Missões e o espaço de negociação : as narrativas de Robert H. Nassau sobre a presença protestante no Gabão (1874-1914)

Abstract

Resumo: O presente estudo consiste em uma análise das narrativas do missionário protestante estadunidense Robert Hamill Nassau, e de sua descrição das negociações culturais no cotidiano missionário no Gabão, entre 1874 e 1914. Um dos aspectos distintivos da experiência histórica de missionários protestantes, homens e mulheres cuja presença foi uma constante nos espaços coloniais dos séculos XIX e XX, foi a produção em massa de textos, os quais conectavam as suas experiências dos "campos de missão" aos públicos religiosos metropolitanos. Tendo em vista a atuação limiar da missão estadunidense em meio ao avanço colonial francês no Gabão e a extensa produção narrativa do autor em questão, busca-se adentrar à temporalidade mais densa do colonialismo a fim de destacar as diversas formas de negociação entre missionários, prosélitos, agentes coloniais e chefes gaboneses. A partir de um diálogo com a "história crítica das missões", argumenta-se que esses textos podem ser lidos como um meio privilegiado para a análise das diversas camadas de alteridade e poder que compuseram o contexto colonial gabonês, bem como as mútuas influências que marcam o contato entre seus diferentes agentes históricos. Depreende-se, a partir desse estudo, que os escritos e a trajetória de Robert H. Nassau, bem como de outros missionários protestantes, podem ser melhor compreendidos como um produto tensionado da relação entre o campo literário protestante e as relações que marcam o contato colonial.

Abstract: This thesis consists of an analysis of the narratives of the American Protestant missionary Robert Hamill Nassau, and of his description of the cultural negotiations in the missionary daily life in Gabon, between 1874 and 1914. One of the distinctive aspects of the historical experience of Protestant missionaries, men and women whose presence was a constant in the colonial spaces of the 19th and 20th centuries, was the mass production of texts, which connected their experiences of the "mission fields" to the metropolitan religious audiences. Bearing in mind the marginal role of the US mission in the midst of the French colonial conquest in Gabon and the extensive literary production of the author in question, we seek to analyse everyday processes of colonialism in order to highlight the various forms of negotiation between missionaries, proselytes, colonial agents and Gabonese chiefs. Starting from a dialogue with the "critical history of missions", it is argued that these texts can be read as a privileged means for the analysis of the different layers of alterity and power that made up the Gabonese colonial context, as well as the mutual imbrication that mark the contact between its different historical agents. As this study demonstrate, it appears that the writings and trajectory of Robert H. Nassau, as well as other Protestant missionaries, can be better understood as a tensioned product of the relationship between the Protestant literary field and the intersubjectivity that marks the contact colonial.