A trajetória de Madame Alice Bauer-Hertz (1877-1927) : pedagoga dos jardins de infância

Abstract

Resumo: O presente trabalho remonta e investiga a trajetória da Alice Hertz (1877-1927), que nos permite explorar questões como: papéis sociais e de gênero; a educação fornecida pela IIIª República Francesa, em especial, no caso feminino; as profissões para mulheres; maternidade e educação infantil. Em 28 de novembro de 1877 nasceu Alice Bauer, em uma família judia abastada residente na França que investiu na educação dos filhos. A formação para moças oferecida pela IIIª República visava instruir para torná-las melhores esposas, mães suficientemente educadas e capazes de instruírem os filhos, alinhadas aos ideais republicanos do período. A Srta. Bauer, alguns anos após a conclusão do ensino secundário, se casou com o promissor normaliano Robert Hertz (1881-1915). Esse, por sua vez, foi um agrégé em filosofia, próximo a Émilie Durkheim e integrou o corpo editorial da l'Année Sociologique e da Notes critiques: Sciences sociales. Além de sociólogo, era um militante socialista muito ativo. Os deslocamentos de Robert, bem como suas sociabilidades, permitiram Alice realizar uma formação superior: ela se tornou então jardinière, isso é, professora de jardim de infância, especificamente formada no método Froebel. Ela se envolveu com a abertura dos primeiros jardins de infância parisienses, com a fundação da Union Froebelienne Française, com a revista de divulgação do método pedagógico, L'Éducation Joyeuse aux Jardins d'enfants et dans la famille (1913-1914) e com a institucionalização e regulamentação da profissão de jardinière como uma profissão feminina. Robert Hertz faleceu em 1915, nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, e Alice foi responsável pela publicação póstuma dos estudos de seu marido e pela organização do arquivo dedicado aos anos de trabalho do sociólogo, disponibilizados no Fonds Robert Hertz, que se encontra no Laboratoire d'antropologoie sociale do Collège de France. Em suma, o casal Hertz participava de várias sociabilidades de uma elite intelectual francesa do início do século XX. É através da investigação da trajetória de Alice Hertz, mulher, pedagoga, esposa, jardinière, mãe (e mais uma infinidade de rótulos possíveis), que investigamos e discutimos questões relacionadas a um papel social cristalizado na sociedade francesa do início do século XX.

Abstract: The present work traces back and investigate the trajectory of Alice Hertz (1877-1927), which allows us to explore issues such as: social and gender roles; the education provided by the Third French Republic, particularly for women; the professions for women, motherhood and early childhood education. On November 28, 1877, Alice Bauer was born, in a wealthy Jewish family residing in France who that invested in the education of their children. The education provided by the Third Republic aimed to educate the girls to become better wifes, mothers sufficiently educated and capable of instructing their children, in line with the republican ideals of the period. Miss Bauer, a few years after finished high school, get married with the promising normalian Robert Hertz (1881- 1915). Him, in turn, was an agrégé in philosophy, close to Émilie Durkheim and was part of the editorial board of l'Année Sociologique and Notes critiques Sciences sociales. In addition to being a sociologist, he was a very active socialist activist. Robert's displacements, as well as his sociability, allowed Alice to carry out a higher education: she became a jardinière, that means a kindergarten teacher, specifically trained in the Froebel method. She was involved in the creation of the first Parisian kindergartens, in the founding of the Union Froebelienne Française, in the magazine promoting the pedagogical method, L'Éducation Joyeuse aux Jardins d'enfants et dans la famille (1913 - 1914) and in the institutionalization and regulation of the profession of jardinière as a female profession. Robert Hertz died at 1915, in the trenches of the First World War, and Alice was responsible for the posthumous publication of his studies and for organizing the archive dedicated to the sociologist's years of work, available at the Fonds Robert Hertz, which is located at the Laboratoire d' anthropology sociale of the Collège de France. In short, the Hertz couple participated in many sociability of an french intellectual elite at the beginning of the 20th century. It is through the investigation of the trajectory of Alice Hertz, woman, pedagogue, wife, gardener, mother (and a multitude of possible labels) that we investigate and discuss issues related to a social role crystallized in a french society at the beginning of the 20th century.