Proposta de estratégias para avaliação de odor ambiental no Brasil

Abstract

Resumo: O odor, que em geral é causado por uma mistura de substâncias odoríferas que produzem um efeito sinérgico percebido pelo olfato humano, é muito relevante dentro da poluição atmosférica. A subjetividade e variabilidade na percepção de odor individual aumentam a complexidade da questão. Entretanto, sabe-se que o impacto de um odor resulta de uma combinação de fatores, conhecidos pela sigla FIDOL: Frequência, Intensidade, Duração, Ofensividade e Localização. Estes fatores podem ser quantificados e sujeitos à diretrizes regulatórias. Portanto, uma legislação robusta e completa deve abordar a maioria dos fatores FIDOL, o que já é realizado em países desenvolvidos. A legislação brasileira relacionada a odores é escassa e subjetiva. O objetivo deste trabalho é propor uma estratégia de avaliação de impacto de odor para o Brasil, composta por critérios quantitativos e um protocolo que visa o esclarecimento das partes interessadas (órgãos fiscalizadores, responsáveis por atividades emissoras de odor, consultores e sociedade) quanto ao passo a passo para a avaliação do odor. O trabalho incluiu o levantamento e avaliação da legislação brasileira pertinente, categorizando-a pela abordagem regulatória: Padrão de Máximo Impacto (PMIm), Padrão de Distâncias Mínimas de Separação (PDMS), Padrão de Máxima Emissão (PME), Padrão de Máximo Incômodo (PMIn) e Padrão de Tecnologia de Controle (PTC), e listagem de seus pontos positivos e negativos. Verificou-se que os PTC estão presentes em 79% das legislações estudadas, seguidos do PME (57%). Foi realizado também o levantamento e sistematização de trabalhos técnicos de avaliação do impacto de odores realizados no Brasil, comparando os métodos aplicados, plano de monitoramento, tempo, recursos humanos e outros necessários, e os critérios de avaliação utilizados. Quinze trabalhos foram avaliados, incluindo um ou mais dos seguintes métodos: analíticos, olfatometria estática (OE), olfatometria dinâmica (ODD), olfatometria de campo (OC), modelagem de dispersão de odor (MD), inspeção em campo e questionários. Os métodos mais frequentes foram a ODD, a MD e a OC, presentes em 53%, 40% e 40% dos trabalhos. Os critérios de avaliação de impacto propostos se baseiam nas abordagens de Padrão de Máximo Impacto (PMIm) para MD (Ct < 8 ouE/m³ (residencial/comercial) ou < 10 ouE/m³ (outras áreas); P98, F=1,821) e para OC (<7 D/T); Padrão de Tecnologia de Controle (PTC) (uso de boas práticas e das melhores tecnologias disponíveis) e de Padrão de Distâncias Mínimas de Separação (PDMS) para fontes fugitivas (> 500m de áreas residenciais). A OC se destaca por ser de custo relativamente baixo, versátil, ágil e por não ter a limitação da ODD de 30h entre amostragem e análise. Espera-se que a adoção de critérios quantitativos claros para a avaliação do impacto relacionado ao odor, e de métodos bem definidos, possibilite prevenir e solucionar conflitos e contribuir para uma convivência harmoniosa.

Abstract: Odor, which in general is caused by a mixture of odorous substances that generate a synergic effect perceived by the human sense of olfaction, is very relevant in the context of atmospheric pollution. The subjectivity and variability in individual’s odor perception increase the topic’s complexity. Nonetheless, an odor’s impact is the result of the combination of factors known by FIDOL: Frequency, Intensity, Duration, Offensivity, and Location. These factors can be quantified and subjected to regulation. Therefore, a robust and complete legislation must address the majority of the FIDOL factors, and this is already the case in developed countries. However, the Brazilian legislation related to odors is scarce and subjective. This work’s objectives are to propose an odor impact assessment strategy for Brazil comprised by quantitative criteria and a protocol, which aims to elucidate the steps for odor monitoring and assessment for stakeholders (regulators, environmental agencies, those responsible for odor emission activities, consultants and society).The work included review and evaluation of the relevant Brazilian legislation, categorizing it by the regulatory approach: Maximum Impact Standard, Minimum Distance of Separation Standard, Maximum Emission Standard, Maximum Annoyance Standard and Control Technology Standard, and listing its pros and cons. The Control Technology Standard is present in 79% of the studied legislations, followed by the Maximum Emission Standard (57%). The review and systematization of technic and scientific odor impact assessment research studies conducted in Brazil is also included. The methods applied, monitoring plan, time, human resources and other needed resources, as well as the odor impact criteria used, were tabulated and compared. Fifteen studies were evaluated, including one or more of the following methods: analytic analysis, static olfactometry, dynamic olfactometry, field olfactometry, odor dispersion modelling, field inspections and questionnaires. The most frequent methods were dynamic olfactometry, odor dispersion modelling and field olfactometry, present in 53%, 40% e 40% of the studies. Finally, the proposed odor impact criteria are based on the Maximum Impact Standard approach, for dispersion modelling (Ct < 8 ouE/m³ (residential/comercial uses) or < 10 ouE/m³ (Other areas); P98, F=1,821) and for field olfactometry (< 7 D/T); Control Technology Standard, with the use of best practices and best available control techniques; and the Minimum Distance of Separation Standard for fugitive sources (> 500m from residential areas). Field olfactometry has the advantages of relatively low cost compared to other methods, versatility, producing prompt results and not having the limitation of 30h between sampling and analysis. The author expects that the adoption of clear and quantitative criteria for evaluating odor impact, as well as defined methods, will enable the prevention and solution of conflicts and aid in a harmonious coexistence between community and odor-emitting sources.