Deslocamento ativo entre adolescentes e características do ambiente construído no entorno de escolas estaduais de Curitiba
Resumo
Resumo: O objetivo do estudo foi investigar a relação entre a distribuição das características do ambiente construído relacionado à atividade física com a renda em áreas de entorno escolar e sua associação com o uso de deslocamento ativo para escola entre adolescentes de Curitiba, Paraná. Foram auditados 888 segmentos de rua com um instrumento de observação sistemática em 3 seções (Rotas, Segmentos e Cruzamentos) no raio de 500 metros ao redor de 30 escolas estaduais. Os dados de renda foram obtidos do Censo Demográfico de 2010, e a distância de cada escola até o centro da cidade foi calculada. Deslocamento ativo foi caracterizado como aquele relatado para a escola a pé, ou com veículo de propulsão humana. Modelos multiníveis foram aplicados na análise, com estimativas de médias ponderadas e correlações intraclasse. Na análise bruta a maior variabilidade do ambiente entre as escolas foi observada na seção Segmentos (ICC=0,41) e menor na seção Rotas (ICC=0,19). Os segmentos de ruas localizados no entorno de escolas do primeiro tercil de renda alcançaram uma média ajustada de 15,6 (IC95% 13,0 - 18,3) pontos no escore da auditagem, quase metade daqueles de renda maior, em que o escore foi de 30,7 (IC95% 28,0 - 33,5), com diferença significativa entre os tercis (p < 0,001). O escore das áreas mais próximas do centro foi 30,1 (IC 95% 26,9 - 33,4), significativamente maior (p < 0,001) se comparados àquelas mais periféricas, em que a pontuação foi 16,3 (IC 95% 12,8 - 19,8). Foram avaliados 1.232 estudantes, sendo 51,2% do sexo masculino. A prevalência de deslocamento ativo foi de 53,6% (IC95% 50,6 - 56,4). A análise bruta indicou menor chance de se deslocar ativamente em áreas com maior pontuação na auditagem de ruas (OR 0,20 IC95% 0,07 - 0,57) e maior renda (OR 0,10 IC95% 0,04 - 0,22). Na análise ajustada, com a inclusão da renda, a associação com o escore total da auditagem perdeu a significância estatística. A distância percebida no trajeto casa-escola, se manteve associada com o deslocamento ativo, mesmo após todos os ajustes. Quando comparados os alunos que declaram residir até 10 minutos de distância da escola àqueles em que o tempo estimado foi superior a 30 minutos a chance de usar transporte ativo (OR=0,02 IC95% 0,01 - 0,05) foi significativamente menor. A pior qualidade do ambiente construído nos entornos escolares de menor renda e afastados do centro indica iniquidades na distribuição dos atributos da microescala pedestre. Este estudo pode contribuir para o desenvolvimento de políticas urbanas mais equânimes e que tornem o deslocamento ativo uma opção natural, adequada e segura a todos, e não mediada apenas pela condição socioeconômica. O conhecimento da realidade local pode subsidiar a formulação de políticas orientadas para melhorar a qualidade do desenho urbano nas cidades brasileiras, dada a forte relação entre o ambiente e a saúde. Abstract: The aim of the study was to investigate the relationship between the distribution of the characteristics of the built environment related to physical activity with income in school areas and its association with the use of active commuting to school among adolescents from Curitiba, Paraná. 888 street segments were audited with a systematic observation instrument in 3 sections (Routes, Segments and Crossings) within a radius of 500 meters around 30 state schools. Income data were obtained from the 2010 Demographic Census, and the distance from each school to downtown was calculated. Active commuting was characterized as that reported on foot, or with human propulsion vehicle. Multilevel models were applied in the analysis, with estimates of weighted averages and intraclass correlations. In the crude analysis the greater variability of the among schools áreas was observed in the Segments section (ICC = 0.41) and smaller in the Routes section (ICC = 0.19). The street segments located around schools in the first tertile of income reached an adjusted average of 15.6 (95% CI 13.0 - 18.3) points in the audit score, almost half of those with a higher income, in which the score was 30.7 (95% CI 28.0 - 33.5), with a significant difference between the tertiles (p <0.001). The scores of the areas closer to the downtown were 30.1 (95% CI 26.9 - 33.4), significantly higher (p <0.001) than those that were more peripheral, where the score was 16.3 (CI 95% 12.8 - 19.8). 1,232 students were evaluated, being 51.2% male. The prevalence of active commuting was 53.6% (95% CI 50.6 - 56.4) The crude analysis indicated a lower chance of actively moving in areas with higher scores in street auditing (OR 0.20 IC95% 0.07 - 0.57) and higher income (OR 0.10 IC95% 0.04 - 0, 22). In the adjusted analysis, with the inclusion of income, the association with the total audit score lost statistical significance. The perceived distance on the home-school path, has remained associated with the active commuting, even after all adjustments. When comparing students who declare residing up to 10 minutes away from school to those in which the estimated time was over 30 minutes the chance of using active commuting (OR = 0.02, 95% CI 0.01 - 0.05) was significantly smaller. The worse quality of the environment built in the lower income school environments and away from the center indicates iniquities in the distribution of pedestrian microscale attributes. This study can contribute to the development of more equitable urban policies and that make active displacement a natural option, adequate and safe for all, and not only mediated by socioeconomic status. Knowledge of local reality can support the formulation of policies aimed at improving the quality of urban design in Brazilian cities, given the strong relationship between the environment and health.
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