a diversidade das práticas vegetarianas ao mesmo tempo em que as codifica e objetiva em torno de uma prática comum e reconhecível no sistema alimentar contemporâneo. Abstract: The understanding of vegetarianism often begins with the motivations for adopting this dietary practice. Based on this, it is currently accepted that the main motivations for giving up or reducing meat consumption are: ethical considerations regarding animals, concern for personal health, and environmental awareness. These motivations are often used as a category for segregating practitioners of vegetarianism, attributing certain attitudes and/or values to them based on the stated reasons. However, this approach can lead to a certain essentialization of vegetarian practitioners, suggesting that individual predispositions not only guide the choice of this diet but also influence the level of restriction on animal products. This thesis distances itself from this reductionist perspective by focusing on understanding the process of adopting vegetarianism, considering not only the motivations but, more importantly, the interactions that enable the formation of a vegetarian disposition. This shift in focus implies an epistemological change from "Why are you vegetarian?" to "How did you become vegetarian?" The response to this inquiry is derived from data collected through 60 questionnaire responses distributed in 8 vegetarian restaurants in Curitiba, along with 16 interviews involving 17 participants. The sample encompasses not only those identifying as vegetarians but also individuals with various forms of interaction with vegetarianism, providing a comprehensive analysis of diverse experiences with this dietary practice. The comprehension of the development of vegetarian dispositions is grounded in the Theory of Practices and the Sociology of Emotions. Through these theoretical approaches, it is observed that the development of vegetarian practices is mediated by four main channels: Religion, Science, Media, and Interpersonal Relationships. The development of a vegetarian practice, however, is not merely a result of a cognitive process of acquiring knowledge through these channels but is closely related to the participants' emotional experience. The analysis reveals that these channels not only trigger but also sustain specific emotions that form the basis for the decision to adhere or not to vegetarianism, as well as how the "Other" and the individual are evaluated. While various emotional experiences can be identified in this process, four stand out: guilt, shame, pride, and confidence. The mediation of these channels, along with emotional experience, interacts with individual trajectories, contributing to the diversity of vegetarian practices while encoding them around a common and recognizable practice.
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