Protocolo de tratamento da Síndrome de West com ACTH
Resumo
Resumo: Introdução: a síndrome de West (SW) é uma encefalopatia epiléptica caracterizada por espasmos epilépticos, hipsarritmia no eletroencefalograma e atraso do desenvolvimento neurológico. O hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) é terapia de escolha para tratamento da síndrome, embora com eficácia variada. A combinação entre medicações surge como uma nova opção para seu tratamento, ainda com um número reduzido de estudos sobre a efetividade, recidivas e progressão para outras doenças neurológicas. Objetivos: avaliar a eficácia e progressão para epilepsia e transtorno do espectro autista (TEA) após a terapia combinada (TC) em crianças que não responderam a vigabatrina. Secundariamente descrever a sua tolerabilidade e ocorrência de recidivas. Método: trata-se de uma coorte retrospectiva que incluiu crianças entre 2 meses a 10 anos de idade, diagnóstico confirmado da SW, tratados entre 2001 a 2021 com vigabatrina (VGB) associada ao tetracosactide administrado sequencialmente em dois centros de Neuropediatria e com seguimento de pelo menos 1 ano. Estabeleceu-se como desfecho primário a eficácia e a evolução para epilepsia e TEA. Secundariamente, analisou-se a tolerabilidade à terapia e recidivas. A eficácia foi definida pela remissão clínicoeletroencefalográfica (RCE) após 7 dias, 30 dias e 1 ano da terapia. Resultados e Discussão: dos 47 pacientes selecionados para o estudo, 39 compuseram a amostra final. Setenta e um por cento eram do gênero masculino e 87% apresentavam uma etiologia conhecida para a SW. A dose da VGB variou de 100- 200 mg/Kg, média 143,3 + 29,7. A idade do início dos espasmos, lag do ACTH e a idade na primeira avaliação ocorreram em mediana de 6, 5 e 12 meses respectivamente. A TC levou a RCE ao sétimo, trigésimo dia e em 12 meses de 46,15% (p=0,01), 94,8% (p=0,001) e 74,1% respectivamente. Oitenta e seis por cento desenvolveram efeitos colaterais com a TC, 8 casos (21,5%) evoluíram com recidivas da SW, 58.9% manifestaram outros tipos de crises epilépticas nos 12 meses de seguimento. A TC levou a aumento de internações em 6 meses (p=0,04) e o inicio tardio da SW mostrou uma propensão para efeitos colaterais (p=0,04). Na avaliação final (em mediana de 21 meses), 73,6% desenvolveram epilepsia e 15,7% transtorno do espectro autista. Os pacientes que persistiam com RCE após 1 ano da TC apresentaram uma tendência a menor progressão para epilepsia (p=0,08) e significou a ausência de crises epilépticas na última avaliação (p=0,03). Por outro lado, as recidivas estiveram relacionadas a presença de eventos epilépticos na última avaliação (p=0,03). Conclusão: o presente estudo corrobora com a elevada efetividade da TC, usando medicações de primeira linha de forma sequencial. Também, demonstra um elevado perfil de efeitos colaterais e de progressão para epilepsia e TEA. Finalmente, aponta para a importância das recidivas e RCE prolongada no controle de crises epilépticas em médio prazo. Os presentes dados estimulam a continuidade de estudos randômicos e controlados para confirmar esses achados, assim como para comparar com outros esquemas utilizando TC inicial ou sequencial. Abstract: Background: West syndrome (WS) is an epileptic encephalopathy characterized by epileptic spasms, hypsarrhythmia on electroencephalography, and consequent neurodevelopment delay. The drug's choice treatment is the adrenocorticotrophic hormone (ACTH), with variable efficacy. The combined therapy (CT) emerges as a new WS option, with limited data's efficacy, relapses, and evolution to other neurological disorders. Objectives: to evaluate efficacy and progression to epilepsy and autistic spectrum disorder (ASD) after combined therapy. Secondarily, describe its tolerability and relapses. Method: This retrospective and prospective cohort study included children's WS diagnoses from 2-120 months old, treated with VGB associated with tetracosactide administered sequentially in two centers from 2001- 2021 on one year of minimal follow-up. The primary outcomes were efficacy and the progression to epilepsy and autistic spectrum disorder (ASD) in the final evaluation. Secondarily, we assessed the combined therapy's tolerability and the relapses until 12 months. The efficacy was set in the 7th and 30th days of clinical– electroencephalographic remission (ECR). Results and Discussion: Of 47 patients selected to study, 39 comprised the sample. Seventy-one percent were male, 87% had an etiology known, and the dose range of VGB was 100-200 mg/Kg, an average of 143.3mg/Kg + 29.7. The median of spasms onset, ACTH lag to treat, and age's first evaluation was 6, 5 and 12 months, respectively. After the 7th and 30th days, one year of CT, 46.1%, 94.8% (p=0.001), and 74.1% (p=0.01) had a favorable ECR. Eighty-six percent developed side effects, 21.6% relapsed, and 58.9% had other kinds of epileptic seizures in one year of follow-up. The TC increased hospital admissions at six months (p=0.04), and later spasms onset displayed more side effects (p=0.04). In the last evaluation (median 21 months), 73.6% developed epilepsy and 15.7% ASD. ECR on 12 months assumed the absence of seizures on the final evaluation (p=0.03) and a tendency to epilepsy progression (p=0.08). However, patients with relapses had more epileptic seizures (p=0.03). Conclusion: the data corroborate the high effectiveness of combined therapy using standard sequential drugs with impacts on epilepsy continuity. Also, demonstrate its significant frequency of side effects. Finally, it shows the impact's ECR and relapses on epileptic seizures in the medium term. Our data encourage additional controlled and randomized studies to confirm these results and compare the efficacy of other regimens of drugs with initial and sequential therapies.
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