A construção da autonomia dos povos indígenas : histórico da legislação indigenista e a sua dimensão política
Resumo
Resumo: O presente estudo teve como propósito aproximar diversas disciplinas das ciências sociais, ambientais e jurídicas, ao buscar identificar e problematizar a relação existente entre os campos da autonomia política e dos problemas socioambientais no Brasil envolvendo os povos indígenas brasileiros. Para tanto, é realizada análise da racionalidade jurídico-política do Estado brasileiro frente à questão indígena, contemplando os obstáculos e os limites para tratar da autonomia política - dos territórios e das culturas - dessas diversas e distintas "nações" em um mesmo Estado nacional. A teorização realizada se pauta na adoção das categorias de autonomia política para compreender os principais conflitos socioambientais incidentes em áreas com populações indígenas (terras indígenas demarcadas ou não). Associado a isso, a pesquisa procura desenvolver uma análise histórica do direito indigenista, na legislação brasileira, sempre a partir de uma dimensão política da norma; tal análise é separada em dois momentos: (1) histórico-legislativo do período colonial até a Constituição Federal de 1988, visando compreender a dinâmica de formação do Estado brasileiro; (2) histórico-legislativo da Constituição Federal de 1988 até o presente (2021), com foco nos direitos territoriais e sociais, visando averiguar a presença ou não de autonomia política indígena. A partir de três abordagens, a pesquisa passa ao levantamento da existência ou não de autonomia política dos povos indígenas brasileiros. A primeira abordagem visa demonstrar a existência de uma racionalidade econômica que impacta diretamente nos territórios indígenas, a partir da teoria decolonial e pós-desenvolvimentista. A segunda, a existência de um poder conflitivo do Estado brasileiro em relação aos povos indígenas. A terceira, a existência de normas simbólicas as quais seriam elaboradas tão somente para apaziguar anseios sociais sem que ocorresse a efetiva aplicação no mundo concreto. Como conclusão, restou evidenciada uma lógica na formação do Estado brasileiro através de racionalidade econômica que perpassa nosso atual modelo de desenvolvimento, indo para além da dicotomia direita-esquerda; também foi observado que o movimento indígena pode ser considerado um movimento social pensado e articulado de autonomia política; por fim, o levantamento histórico da legislação indigenista no período (de 1988 até 2021) demonstrou uma tentativa reiterada de expropriação dos direitos territoriais indígenas, sugerindo-se a existência de normas simbólicas, como também os avanços e retrocessos em relação aos direitos sociais daquele mesmo grupo. Abstract: The present study aimed to bring together several disciplines of social, environmental and legal sciences, by seeking to identify and problematize the existing relationship between the fields of political autonomy and socio-environmental problems in Brazil involving Brazilian indigenous peoples. To this end, an analysis of the legal-political rationality of the Brazilian State regarding the indigenous issue is carried out, contemplating the obstacles and limits to address the political autonomy - of territories and cultures - of these different and several "nations" in the same national State. The theorization carried out is based on the adoption of the categories of political autonomy to understand the main socio-environmental conflicts that occur in areas with indigenous populations (indigenous lands demarcated or not). Associated with this, the research seeks to develop a historical analysis of indigenist law, in Brazilian legislation, always from a political dimension of the norm; such analysis is separated into two moments: (1) historical-legislative from the colonial period until the Federal Constitution of 1988, aiming to understand the dynamics of formation of the Brazilian State; (2) historical-legislative from the Federal Constitution from 1988 to the present (2021), focusing on territorial and social rights, aiming to ascertain the presence or absence of indigenous political autonomy. Based on three approaches, the research goes on to survey the existence or not of political autonomy of Brazilian indigenous peoples. The first approach aims to demonstrate the existence of an economic rationality that directly impacts indigenous territories, based on decolonial and post-developmental theory. The second, the existence