Aspectos sanitários de ostras cultivadas no Complexo Estuarino de Paranaguá : Vibio parahaemolyticus, Perkinsus sp. e ficotoxinas
Resumo
Resumo: Ostras se alimentam de partículas em suspensão na água, podendo reter em seus tecidos micro-organismos patogênicos, incluindo bactérias e parasitos, e também toxinas produzidas por microalgas, o que pode comprometer seu crescimento e também causar danos à saúde pública por meio de intoxicações alimentares. Este estudo avaliou aspectos sanitários de ostras Crassostrea sp. cultivadas na Ponta Oeste da Ilha do Mel (PO) e em Medeiros (MED), situadas no Complexo Estuarino de Paranaguá (CEP), Paraná-Brasil. Entre junho/2016 e junho/2017, campanhas amostrais foram realizadas, sendo coletadas amostras integradas da coluna d'água e ostras de cada local. Foi aplicado um conjunto de técnicas laboratoriais, incluindo a fermentação em tubos múltiplos para determinação da ocorrência de bactérias Vibrio parahaemolyticus; cultivo em Meio Tioglicolato Fluido de Ray (RFTM), histopatologia e Reação por Polimerase em Cadeia (PCR) para avaliar a prevalência de parasitos Perkinsus sp.; contagem em microscópio invertido para quantificação das microalgas potencialmente tóxicas; e cromatografia líquida (LC-MS/MS e LC-UVD) para detecção das ficotoxinas nos tecidos das ostras e na fração particulada da água do mar. As variáveis biológicas foram relacionadas com fatores abióticos dominantes e entre si, para avaliar a existência de interações significativas no ambiente. A temperatura da água diferiu entre os locais, sendo maior em MED (21,5 a 27°C) do que na PO (21,25 a 26°C) e os valores de salinidade também diferiram entre MED (20 a 22) e PO (24 a 36)Este estudo faz o primeiro relato da presença de Perkinsus marinus e P. cf. olseni em ostras Crassostrea sp. provenientes do CEP. A intensidade da infecção foi predominantemente baixa entre os organismos, exceto no mês de junho/17, quando a infecção foi considerada intensa. A prevalência variou entre 30 a 75% por RFTM e 10 a 75% por PCR, sendo consistentemente maior em novembro/16 nas ostras provenientes da PO. Ao contrário da intensidade da infecção, a prevalência diferiu entre os locais. Além disso, foi possível detectar a presença de V. parahaemolyticus nas ostras de MED e PO, sendo as maiores densidades (>1.100 NMP.g- 1) registradas em novembro/16 e abril/17. Na água, as densidades de V. parahaemolyticus foram superiores em abril/17 (>1.100 NMP.mL-1. No plâncton, diatomáceas foram mais abundantes do que dinoflagelados ao longo do período de estudo, sendo a abundância total de microalgas maior em abril/17. As microalgas potencialmente tóxicas ocorreram em ambos os locais, sendo que o dinoflagelado produtor de toxinas diarreicas, Dinophysis cf. acuminata, ocorreu em maiores abundancias em junho/16 (617 cel.L-1 em MED e 121.265 cel.L-1 na PO) e as diatomáceas penadas potencialmente produtoras de toxinas amnésicas, Pseudo-nitzschia calliantha (252.989 ± 163.600 cel.L-1) e Pseudo-nitzschia pungens (6.779 ± 11.732 cel.L-1), em abril/17. Foram detectadas baixas concentrações da toxina diarreica ácido ocadaico no plâncton em junho/17, tanto em MED (0,24-4,10 ?g.L-1) como na PO (1,57-1,83 ?g.L-1), e altas concetrações nas glândulas digestivas dos bivalves, em junho/16 na PO (639 ± 287 ?g.L- 1), coincidindo com a maior abundância da alga produtora na água. A toxina amnésica ácido domoico não foi detectada nem no plâncton nem nas ostras. As possíveis interações encontradas neste trabalho, sugerem que V. parahaemolyticus esteve diretamente relacionada com a abundância total de células de microalgas no plâncton e inversamente relacionada com a prevalência de Perkinsus sp. Adicionalmente, a abundância de Dinophysis cf. acuminata esteve diretamente relacionada à prevalência de Perkinsus sp. Em conjunto, as densidades relativamente elevadas de