Audiência pública da Comissão Estadual da Verdade na cidade de Londrina, nas dependências da UEL no dia 07/08/2014
Abstract
Para dirigir os trabalhos deste dia a mesa foi composta pela Drª Ivete Caribé da Rocha, Drº Olympio de Sá Sotto Maior Neto do Ministério Público, a Srª Desembargadora Maria Aparecida do Tribunal de Contas e Márcio Kieler representante sindical da CEV. Antes de iniciar as oitivas o Professor e médico José Luis da Silveira Baldy pede licença para se manifestar e faz algumas referências históricas, relatando como era no período da Ditadura Militar na UEL e entrega a Comissão um artigo escrito por ele.
ASCENCIO GARCIA LOPES – Depoente, Reitor da UEL entre 1970-1974. Relata que apesar dos tempos difíceis conseguiu que a sua administração ficasse longe das questões ideológicas. Também ficou surpreso que tinha sido monitorado pelo DOPS até 1980. No seu período de reitor foram contratados professores da USP que tinham ficha no DOPS, os professores Samoel Pessoa e Hélio Lourenço de Oliveira. Cita ainda a contratação da Professora Nitz Jacon para fundar o Centro de Artes e do Professor Nelson Rodrigues que era seu secretário. Conta que a administração do seu sucessor Professor Oscar Alves, contratou um militar do Rio de Janeiro, Coronel Passerino Moura que perseguiu professores e criou a Assessoria de Informações que atuava também fora dos muros da universidade. Quem cuidava desta Assessoria era o Sargento Raul Silva.
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TSUTOMU NHIGASHI – Depoente, Professor de Medicina da UEL até 1975.
Foi demitido na administração de Oscar Alves, ele eliminou os departamentos que não gostava. Até hoje é indignado com o que lhe sucedeu. Uma vez que não era militante. Quando chegou do dia da defesa da sua tese de Doutorado, o edital da defesa havia sido cancelado e no seu lugar tinha o edital de sua demissão. A administração começo a demitir professores sem nenhuma justificativa. Foi fichado no DOPS, mas nunca foi chamado para investigação alguma o monitoram até 1980. Por estar fichado no DOPS, apesar de ter passado em Concurso Público não pode assumir, foi negado a licença para abrir um laboratório em Londrina. A sua vida profissional foi interrompida. Ressalta que Oscar Alves, genro de Ney Braga Ministro da Educação na época. Em 1979 o Departamento de Medicina faz uma greve, porém os demais departamentos não aderiram. Tenho muita magoa daquela época e tem que dizer o nome de quem usou de nepotismo e prejudicou as pessoas. “Quem era a favor da ditadura naquela época”.
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JOSÉ LUIS DA SILVEIRA BALDY – O Depoente foi Professor na UEL de 1971-2007. Teve militância política na cidade de Londrina. Vem pra Londrina, porque estava citado em três processos em São Paulo, sempre foi uma pessoa de esquerda. Na sua visão a Universidade de Londrina tem duas fases no período da Ditadura. 1970-1974 com a administração do Dr. Ascênsio, o qual foi um grande conciliador e manteve distância das influencias da Ditadura. E depois administração de Oscar Alves -1974-1978, quando se dá instalação da Ditadura Militar na UEL, cria-se a Assessoria de Informação dentro da Universidade. De 1978-1982 o reitor é o Sr. José Carlos Pinotti, executou tudo o que tinha sido preparado em anos anteriores, houve grandes punições. Em 1979, logo que assume demite 5 professores da área de medicina. Há a primeira greve no Hospital Universitário que dura 37 dias. O quartel general da greve era na Associação Médica de Londrina. Apesar de todos os esforços para sermos atendidos nas nossas reivindicações, não conseguimos nada, neste momento sentimos o peso da Ditadura Militar. O que foi feito na UEL, não foi feito por principiantes, o conselho universitário era formado por escolhidos do Reitor. A Ditadura Militar além de podar o ensino e a pesquisa, não formou novas lideranças. – Relata também as três vezes que foi depor no DOPS, mas nunca foi torturado fisicamente.
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CLARICE VALENÇA - Professora chega a Londrina em 1936. Era filiada ao PTB. Conta sobre a sua prisão em Apucarana durante dois meses. Foi presa diante dos seus alunos, depois a levaram pra casa para comunicar os pais que ela estava presa. Foi tortura e ficou incomunicável. Além do fuzil na cabeça, a comida que lhe ofereciam era toda revirada e dentro de um balde/latão onde seguravam a sua cabeça para eu ela confessasse seu crime. A sua prisão deu-se pelo fato da polícia tê-la confundido com a loira que assaltou um banco junto com o Marighela. O militar que a interrogou a intimou fazer o concurso da Polícia Federal na qual passou e nunca assumiu. Também estavam presos em Apucarana o vereador de Mandaguari Jair Ramos Valença, Manoel Jacinto, Arno de Rolândia, Dr. Flávio Ribeiro e Amadeu Geneci. Quando voltou para escola foi posta para trabalhar na biblioteca o que não gostava por ser um serviço burocrático. Então foi estudar música para dar aulas de canto na escola. Estavam presos também vários estudantes de Maringá. Entrega vários documentos à Comissão da Verdade.
O segundo dia de oitivas foi realizado nas dependências da UEL, é feita a abertura dos trabalhos, onde falou o Professor Sérgio Carvalho representante da reitora da UEL, a Professora Ana Paula Bracarense, Antes de iniciar as oitivas, foi exibido um filme sobre a Ditadura Militar, a luta pelas Diretas Já e a Justiça de Transição. O Professor Norton, destaca a importância da UEL e o Norte do Paraná na resistência à ditadura.
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- Violência de estado [390]
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