of a conflicting power of the Brazilian State in relation to indigenous peoples. The third, the existence of symbolic norms which would be elaborated only to appease social aspirations without effective application in the concrete world. In conclusion, a logic in the formation of the Brazilian State through economic rationality that permeates our current development model remained evident, going beyond the right-left dichotomy; it was also observed that the indigenous movement can be considered a thought and articulated social movement of political autonomy; finally, the historical survey of indigenous legislation in the period (from 1988 to 2021) demonstrated a repeated attempt to expropriate indigenous territorial rights, suggesting the existence of symbolic norms, as well as advances and setbacks in relation to the social rights of that same group. Résumé: La présente étude a eu pour but rassembler plusieurs disciplines des sciences sociales, environnementales et juridiques, en cherchant à identifier et à problématiser la relation existante entre les domaines de l’autonomie politique et les problèmes socioenvironnementaux au Brésil aux égards des peuples autochtones brésiliens. À cet égard, une analyse de la rationalité juridico-politique de l’État brésilien concernant la question indigène, en envisageant les obstacles et les limites pour aborder l’autonomie politique - des territoires et des cultures - de ces "nations" différentes et diverses dans le même État national. La théorisation menée s’appuie sur l’adoption des catégories d’autonomie politique pour comprendre les principaux conflits socio-environnementaux qui surviennent dans les zones à populations autochtones (terres autochtones délimitées ou non). Associée à cela, la recherche cherche à développer une analyse historique du droit indigéniste, dans la législation brésilienne, en partant d’une dimension politique de la norme; une telle analyse est séparée en deux moments : (1) historique-législatif de la colonie jusqu’à la Constitution fédérale de 1988, visant à comprendre la dynamique de formation de l’État brésilien ; (2) historique-législatif de la Constitution fédérale de 1988 à nos jours (2021), axé sur les droits territoriaux et sociaux, visant à vérifier la présence ou l’absence d’autonomie politique indigène. Basée sur trois approches, la recherche se poursuit par l’examen de l’existence ou non de l’autonomie politique des peuples indigènes brésiliens. La première approche vise à démontrer l’existence d’une rationalité économique impactant directement les territoires autochtones, basée sur la théorie décoloniale et post-développementaliste. La seconde, l’existence d’un pouvoir conflictuel de l’État brésilien vis-à-vis des peuples autochtones. La troisième, l’existence de normes symboliques qui ne seraient élaborées que pour apaiser les aspirations sociales sans application effective dans le monde concret. En conclusion, a été soulevée une logique dans la formation de l’État brésilien à travers la rationalité économique qui imprègne notre modèle de développement actuel, dépassant la dichotomie droite-gauche ; il a également été observé que le mouvement indigène peut être considéré comme un mouvement social pensé et articulé à partir d’une autonomie politique ; enfin, l’étude historique de la législation indigène dans la période (de 1988 à 2021) a démontré unessais répété d’exproprier les droits territoriaux indigènes, suggérant l’existence de normes symboliques, ainsi que des allées et venues par rapport aux droits sociaux de ce même groupe . Resumen: El presente estudio tuvo como objetivo reunir varias disciplinas de las ciencias sociales, ambientales y jurídicas, buscando identificar y problematizar la relación existente entre los campos de la autonomía política y los problemas socioambientales en Brasil que involucran a los pueblos indígenas brasileños. Para ello, se realiza un análisis de la racionalidad jurídico-política del Estado brasileño en relación con la cuestión indígena, contemplando los obstáculos y límites para abordar la autonomía política - de territorios y culturas - de estas diferentes y distintas "naciones" en el mismo Estado nacional. La teorización realizada se basa en la adopción de las categorías de autonomía política para comprender los principales conflictos socioambientales que se dan en las zonas con población indígena (tierras indígenas demarcadas o no). Asociado a esto, la investigación busca desarrollar un análisis histórico