O trabalho de cuidado das mulheres em casas-lares

Abstract

Resumo: O foco da Tese está no trabalho de cuidado das mulheres chamadas de cuidadoras residentes que trabalham em casas lares localizadas no município de Curitiba- PR e administradas por Organizações Não Governamentais. A casa lar é uma modalidade de acolhimento que se enquadra no Nível de Proteção Social Especial de Alta Complexidade da Política Nacional de Assistência Social (PNAS) que tem o propósito de garantir a proteção integral como moradia, alimentação, higienização para as crianças e adolescentes que se encontram em situação de risco e foram retirados de seu núcleo familiar como medida de proteção e cuidado. Elas podem abrigar até 10 crianças e adolescentes de 0 a 18 anos, possuem estrutura semelhante a uma residência privada e sua organização se aproxima a de uma rotina doméstica. Dentre os motivos deste acolhimento institucional estão o abandono, negligência, pais e mães usuários de substâncias psicoativas, em privação de liberdade, portadores de transtornos mentais, moradores de rua, entre outros. Os cuidados diários e diretos das crianças e adolescentes ficam sob a responsabilidade de uma cuidadora residente. A pesquisa é de natureza qualitativa. As participantes são mulheres que trabalham e residem nas casas lares. O instrumento para coletar as narrativas foram as entrevistas semiestruturadas e os registros feitos durante as "rodas de conversa" com cuidadoras de diferentes casaslares e ONGs, trabalho de campo realizado em temporalidades diferentes. As narrativas foram analisadas e discutidas com base no referencial de teóricas feministas que pesquisam o cuidado. O objetivo geral da tese se apresenta em analisar a entrada das mulheres cuidadoras nas casas lares, como esse cotidiano de cuidado constrói as experiências dessas mulheres e qual o significado para elas desse trabalho de cuidar. A pesquisa mostrou que essas mulheres não conheciam como era o trabalho das cuidadoras na casa-lar. O trabalho se apoia na continuidade entre ser mulher e saber cuidar esperando que as experiências de cuidar como mães as preparem para o trabalho de cuidadoras. Essa continuidade e a falta de especialização dificultam o reconhecimento de qualificação. As cuidadoras sentem-se valorizadas e reconhecidas dentro dos espaços institucionais, porém, desvalorizadas e invisibilizadas pela sociedade. Elas acreditam que a responsabilidade das crianças acolhidas em casas lares não pode ser assumida somente pelas mulheres e pelas pessoas envolvidas no cuidado institucional, O cuidado precisa ser entendido como parte central da vida humana e que a responsabilidade do cuidado não fique somente para as pessoas próximas como familiares ou conhecidos, e sim, que a responsabilidade do cuidado democrático esteja na agenda de sociedades democráticas.

Abstract: The focus of this paper is on the professional activity developed by female caregivers who live and work in group foster homes (Casas Lar) which are managed by NGOs in the city of Curitiba/PR, Brazil. Fitting into the Special Social Protection Instance of High Complexity of the National Social Assistance Policy (PNAS) as a care provider unit, the group foster home aims to ensure full protection in terms of housing, food, hygiene for children and adolescents who are at risk and have been removed from their families as a measure of protection and care. Having a similar structure to a regular family house, the group foster home can accommodate up to 10 children and adolescents from 0 to 18 years old, and their organization is close to a domestic routine. Amid the reasons for this institutional care are abandonment, neglect, fathers and mothers who use psychoactive substances, deprived of liberty, people with mental disorders, or homeless people. The daily and direct care of children and adolescents is under the responsibility of a resident caregiver. The research is qualitative in nature. The participants are women who work and reside in group foster homes. The instrument to collect the narratives were those identified as semistructured interviews and the records made during the "conversation circles" with caregivers from different group foster homes and NGOs, fieldwork carried out in different frames of time. The narratives were interpreted and discussed based on the framework of feminist theorists who research care. The general objective of this paper is to analyze of these caregivers' entry into group foster homes, as well as how this place builds their career experience in their daily lives and what this work means for them. The survey showed that these women actually did not know of what consisted the caregivers' work. The activities performed in this job are mostly based on the continuity between being a woman and knowing how to care, hoping that the practice of caring as mothers should prepare them for the work as caregivers. Owing to this reliance on continuity and the lack of specialization, it is hard for these professionals to have their qualifications recognized. While they feel valued and acknowledged within institutional spaces, they perceive themselves underestimated and unnoticed by society. It is their belief that the caregivers and staff involved in institutional care cannot be the only ones held accountable for the admitted children, as human care is paramount for human life itself. Neither should this responsibility fall solely on children's family members nor acquaintances. Democratic care should be on the agenda of democratic societies.