As resistências dos desapropriados de Papanduva - Santa Catarina (1956-1988) : a atuação da Sociedade Núcleo Rural Papuã e da Comissão Pastoral da Terra

Abstract

Resumo: Esta dissertação tem como tema as resistências dos desapropriados de Papanduva- SC, compreendendo o período de 1956 a 1988. Tais resistências foram pensadas a partir da atuação da Sociedade Núcleo Rural Papuã e da Comissão Pastoral da Terra - SC. Isto posto, a pesquisa tem como objetivo analisar as formas de resistência empregadas pelos desapropriados/herdeiros de Papanduva, também o de investigar como a experiência da desapropriação e das violências sofridas deu base para a organização desses indivíduos. Outro objetivo é o de examinar as ações da Sociedade Núcleo Rural Papuã, entendida como uma organização composta e gerida pelos próprios desapropriados. Também, buscou-se estudar as ações de agentes externos em apoio à luta dos reivindicantes, neste caso, a Comissão Pastoral da Terra. Pensar atitudes arbitrárias do Exército durante todo o período estudado também configura como um dos nossos objetivos. A corporação ingressou na região no ano de 1952, quando ocorreu a construção do Campo de Instrução Marechal Hermes. Em relação às ações arbitrárias por parte do Exército, estas têm início desde a desapropriação das áreas para expansão do Campo, isto é, 1956 e compreendem desde treinamento bélico em locais onde residiam civis até violências físicas contra os desapropriados. O recorte teórico-metodológico que norteia a pesquisa parte da concepção de Antonio Gramsci a respeito da subalternidade e da atuação dos chamados "intelectuais orgânicos". A compreensão da violência contra os grupos subalternos, tanto em um contexto autoritário quanto democrático, é norteada pelas ideias do historiador Daniel Lvovich. Para melhor entendimento do conceito de experiência enquanto elemento de formação dos grupos/classes e de suas organizações, parte-se das obras de Edward Thompson. Para pensar a questão da resistência, partimos da noção dos discursos "ocultos" e "públicos", de James Scott e do conceito de "contra-violência" proposto por Balibar. Por fim, a partir das análises compreendemos que os subalternos são capazes de falar e o fazem de diversas maneiras.

Abstract: This dissertation explores the resistance of the dispossessed in Papanduva, Santa Catarina, covering the period from 1956 to 1988. This resistance was examined through the activities of the Sociedade Núcleo Rural Papuã and the Comissão Pastoral da Terra - SC. The objective of this research is to analyze the forms of resistance employed by the dispossessed/heirs of Papanduva and to investigate how the experience of dispossession and the violence suffered formed the basis for their organization. Another goal is to examine the actions of the Sociedade Núcleo Rural Papuã, seen as an organization composed and managed by the dispossessed themselves. Additionally, the study sought to explore the actions of external agents supporting the claimants' struggle, specifically, the Comissão Pastoral da Terra. The arbitrary actions of the Army throughout the studied period are also an objective. The military entered the region in 1952 when the Campo de Instrução Marechal Hermes was being constructed. Concerning the Army's arbitrary actions, these started with the expropriation of areas for the expansion of the Campo, that is, in 1956, and included military training in civilian areas and physical violence against the dispossessed. The theoretical and methodological framework guiding this research is based on Antonio Gramsci's conception of subalternity and the role of "organic intellectuals." Understanding violence against subaltern groups, whether in an authoritarian or democratic context, is guided by the ideas of historian Daniel Lvovich. To better grasp the concept of experience as a formative element of groups/classes and their organizations, Edward Thompson's works are considered. To understand the question of resistance, the research begins with the notion of "hidden" and "public" discourses by James Scott and the concept of "counter-violence" proposed by Balibar. In conclusion, the analyses reveal that subalterns are capable of speaking and do so in various ways.