del derecho indigenista, en la legislación brasileña, siempre desde una dimensión política de la norma; dicho análisis se separa en dos momentos: (1) histórico-legislativo desde la colonia hasta la Constitución Federal de 1988, con el objetivo de comprender la dinámica de formación del Estado brasileño; (2) histórico-legislativo desde la Constitución Federal de 1988 hasta la actualidad (2021), con foco en los derechos territoriales y sociales, con el objetivo de constatar la presencia o ausencia de autonomía política indígena. A partir de tres enfoques, la investigación pasa a indagar sobre la existencia o no de autonomía política de los pueblos indígenas brasileños. El primer enfoque pretende demostrar la existencia de una racionalidad económica que impacta directamente en los territorios indígenas, a partir de la teoría decolonial y postdesarrollista. El segundo, la existencia de un poder conflictivo del Estado brasileño respecto a los pueblos indígenas. El tercer, la existencia de normas simbólicas que serían elaboradas sólo para apaciguar aspiraciones sociales sin aplicación efectiva en el mundo concreto. En conclusión, quedó en evidencia una lógica en la formación del Estado brasileño a través de la racionalidad económica que impregna nuestro actual modelo de desarrollo, superando la dicotomía derecha-izquierda; también se observó que el movimiento indígena puede ser considerado un movimiento social pensado y articulado de autonomía política; por último, el recorrido histórico de la legislación indígena en el período (de 1988 a 2021) demostró un intento reiterado de expropiación de los derechos territoriales indígenas, sugiriendo la existencia de normas simbólicas, así como avances y retrocesos en relación con los derechos sociales de ese mismo grupo . Sommario: Il presente studio mirava a riunire diverse discipline delle scienze sociali, ambientali e giuridiche, cercando di identificare e problematizzare le relazioni esistenti tra i campi dell’autonomia politica e i problemi socio-ambientali in Brasile che coinvolgono le popolazioni indigene brasiliane. A tal fine viene svolta un’analisi della razionalità giuridico-politica dello Stato brasiliano rispetto alla questione indigena, contemplando gli ostacoli e i limiti per affrontare l’autonomia politica - di territori e culture - di queste diverse e distinti "nazioni" nel stesso Stato nazionale. La teorizzazione svolta si basa sull’adozione delle categorie di autonomia politica per comprendere i principali conflitti socio-ambientali che si verificano in aree con popolazioni autoctone (terre indigene demarcate o meno). Associato a questo, la ricerca cerca di sviluppare un’analisi storica del diritto indigenista, nella legislazione brasiliana, sempre da una dimensione politica della norma; tale analisi si articola in due momenti: (1) storico-legislativo dalla colonia fino alla Costituzione Federale del 1988, con l’obiettivo di comprendere le dinamiche di formazione dello Stato brasiliano; (2) storico-legislativa dalla Costituzione federale dal 1988 ad oggi (2021), incentrata sui diritti territoriali e sociali, con l’obiettivo di accertare la presenza o l’assenza di autonomia politica indigena. Basandosi su tre approcci, la ricerca prosegue esaminando l’esistenza o meno dell’autonomia politica delle popolazioni indigene brasiliane. Il primo approccio mira a dimostrare l’esistenza di una razionalità economica che impatta direttamente sui territori indigeni, basata sulla teoria decoloniale e post-sviluppo. La seconda, l’esistenza di un potere conflittuale dello Stato brasiliano nei confronti delle popolazioni indigene. Il terzo, l’esistenza di norme simboliche che sarebbero elaborate solo per placare le aspirazioni sociali senza un’applicazione effettiva nel mondo concreto. In conclusione, è rimasta evidente una logica nella formazione dello Stato brasiliano attraverso la razionalità economica che permea il nostro attuale modello di sviluppo, andando oltre la dicotomia destra-sinistra; si è anche osservato che il movimento indigeno può essere considerato un movimento sociale pensato e articolato di autonomia politica; infine, l’indagine storica sulla legislazione indigena nel periodo (dal 1988 al 2021) dimostra un ripetuto tentativo di espropriazione dei diritti territoriali indigeni, suggerendo l’esistenza di norme simboliche, nonché progressi e battute d’arresto in relazione ai diritti sociali di quello stesso gruppo .
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