A representação de Catarina de Médici no romance La reine Margot (1845), de Alexandre Dumas : a lenda negra e o debate sobre gênero, literatura e história na França do século XIX

Abstract

Resumo: Catarina de Médici (1519-1589) foi rainha consorte da França entre 1547 e 1559 e regente durante os anos de 1560 a 1563 e 1574 a 1575, tendo exercido influência direta e indireta em outros momentos do reinado de seus três filhos, Francisco II, Carlos IX e Henrique III. Desde a época em que exerceu poder político de facto, em uma França abalada pelas Guerras de Religião (1562-1598), a rainha-mãe foi alvo de intensas críticas à sua agência política, como o excesso de ambição e a suposta perfídia na condução de suas ações. Essa "Lenda Negra", como é denominada pela historiografia, formou-se à época ainda de sua vida e continuou em peças teatrais, tratados políticos, romances, obras de arte, como alerta sobre os riscos quando uma mulher exerce o poder político, da reafirmação do poder patriarcal e também na forma de ataques contra a instituição monárquica, feita por republicanos no século XIX. É nesse conjunto de complexas relações na construção de memórias e representações sobre Catarina de Médici, que o escritor francês Alexandre Dumas (1802-1870) escreveu seu célebre romance La reine Margot, publicado entre 1844 e 1845. Esta dissertação de Mestrado tem o objetivo de problematizar a produção peculiar da memória da rainha-mãe pelo escritor francês, procurando entender os objetivos de Dumas ao escrever sobre os Valois após três séculos da morte de Catarina no conturbado contexto sociopolítico oitocentista e com os intensos debates sobre a lugar da mulher na sociedade

Abstract: Catherine de Medici (1519-1589) was queen consort of France between 1547 and 1559 and regent during the years 1560 to 1563 and 1574 to 1575, having exerted direct and indirect influence at other times in the reigns of her three sons, Francis II, Charles IX and Henry III. Since the time when she exercised de facto political power, in a France shaken by the Wars of Religion (1562-1598), the Queen Mother was the target of intense criticism of her political agency, such as excessive ambition and alleged perfidy in conducting her actions. This "Black Legend", as it is called by historiography, was formed at the time of her life and continued in plays, political treatises, novels, works of art, as a warning about the risks when a woman exercises political power, the reaffirmation of patriarchal power and also in the form of attacks against the monarchical institution, made by republicans in the 19th century. It is in this set of complex relationships in the construction of memories and representations about Catherine de Medici, that the French writer Alexandre Dumas (1802-1870) wrote his famous novel La reine Margot, published between 1844 and 1845. This Master's thesis aims to problematize the peculiar production of the memory of the queen mother by the French writer, seeking to understand Dumas' objectives in writing about the Valois after three centuries of Catherine's death in the troubled sociopolitical context of the nineteenth century and with the intense debates about the place of women in society