Consequências do jejum para o peixe antártico Notothenia neglecta (Pisces, Nototheniidae) : aspectos comportamentais, bioquímicos e morfológicos
Visualizar/ Abrir
Data
2001Autor
Moraes, Eloisa Aparecida Ribeiro de
Metadata
Mostrar registro completoResumo
Resumo: A adaptação dos peixes ao ambiente antártico está relacionada à sazonalidade de intensidade luminosa e, consequentemente, disponibilidade de alimento. Isto causa mudanças nos hábitos alimentares e no comportamento dos peixes nas diferentes estações do ano. Notothenia neglecta (Nybelin, 1951) é um teleósteo onívoro, de dieta católica e sujeito à baixa oferta de alimento durante o inverno. O presente trabalho teve como objetivo estudar, através de ensaios em tanques, os efeitos do jejum no comportamento, na composição química e morfologia do fígado e do músculo de N. neglecta. Os peixes foram coletados na Baía do Almirantado (Ilha Rei George) nos verões de 1998/99 e 2000/01, sendo os testes realizados nos laboratórios da Estação Antártica Comandante Ferraz. No experimento, 6 indivíduos para cada grupo de teste foram mantidos em jejum por 7, 15, 20, 30, 45 e 60 dias. Um grupo controle foi alimentado e, um outro grupo, também controle foi analisado imediatamente após a captura na natureza. Notothenia neglecta é um teleósteo sedentário, com baixa atividade, mas mostrou aumento progressivo de agressividade ao longo do jejum. Não foram encontradas diferenças significativas nos níveis de água, proteína e lipídeos teciduais nos tempos experimentais. No músculo experimental foram encontrados em média: 78,5% de água; 6,4% e 3,0% de proteínas; 35,2% e 17,9% de lipídeos expressos em peso úmido e peso seco respectivamente. No fígado, 72,3% de água; 14,4% e 58,1% de proteínas; e 8,8% e 33,3% de lipídeos expressos pelo peso úmido e peso seco. Alterações morfológicas foram observadas através de microscopia óptica no músculo, após jejum, como desaparecimento parcial das estriações e aumento do perimísio na musculatura esquelética. No fígado houve achatamento dos hepatócitos e aumento de vacuolização após jejum. Os resultados indicam que N. neglecta aparentemente reduz seu metabolismo e atividade durante períodos de escassez de alimento, apresentando assim grande capacidade adaptativa à variação sazonal do alimento disponível, garantindo sua sobrevivência no ecossistema antártico. Abstract: The adaptation of fish to the Antarctic environment is related to the seasonality of light intensity and consequent availability of food. This causes changes in the feeding habits and the behavior of fish in different seasons. Notothenia neglecta Nybelin, 1951 is an endemic teleost in Antarctica. It is omnivorous with catholic diet, and subject to low food offer during the Antarctic winter. The present research aimed to study, through experiments in tanks, the effects of starvation on the behaviour of N. neglecta and on the chemical composition and morphology of liver and muscle. Fish were collected from Admiralty Bay (King George Island), during the summers 1998/99 and 2000/01, and the fish tests were conducted at the Brazilian Antarctic Station Comandante Ferraz. Fish were maintained in 1000 liters tanks. In the experiment, 6 individuals for each test group were food deprived for 7, 15, 20, 30, 45 and 60 days, and the control group was fed every day for the same period. Another control group was analysed immediately after capture from the natural environment. N. neglecta are sedentary, and showed very low levels of activity, but increasing aggressiveness along the period of food deprivation. No significant changes were seen in the water, protein and lipid levels along the experimental period. In the muscle mean values of 78.5% water, 6.4% (%DW) and 3.0% (%WW) of protein and 35.2% (%DW) and 17.9% (%WW) of lipids, were obtained, and in the liver 72.3% water, 14.4 % and 58.1% protein and 8.8% and 33.3% lipids. Some morphological changes were noticed in the muscle after starvation, such as partial loss of striation and increase of the perimysium. In the liver, changes in the shape of hepatocytes and increase in vacuolization were observed. Our results indicate that N. neglecta apparently reduces its metabolism and activity in periods of low food supply, showing therefore great adaptive capacity to the seasonal variability in food offer, what guarantees their survival in the Antarctic ecosystem.
Collections
- Dissertações [115]