V. parahaemolyticus, D. cf. acuminata, Pseudo-nitzschia spp. e Perkinsus spp. encontradas neste estudo despertam preocupação quanto aos possíveis danos à saúde humana e à manutenção da sustentabilidade da atividade de ostreicultura na Baía de Paranaguá, sobretudo se tais parâmetros não forem constantemente monitorados. Abstract: Oysters feed on suspended particles in the water and can retain in their tissues pathogenic microorganisms, including bacteria and parasites, as well as toxins produced by microalgae, which can compromise their growth also damage on public health. This study evaluated the sanitary aspects of Crassostrea sp. In Ponta Oeste (PO) and Medeiros (MED), located in the Estuarine Complex of Paranaguá (CEP), Paraná-Brazil. Between june/2016 and june/2017, sampling campaigns were performed, and samples were collected from the water column and oysters from each site. A set of laboratory techniques was applied, including fermentation in multiple tubes to determine the occurrence of Vibrio parahaemolyticus; culture in Ray Fluid Thioglycollate Medium (RFTM), histopathology and Polymerase Chain Reaction (PCR) to evaluate the prevalence of Perkinsus sp .; count in inverted microscope for quantification of potentially toxic microalgae; and liquid chromatography (LC-MS/MS and LC-UVD) for the detection of phycotoxins in oyster tissues and the particulate fraction of seawater. Biological variables were related to dominant abiotic factors and to each other to evaluate the existence of significant interactions in the environment. Water temperature was higher in MED (21,5 a 27°C) than in PO (21,25 a 26°C). The salinity values also differed between MED (20 to 22) and PO (24 to 36). This study makes the first report of the presence of Perkinsus marinus and P. cf. olseni in oysters Crassostrea sp. from the CEP. The intensity of the infection was predominantly low, except in the month of june/17, when the infection was considered intense. The prevalence ranged from 30 to 75% by RFTM and 10 to 75% by PCR, is consistently higher in november/16 in oysters from PO. Contrary to the intensity of infection, prevalence differed between sites. In addition, it was possible to detect the presence of V. parahaemolyticus in MED and PO oysters, with the highest densities (> 1.100 NMP.g-1) recorded in november/16 and april/17. In water, the densities of V. parahaemolyticus were higher in april/17 (> 1.100 NMP.mL-1. In the plankton, diatoms were more abundant than dinoflagellates throughout the study period, with total microalgae abundance higher in april/17. Potentially toxic microalgae occurred in both sites: the dinoflagellate Dinophysis cf. acuminata (617 cel.L-1 in MED and 121,265 cel.L-1 in the PO) and the diatoms Pseudonitzschia calliantha (252,989±163,600 cel.L-1) and Pseudo-nitzschia punges (6,779±11,732 cel.L-1) in april/17. Low concentrations of ocadaic acid in plankton were detected in june/17 in MED (0.24-4.10 ?g.L-1) and PO (1.57-1.83 ?g.L-1), and high concentrations in the digestive glands of the bivalves, in june/16 in the PO (639±287 ?g.L-1). However, the domoic acid was not detected in either plankton or oysters. The possible interactions found in this work suggest that V. parahaemolyticus was directly related to the total abundance of microalgae cells in plankton and inversely related to the prevalence of Perkinsus sp. Additionally, the abundance of Dinophysis cf. acuminata was directly related to the prevalence of Perkinsus sp. Together, the relatively high densities of V. parahaemolyticus, D. cf. acuminata, Pseudo-nitzschia spp. and Perkinsus spp. found in this study raise concern about possible damages to human health and the maintenance of the sustainability of oyster farming activity in the Bay of Paranaguá, especially if such parameters are not constantly monitored.
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