Corpos para punir ou tratar : as representações sociais sobre os usuários de drogas na Folha de S. Paulo durante a ditadura militar
Abstract
Resumo: O período ditatorial brasileiro (1964 - 1985) envolve a influência dos Estados Unidos na condenação internacional do uso de substâncias psicoativas, com o acirramento da Guerra Fria e as repercussões cotidianas do combate ao comunismo. Uma série de medidas legais e penais, baseadas em um modelo bélico de guerra às drogas, oficializaram o usuário de drogas enquanto criminoso, gerando enquadramentos penais ou em tratamentos de saúde, para os sujeitos considerados doentes. Nesse contexto, diversos meios de comunicação e diferentes práticas artísticas passaram a ser considerados pela Escola Superior de Guerra como instrumentos de subversão, ao passo que a imprensa apoiadora do regime divulgava informações sobre os perigos das drogas, alimentando as representações sobre o usuário de drogas. É em tal período que ocorre a ascensão do jornal Folha de S. Paulo, como empresa aliada do governo e que logo tornou-se um dos jornais de maior circulação do país. Nesta pesquisa objetiva-se identificar as representações sociais do usuário de substâncias psicoativas veiculadas entre 1º de abril de 1964 a 15 de março de 1985 no jornal Folha de S. Paulo. Constituiu-se o corpus da pesquisa por meio de consultas ao repositório virtual do jornal a partir de adjetivos que referenciam o sujeito que utiliza substâncias psicoativas, tais como: 'drogado' 'toxicômano', 'usuário de drogas', 'usuário de entorpecentes', 'viciado em drogas' e 'dependente químico'. Inicialmente, identificaram-se 325 matérias e após um processo de afunilamento e categorização, elegeram-se 51 matérias para a análise. Obtiveram-se duas categorias, saúde e crime, e oito subcategorias: tratamento, prevenção, doença, crimes urbanos, mortes, prisões e torturas, legislação e tráfico de drogas. Como resultado, obtiveram-se os seguintes elementos das representações sociais do usuário de drogas: criminoso, pertencente às camadas mais pobres da população e que se tornou traficante e, em alguns casos, esteve envolvido em homicídios ou doente, indivíduos cujo grau de dependência compromete sua vida em sociedade, necessitando de tratamento em clínicas, grupos de apoio ou comunidades terapêuticas. Percebeu-se também como a Ditadura adentrou a vida privada dos sujeitos e como legitimou a tortura e a violação de direitos na repressão ao uso de drogas, heranças presentes na atualidade. Abstract: The Brazilian dictatorial period (1964 - 1985) involved the influence of the United States in the international condemnation of the use of psychoactive substances, principally with the intensification of the Cold War and the daily repercussions of the fight against communism. A series of legal and criminal measures, based on war on drugs, made the drug user official as a criminal, generating criminal frameworks or health treatments for subjects considered sick. In this context, different medias and artistic practices were considered by the Escola Superior de Guerra as instruments of subversion, while regim support media disseminated information about the dangers of drugs, fueling representations about the drug user. It was during this period that the newspaper Folha de S. Paulo rose, as a company allied with the government and which soon became one of the newspapers with the largest circulation in the country. This research aims to identify the social representations of the user of psychoactive substances published between April 1st, 1964 and March 15, 1985 in the newspaper Folha de S. Paulo. The corpus of the research was constituted through consultations to the newspaper's virtual repository from adjectives that refer to the subject who uses psychoactive substances, such as: 'drogado' 'toxicômano', 'usuário de drogas', 'usuário de entorpecentes', 'viciado em drogas' e 'dependente químico'. Initially, 325 news articles were identified and after a narrowing and categorization process, 51 news articles were chosen for analysis. Two categories were obtained, health and crime, and eight subcategories: treatment, prevention, disease, urban crimes, deaths, prisons and torture, legislation and drug trafficking. As a result, were obtained the following elements of the drug user social representations: criminal, belonging to the poorest layers of the population and who became dealers, and in some cases, were involved in homicides; or sick, individuals whose degree of dependence compromise their life in society, requiring treatment in clinics, support groups or therapeutic communities. Was perceived too how the Dictatorship entered the private life of the subjects, and the legitimized of torture and the violation of rights in the repression of drug use, legacies present today.
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