Avaliação de efeito antinociceptivo da naltrexona em dose ultrabaixa em modelos de dor orofacial pós-operatória
Resumo
Resumo: O controle da dor aguda pós-operatória (DAPO) é habitualmente obtido por analgésicos opioides, os quais estão associados a inúmeros efeitos adversos, inclusive risco de adição e dependência. Portanto, há décadas tem-se buscado alternativas mais seguras para o controle da dor. Nesse sentido, uma opção que vem sendo explorada, é o Cloridrato de Naltrexona (NTX), um antagonista não-seletivo de receptores opioides, que ao ser utilizado em doses ultrabaixas (ULD), apresenta características farmacodinâmicas distintas e potencial antinociceptivo. Assim, o objetivo geral desse estudo foi avaliar o efeito da NTX em doses ultrabaixas (ULDN) em modelo de DAPO orofacial, bem como investigar possíveis mecanismos de ação relacionados a esse efeito. Ratos Wistar submetidos a incisão de mucosa intraoral (modelo de DAPO) foram tratados com NTX no dia 03 pós-cirúgico, seguido de avaliação da hiperalgesia térmica (machos e fêmeas) e mecânica (machos) em intervalos de 1 hora até a 4ª hora. Nesse mesmo protocolo, em ratos machos foi avaliado o efeito da associação de NTX com uma dose subterapêutica de morfina. Para determinar o principal sítio de ação da NTX, seu efeito antinociceptivo foi avaliado após administração na mucosa oral, gânglio do trigêmeo (GT) e subnúcleo caudal do trigêmeo (Vc). Em adição, o efeito da NTX no GT e Vc foi avaliado em animais tratados previamente com um antagonista TRL4 (LPS-RS) nessas estruturas. No 3º dia pós-cirúrgico, o GT de animais tratados com NTX foi coletado para dosagem de IL-1ß, IL-6, TNF-a e Substância P (SP), através de ELISA. O efeito da NTX foi avaliado na hiperalgesia térmica e no aumento de TNF-a, IL-1ß induzidos por LPS. Por fim, foi avaliado o efeito da NTX na liberação de óxido nítrico (NO) e níveis de TNF-a, IL-1ß e CXCL-2. em macrófagos RAW 264.7 estimulados com LPS. Os resultados mostram que o tratamento com ULDN sistêmica foi capaz de reduzir a hiperalgesia térmica e mecânica por até 3 e 4 horas respectivamente em ratos machos, e reduziu a hiperalgesia térmica em fêmeas. A associação de morfina e ULDN, em doses que não demonstraram efeito per se, promoveram efeito anti-hiperalgésico até a 2ª hora após sua administração. A injeção da ULDN no GT e Vc promoveu significativo efeito antinociceptivo, que foi prevenido pelo bloqueio prévio do TLR4. Em ratos machos operados não foi detectado alteração nos níveis de mediadores inflamatórios (IL-1ß, IL-6, TNF-a e SP) em amostras coletadas do GT em relação ao controle. Contudo, ratos tratados com LPS na mucosa apresentaram hiperalgesia térmica e aumento nos níveis de IL-1ß no GT, os quais foram reduzidos por NTX. Macrófagos estimulados com LPS apresentaram um aumento da liberação de NO e dos níveis de IL-1ß, CXCL-2 e TNF-a, os quais foram reduzidos (exceto TNF-a) pela exposição à NTX. Em conjunto, nossos resultados demonstram o potencial antinociceptivo da ULDN em modelo de dor pós-operatória orofacial e sugerem que o bloqueio da via de sinalização gerada pela ativação do TLR4 contribui para o seu efeito. Abstract: The control of Acute Postoperative Orofacial Pain (APOP) is usually achieved by opioid analgesics, which are associated with numerous adverse effects, including risk of addiction and dependence. Therefore, safer alternatives for pain control have been sought for decades. In this sense, an option that has been explored is Naltrexone Hydrochloride (NTX), a non-selective opioid receptor antagonist, which, when used at ultra-low doses (ULD), presents distinct pharmacodynamic characteristics and antinociceptive potential. Thus, the overall objective of this study was to evaluate the effect of NXT at ultra-low doses (ULDN) in a model of APOP, as well as to investigate possible mechanisms of action related to this effect. Wistar rats submitted to intraoral mucosal incision (APOP model) were treated with NTX on postoperative day 03, followed by evaluation of thermal (males and females) and mechanical (males) hyperalgesia at 1-hour intervals until the 4th hour. In this same protocol, in male rats the effect of the association of NTX with a subtherapeutic dose of morphine was evaluated. To determine the main site of action of NTX, its antinociceptive effect was evaluated after administration to the oral mucosa, trigeminal ganglion (TG) and trigeminal subnucleus caudalis (Vc). In addition, the effect of NTX on the TG and Vc was evaluated in animals previously treated with a TRL4 antagonist (LPS-RS) in these structures. On postoperative day 3, the TG of NTX-treated animals was collected for the dosage of IL-1ß, IL-6, TNF-a and Substance P (SP) by ELISA. The effect of NTX was evaluated on thermal hyperalgesia and LPS-induced increase in TNF-a, IL-1ß. Finally, the effect of NTX on nitric oxide (NO) release and levels of TNF-a, IL-1ß and CXCL-2 in LPS-stimulated RAW 264.7 macrophages was evaluated. The results show that systemic ULDN treatment was able to reduce thermal and mechanical hyperalgesia for up to 3 and 4 hours respectively in male rats, and reduced thermal hyperalgesia in females. The association of morphine and ULDN, in doses that showed no effect per se, promoted antinociceptive effect until the 2nd hour after administration. Injection of ULDN in TG and Vc promoted significant antinociceptive effect, which was prevented by prior TLR4 blockade. In operated male rats, no change in the levels of inflammatory mediators (IL-1ß, IL-6, TNF-a and SP) was detected in samples collected from TG compared to control. However, rats treated with LPS in the mucosa showed thermal hyperalgesia and increased IL-1ß levels in TG, which were reduced by NTX. LPS-stimulated macrophages showed increased NO release and IL-1ß, CXCL-2, and TNF-a levels, which were reduced (except TNF-a) by NTX exposure. Altogether, our results demonstrate the antinociceptive potential of ULDN in a model of postoperative orofacial pain and suggest that blocking the signaling pathway generated by TLR4 activation contributes to its effect.
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