Ecologia comportamental do boto-cinza, Sotalia guianensis (Van Beneden, 1864) (Cetacea: Delphinidae) na região extremo sul do estado da Bahia, nordeste do Brasil
Resumo
O uso de habitat e índices ambientais são comumente ligados à heterogeneidade ambiental e cruciais para um conhecimento da ecologia da espécie. A concentração de ocorrências do boto-cinza, Sotalia guianensis, no estuário do Rio Caravelas (17°54’S - 39°21’W), foi investigada entre os anos de 2002 e 2004. Durante 238 amostragens de campo, em 102 h de observação direta, foram avistados 241 grupos, com 1081 botos-cinza contados. A área de estudo foi dividida em quadrantes de 5x5 km, caracterizados por quatro variáveis ambientais: profundidade, declividade de fundo, distância de bancos de areia e distância da linha de costa. Os golfinhos demonstraram heterogeneidade no uso ambiental, com maiores freqüências em águas rasas, mais próximos de bancos de areia e da linha de costa, em áreas com o fundo mais plano e em águas mais salinas, de 35 a 38 ppm. A boca do Rio Caravelas, local de grande heterogeneidade ambiental, foi identificada como a maior área de concentração pelo método de Kernel. A espécie apresenta um complexo uso espacial da área de estudo e entorno, com as avistagens mais interiores até então reportadas, de 14 Km rio acima e também freqüentando o Arquipélago de Abrolhos, a 65 Km de distância da costa. A recente concentração de atividades portuárias na saída do estuário, chama a atenção para a importância da continuidade dos estudos de longo prazo com o boto-cinza no Banco de Abrolhos. Como parte do estudo sobre a ecologia do boto-cinza, Sotalia guianensis, na região do estuário do Rio Caravelas (17°54’S - 39°21’W), foram investigados os padrões de residência e fidelidade de área, calculando-se os seguintes parâmetros: (1) o número de meses em que um determinado animal foi fotoidentificado, (2) a taxa de residência, ou o número de meses em que um determinado animal foi fotoidentificado / número total de meses amostrados x 100 e (3) o tempo de residência total, ou o máximo intervalo de meses entre capturas. A área de uso individual dos golfinhos com mais de 10 reavistagens (n=7) foi calculada pelo método de Mínimo Polígono Convexo, com a extensão AMAE – ESRI Arcview 3.1. Entre o período de abril de 2002 e abril de 2005, 210 grupos de botos-cinza foram avistados, do quais 58 indivíduos foram identificados. Quinze botos-cinza foram fotografados somente uma vez, enquanto somente dois animais foram avistados em 15 meses. Alguns indivíduos apresentaram-se residentes por mais de 3 anos. As taxas de residência demonstraram heterogeneidade de permanência dos golfinhos na região (mínimo de 2.7% e máximo de 45.95%), onde 79 % dos animais apresentaram taxas inferiores a 16%. Somente cerca de 9% do total de indivíduos apresentaram valores altos (> 32%) de residência. Seguidas reavistagens de indivíduos suportam a hipótese de uso regular da área pelos animais, apesar de alguns golfinhos que, após longo período sem reavistagem foram novamente registrados. Com a análise da área de uso individual foi constatado que os golfinhos utilizaram, de maneira comum, o estuário do Rio Caravelas. Foi observada uma grande fluidez na presença dos golfinhos na área de estudo, constatada pelo alto número de indivíduos com poucas reavistagens. Grande parte dos animais (60%) possui um padrão de residência anual, como observado em outras áreas de ocorrência da espécie. O perfil de residência apresentado levanta discussões sobre a dinâmica de movimentos das populações de S. guianensis na região de estudo, sugerindo que poucos indivíduos são fiéis à área do estuário, mas que, por outro lado, existe uma sobreposição de área comum a todos os indivíduos analisados.
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