Infecção e persistência de Sars-CoV-2 em cães domésticos em Curitiba, Paraná

Abstract

Resumo: O SARS-CoV-2, agente etiológico responsável pela pandemia de COVID-19, é um vírus com potencial zoonótico já demonstrado. Este fato somado à alta prevalência do vírus no mundo todo, tendo já infectado mais de 200 milhões de pessoas, coloca em risco também os animais em contato próximo com humanos. Mesmo com a especificidade molecular de reconhecimento das células do hospedeiro pelo vírus, foram demonstradas infecções naturais e experimentais de animais domésticos e silvestres pelo SARS-CoV-2. Isso ocorre devido a semelhanças na sequência e estrutura do receptor celular que interage com o vírus, entre as variadas espécies. Este projeto faz parte "Estudo multicêntrico para a vigilância de SARS-CoV-2 em animais de companhia com interface à Saúde Única (PetCOVID-19 Study): coorte prospectiva de mamíferos domiciliados para avaliação de risco de transmissão zooantroponótica no Brasil" que está sendo realizado em seie capitais brasileiras. Foram coletadas amostras de swab nasal, oral e retal de cães de tutores positivos para COVID-19, na cidade de Curitiba, Paraná. As amostras de swab foram analisadas para detecção de SARS-CoV- 2 por RT-qPCR. Ainda, foram coletadas amostras de sangue para avaliação de presença de anticorpos específicos para SARS-CoV-2 através de ensaio de ELISA (do inglês, Enzyme-Linked Immunosorbent Assay) por beads magnéticas. Foram identificados 20 tutores positivos para SARS-CoV-2, de 13 residências. Destas, 5 de 22 cães (22,7%) foram positivos para detecção de SARS-CoV-2 por RT-qPCR. A persistência do vírus após oito e nove dias foi detectada em amostras de swab de orofaringe de dois dos cinco cães (40%). Foi possível observar que a detecção de SARS-CoV-2 nos cães foi associada a cargas virais mais altas nos tutores. Todos os cinco cães positivos para RTqPCR tinham anticorpos para pelo menos uma proteína viral testada no ensaio sorológico. Através da aplicação de um questionário epidemiológico foi possível observar que a detecção molecular de SARS-CoV-2 em cães foi associada a presença de sinais clínicos como resfriado, tosse ou diarreia (p = 0,039), número de pessoas positivas no domicílio (p = 0,002) e maior carga viral do tutor (p = 0,039). Os achados evidenciam o risco de infecção de humanos para cães, principalmente quando há interação próxima e alta carga viral do tutor. Dessa forma, sugere-se que pessoas com COVID-19 devem tomar as mesmas medidas preventivas que realizam com pessoas, ao interagir com seus cães durante o isolamento.

Abstract: SARS-CoV-2, the etiological agent of the COVID-19 pandemic, is a virus with proved zoonotic potential. This fact, added to the high worldwide prevalence of the virus that already infected more than 200 million people, also set animals that lives in close contact with humans at risk. Even with the molecular specificity of the virus in recognition of host cells, both natural and experimental infections of domestic and wild animals by SARS-CoV-2 have been demonstrated. This is due to similarities among the different species in the sequence and structure of the cell receptor that interacts with the virus. This project is part of "Multicenter Study for the Surveillance of SARS-CoV-2 in Companion Animals with Interface to One Health (PetCOVID-19 Study): prospective cohort of domiciled mammals for risk assessment of zooanthroponotic transmission in Brazil which is being carried out in six Brazilian capitals. Nasal, oral, and rectal swab samples were collected from dogs of COVID-19 positive owners in the city of Curitiba, Paraná. Swab samples were analyzed for detection of SARS-CoV-2 by RT-qPCR. Furthermore, blood samples were collected to evaluate the presence of specific antibodies to SARS-CoV-2 through an ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay) using magnetic beads. Twenty SARS-CoV-2 positive tutors from 13 households were identified. Of these households, 5 of 22 dogs (22.7%) were positive for SARS-CoV-2 detection by RT-qPCR. Virus persistence after eight and nine days was detected in oropharyngeal swab samples from two of five dogs (40%). It was possible to observe that the detection of SARS-CoV-2 in dogs was associated with higher viral loads in tutors. All five RT-qPCR positive dogs had antibodies to at least one viral protein tested in the serological assay. Through the application of an epidemiological questionnaire, it was possible to observe that the molecular detection of SARS-CoV-2 in dogs was associated with the presence of clinical signs such as cold, cough or diarrhea (p = 0.039), number of positive people in the household (p = 0.002) and higher viral load of the owner (p = 0.039). The findings show the risk of infection from humans to dogs, especially when there is close interaction and high viral load from the tutor. Thus, it is suggested that people with COVID-19 should take the same preventive measures as they do with people, when interacting with their dogs during isolation.